O professor de finanças André Massaro explica que os setores sobreviventes da pandemia vivem bom momento. Mas, assim como os investimentos tradicionalmente seguros, podem sofrer impacto da alta de preços, que nem sempre é repassada ao consumidor final.
Quais setores estiveram em alta na pandemia e como eles se comportam a partir de agora?
Uma resposta óbvia para isso seria o varejo. Principalmente o online, mas também o convencional. Só não teve desempenho maior por causa da inflação. Cada grande supermercado que passou pela pandemia tem cenário livre daqui para a frente, pois diversas lojas de bairro fecharam. Logística também, até por estar altamente vinculada com varejo online. Muitos analistas diziam que as ações do governo durante a pandemia favoreceriam grandes empresas e matariam as pequenas no futuro. Pode acontecer. Para quem é empreendedor ou consumidor, isso é terrível. Já o investidor deve ser mais pragmático, buscar oportunidades.
É interessante que o investidor coloque a inflação no primeiro lugar da sua fila de preocupação
ANDRÉ MASSARO
Professor de finanças
Com a retomada gradual da economia a partir da vacinação, deve haver aumento de pessoas físicas na bolsa?
O que vai definir não é tanto a atratividade, mas o medo do próprio futuro. Muitas pessoas estão com medo. Talvez optem por continuar com liquidez por receio da própria situação financeira. Estamos em um momento peculiar e algumas pessoas já começam a questionar se está caro demais (o preço das ações). O pessoal geralmente corre para a renda fixa, mas também não está uma maravilha porque os títulos não estão dando segurança. Hoje não há oportunidade gritante em lugar nenhum.
E com a alta da taxa de juros, a renda fixa pode voltar a ser interessante?
Acho que a gente não vai voltar aos velhos tempos. A não ser que a inflação saia do controle e torne a renda fixa irresistível, mas é improvável. No entanto, alguns efeitos já são observados. Pequenos investidores começam a pensar em colocar as barbas de molho na renda variável, até em função da tributação de dividendos. Embora não tenha grande efeito na massa de investidores, criou uma certa animosidade com relação à renda variável.
Onde estão as boas opções de investimento?
O que quero chamar atenção do pessoal é com a inflação, a palavra maldita que está voltando. Não é só fenômeno brasileiro, é mundial. É interessante que o investidor coloque a inflação no primeiro lugar da sua fila de preocupação de investimentos e observe as que conseguem se defender melhor. Um exemplo óbvio é o varejo. O setor bancário também se defende razoavelmente bem. Eu garimparia, agora, com foco na inflação, motivo maior de estresse neste momento.
Vamos observar muito o consumo de vingança agora, para tirar o atraso do período de pandemia
ANDRÉ MASSARO
Professor de finanças
E as ações defensivas, que não correm grandes riscos?
O problema é que elas tendem a ser mais frágeis contra a inflação. Se pegar as de infraestrutura, energia, são defensivas porque todo mundo precisa consumir. Mas exatamente por isso esses setores têm uma mãozinha um pouco pesada do governo.
De onde pode vir uma boa surpresa?
Está tudo muito nebuloso porque não sabemos se vamos ter um novo normal. Se tivéssemos certeza eu cogitaria turismo, eventos, aqueles setores mais afetados. Vamos observar muito o consumo de vingança agora, para tirar o atraso do período de pandemia. No curto prazo a gente poderia pensar assim. Além disso, existe um tabu com companhias aéreas porque é um setor complicado. Mas neste momento, para alguém que queira fazer alguma coisa de linha mais especulativa, poderia ser interessante. Poderia, porque se alguém me perguntar… De jeito nenhum. Eu, não.
* Textos de Júlia Pitthan, Pedro Henrique Pereira, Leonardo Gorges e Jacson Almeida