Após a tempestade de 2020, ano em que o índice Ibovespa, da B3, acumulou alta de apenas 2,92% e primeiro trimestre balizado por novas trovoadas, houve ventos favoráveis na bolsa de valores. A soma do valor de mercado das 23 companhias gaúchas negociadas na B3 alcançou a marca de R$ 141,4 bilhões em 30 de junho – uma elevação de R$ 23,9 bilhões no primeiro semestre, ou 20,3% de alta sobre os R$ 117,5 bilhões do fechamento de 2020, segundo dados da Economatica, produzidos pela Fundamenta Investimentos.
O indicador é obtido com a multiplicação do preço da ação pela respectiva quantidade em circulação. É considerado por analistas um bom referencial de quanto os investidores estão dispostos a pagar por uma empresa, com base na lei da oferta e da procura.
Como fator geográfico pouco diz sobre os desempenhos, o avanço desses ativos reflete a condição setorial em que cada um está inserido. No caso, duas variáveis influenciam diretamente a percepção: câmbio e retomada da economia.
Entre as maiores altas, estão Panatlântica, Habitasul e Minupar. As três, conforme explica a sócia da Fundamenta Investimentos, Laís Martins Fracasso, são consideradas fora da curva pela baixa liquidez de suas negociações.
Assim, a melhor performance é verificada no segmento chamado de consumo não-cíclico. Com acréscimo de 74,8%, passando de R$ 6 bilhões, para R$ 10,6 bilhões no período, a divisão reúne SLC Agrícola, Josapar, Minupar e Excelsior – única a apresentar baixa.
Em seguida, vem os materiais básicos, com oscilação positiva de 27,4% e R$ 52,4 bilhões em valor de mercado, na soma de Gerdau, Celulose Irani e Panatlântica. Já nos bens industriais, os altos e baixos de Kepler Weber (70,2%), Taurus Armas (68,6%), Marcopolo (17%), Randon (-8,5%) e Recrusul (-22,3%) sustentam crescimento de 16% para o segmento que possui 11,8 bilhões em valor de mercado.
Ao passar os olhos pelos agrupamentos, André Trein, sócio da Bateleur, identifica os papéis mais expostos à dinâmica do dólar. Segundo ele, este é um componente relevante nos resultados de Gerdau, Planatlântica, Taurus, Irani, Kepler Weber e SLC Agrícola.
Kepler Weber e SLC, diz Trein, receberam incentivo extra pelo aumento mundial na demanda por commodities agrícolas. Gerdau, afirma, surfa onda excelente na metalurgia, tanto em preços do minério de ferro quanto na oferta para a construção civil.
– Todas têm resultados impactados positivamente e apresentam os melhores desempenhos em 12 meses – avalia.
Por outo lado, avalia Trein, as siderúrgicas do polo metalmecânico de Caxias do Sul, como Randon e Marcopolo, ficam fora do processo. Isso ocorre porque, embora tenham níveis de exportação, atendem em maior volume ao mercado interno e foram muito afetadas pelos efeitos da pandemia na produção.
Analista de investimentos da Geral Asset, Lucas Oliveira da Silva, por sua vez, faz um recorte para a Irani Celulose. A empresa costumava ser ignorada pelo mercado, mas, em 2020, fez relançamento de ações no Novo Mercado da B3 – segmento que abrange os melhores índices de governança da bolsa.
A estratégia foi pensada para financiar o projeto de extensão chamado de Plataforma Gaia. A meta é ampliar a produção de celulose, embalagens de papelão e biomassa para gerar energia própria até 2023. A companhia também se beneficia do aumento do consumo no setor de alimentos e de vendas em supermercados e delivery.
Outra companhia destacada por Silva é a Taurus, que há poucos anos enfrentava problemas financeiros em razão de endividamento e defeito identificado em uma de suas armas lançada nos EUA. Mas, desde 2020, registra um "boom" de vendas naquele país, que representa 85% dos resultados da empresa.
Retomada mais lenta no varejo
No grupo do consumo cíclico – que reúne Renner, Grazziotin, Grendene, construtora Melnick, indústria têxtil Pettenati e moveleira Unicasa –, a retomada é mais lenta. A soma do valor de mercado destas companhias chega a R$ 51,3 bilhões, com variação de 14,3% no semestre. No entanto, afirmam os analistas, é preciso ponderar o ritmo em cada caso.
Para as varejistas, o panorama é de melhora. São empresas que têm por característica a exposição maior em shopping center. Para elas, explica a sócia da Fundamenta Investimentos, Laís Martins Fracasso, as restrições de horário de funcionamento e circulação durante a pandemia gerou peso aos resultados financeiros.
Nesse contexto, o primeiro trimestre de 2021, comenta Laís, foi o pior momento, mas o cenário dá pistas de mudança. Com o avanço da vacinação e a retomada da segurança do consumidor, a Renner, por exemplo, já exibe alta de 14,8% em seu valor de mercado nos primeiros seis meses. Grazziotin, por sua vez, teve leve retração de 2,9%.
O desempenho, abaixo da média do Ibovespa (subiu 6,54% nos primeiros seis meses), não se repete quando o foco são outras empresas do mesmo setor de consumo, mas com perfil mais voltado à indústria. É o caso de Grendene e Pettenati, que demonstram altas de 19% e 54% em seus valores de mercado.
Já a farmacêutica Dimed (Panvel) chama atenção pela baixa de 2% em seu valor de mercado no período. Mas, o sócio da Bateleur André Trein explica que a empresa performou bem em 2020, quando o setor esteve em evidência e se beneficiou muito do aumento na demanda por alguns medicamentos.
A Panvel, diz Trein, foi bastante ágil na adaptação ao novo ambiente, com a oferta de serviços e testes rápidos relacionados com a pandemia. Por isso, a retração indica adaptação após o desempenho positivo do ano passado.