Dinheiro no colchão, no cofre do escritório ou na gaveta da cômoda. Em tempos de inflação, deixar o capital parado significa perder poder de compra com o passar do tempo. Com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de junho, a taxa oficial do país, acumulado em 8,35% em 12 meses, e a taxa Selic 4,25% ao ano, o investidor precisa ficar atento para não desperdiçar rendimentos.
De acordo com Leandro Rassier, educador financeiro e professor da PUCRS, as aplicações mais seguras para proteger os investimentos da corrosão do poder de compra são aquelas de renda fixa, como um CDB, indexadas ao índice de alta de preços.
— Essa é a única aplicação que realmente te protege do efeito da inflação — afirma, prosseguindo:
— Um exemplo é um título público que paga o IPCA mais uma taxa de 3,5% ao ano.
A sócia fundadora e diretora-geral da ParMais Gestão Patrimonial, Annalisa Blando Dal Zotto, reforça o entendimento comum de que deixar o dinheiro parado em uma aplicação como a poupança, por exemplo, significa perder poder de compra. A planejadora financeira destaca que a caderneta não tem reajuste pela inflação. Além disso, essa modalidade de investimento fica ainda menos vantajosa quando a taxa de juros está baixa, porque paga 70% da Selic. É uma conta que fecha contra o investidor, e ela mostra o porquê:
— Como estamos com um período de inflação alta e a taxa de juro está em 4%, o investidor acaba perdendo poder de compra no longo prazo.
Apesar de haver uma tendência de alta na taxa básica de juro, como ferramenta para conter o avanço da inflação, Annalisa aposta nos fundos multimercado como alternativa para os investidores que procuram uma rentabilidade maior.
— Eles têm volatilidade, mas são uma boa alternativa se você tem um horizonte de tempo para deixar o dinheiro aplicado. No curto prazo, os ativos podem perder valor — afirma.
A incerteza, aliás, deve ditar os rumos nos próximos meses. Com um cenário conturbado do ponto de vista político e uma pandemia que ainda não foi totalmente superada, a expectativa é de nervosismo no mercado financeiro.
— Daqui para a frente, nós teremos muita volatilidade do mercado de renda variável por conta das eleições. Isso vale para o segundo semestre de 2021 e, também, para 2022 — projeta o professor Rassier, da PUCRS.
De julho a setembro, ele acredita que as aplicações de renda fixa pré-fixadas e também as atreladas à inflação, que pagam IPCA mais taxas, são uma boa opção. Para o investidor conservador e até mesmo para o mais moderado, existe uma janela de disponibilidade de produtos de renda fixa que estão rendendo bem melhor do que no ano passado, acrescenta.
Reserva de segurança
Antes de buscar a melhor rentabilidade, os analistas e especialistas em investimentos são unânimes em destacar que é preciso ter uma reserva de segurança. Esse valor equivale a cerca de três a seis meses de despesas mensais da família e deve ser aplicado em investimentos de baixo risco e com alta liquidez.
— Antes de começar a investir, é importante ter uma reserva de emergência. A partir daí, você vai buscar um portfólio de aplicações para ter maiores rendimentos — avalia Gustavo Pitta, professor da Xpeed School.
De acordo com ele, o brasileiro culturalmente não tem o hábito de guardar dinheiro, o que ficou ainda mais latente durante a pandemia. E formar uma reserva financeira é justamente para momentos como os de crises sanitária e econômica, diz.
Pitta destaca também a importância de o investidor ter clareza nos objetivos.
— Geralmente as pessoas procuram saber o que está rendendo mais e querem investir. Antes disso, é preciso entender sonhos, metas. Antes de se perguntar onde investir deve se perguntar por que investir — pondera o professor.
Na ponta do lápis
Confira uma simulação de rendimentos com o histórico recente de diferentes produtos:
- Valor investido: R$ 1.000
- Início: 01/01/2015
- Final: 30/06/2021
- Prazo (anos): seis
Investimento: Poupança
Valor acumulado (R$): 1.399,21
Variação (%): 39,92%
Investimento: CDB 100% CDI
Valor acumulado (R$): 1.665,04
Variação (%): 66,50%
Investimento: Tesouro Selic
Valor acumulado (R$): 1.666,08
Variação (%): 66,61%
Investimento: Carteira risco moderado
Valor acumulado (R$): 2.099,03
Variação (%): 109,90%
Investimento: Ações (Ibovespa)
Valor acumulado (R$): 2.623,17
Variação (%): 162,32%
Fonte: ParMais Gestão Patrimonia
* Reportagens de Júlia Pitthan, Pedro Henrique Pereira e Jacson Almeida