Um dos maiores desafios dos brasileiros nos últimos meses tem sido economizar na hora das compras no supermercado. A reportagem de GZH esteve em dois estabelecimentos do bairro Rubem Berta, na zona norte de Porto Alegre, e constatou que comer em casa está mais caro. Uma unanimidade entre os consumidores é a disparada do preço do arroz, do feijão e do óleo de soja. As carnes - especialmente frango, porco e cortes mais básicos de bovinos - tiveram aumentos superiores à média da inflação.
O proprietário do mercado Tavares, localizado na Avenida Bernardino Silveira Amorim, tenta encontrar os melhores preços negociando direto com os fornecedores. À frente do negócio há oito anos, Manoel Batista Cardoso conta que chega a receber até 50 vendedores ao dia e está cada vez mais difícil encontrar valores que não pesem tanto ao consumidor final.
— O preço bom funciona com a gente apertando o fornecedor. Há pouco tive que mandar dois embora por conta do preço fora da realidade. Um era de água e outro de álcool gel e não valia a pena porque o valor final ficaria muito alto. O jeito é tentar negociar para conseguir o melhor preço para o cliente — conta.
Seu Batista, como é conhecido pelo bairro, permanece na entrada do estabelecimento observando o movimento e recebendo os clientes. Segundo ele, a principal reclamação é em relação ao preço da carne.
— A carne é o mais delicado, uma verdadeira bolsa de valores que sobe e desce a cada dia. Além disso, de maneira geral, não compensa fazer estoque de produtos porque o dinheiro acaba ficando parado. Essa oscilação faz com que fiquemos apreensivos com os valores que ainda virão — analisa.
De acordo com o escritório regional do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), em junho deste ano, o consumidor gaúcho desembolsou R$ 642,31 para levar para casa alimentos básicos. O montante equivale a 63% do salário mínimo vigente.
O alto preço de itens essenciais na mesa do brasileiro assusta cada vez mais o consumidor final. Em uma das gôndolas do mercado, a auxiliar de serviços gerais Clauri Azambuja, 63 anos, analisa os valores e tenta encaixar os produtos no seu orçamento.
— O pobre vive porque é teimoso. Os preços do jeito que estão faz com que fique cada vez mais difícil para nós. Eu gosto de produtos naturais, como bastante legumes e prefiro a carne de frango, que está mais em conta. Você viu o preço do arroz, do feijão e do óleo de soja? — desabafa em tom de indignação.
Segundo a economista Daniela Sandi, do Dieese/RS, esses itens tiveram grandes reajustes no último ano: feijão (37,61%), arroz (53,25%) e óleo de soja (98,57%).
O gerente de outro supermercado da região conta que muitos consumidores estão buscando maneiras para substituir produtos e compensar a escalada nos preços das carnes e dos ovos.
— A carne de porco acaba sendo mais em conta do que um guisado de carne moída, por exemplo. Os empanados de frango e bifes de hambúrguer também se tornaram uma alternativa para quem não tem condições de comprar a carne bovina — conta Cristiano Lopes, do mercado Dois Irmãos.
Na fila do açougue, a aposentada Nara Regina Goulart, 66 anos, ficou surpresa com o preço do quilo da carne moída de segunda: R$ 22,99.
— A vida está muito cara e eu não consigo entender o motivo. Muitas pessoas estão passando dificuldades, desempregadas... como viver? Acabei pedindo meio quilo de guisadinho e uma linguiça para dar um gosto na lentilha — contou.