Com o aval conferido pelo Ministério da Saúde nesta terça-feira (27) para vacinar adolescentes contra a covid-19, o Rio Grande do Sul poderá vacinar 85% de toda a sua população. A ampliação do público apto a receber um imunizante deve auxiliar para a conquista da imunidade coletiva, quando entre 70% e 75% da população tiver recebido as duas doses, uma projeção para controlar a pandemia.
A inclusão dos adolescentes e o aval para aplicar a segunda dose da AstraZeneca e da Pfizer em três semanas em vez de três meses são dois esforços do Ministério da Saúde para evitar uma nova onda da pandemia causada pela variante Delta, altamente transmissível. Não há previsão de vacinação no Rio Grande do Sul ainda, segundo o governo do Estado.
Cálculos da Secretaria Estadual da Saúde (SES) apontam que há 862.658 jovens de 12 a 17 anos no Rio Grande do Sul. Descontados os 43.133 com comorbidades que já podem se vacinar em solo gaúcho desde a semana passada, a expectativa é de que 819.525 mil adolescentes sem doenças crônicas estejam aptos a se vacinar no Estado com a liberação do governo federal.
Com a inclusão desse novo grupo, o Rio Grande do Sul amplia a população apta a se vacinar – passando de 8.931.116 para 9.750.641 gaúchos vacináveis. Agora, 85,3% de toda população do Estado está liberada para receber um imunizante no braço.
— Mesmo que alguns recusem a vacinação, com mais pessoas se vacinando atingiremos, em algum momento, a imunidade de rebanho. Vacinar uma parcela adicional de pessoas que têm grande contato social é muito importante. Quanto mais rapidamente ampliarmos a cobertura, mais rapidamente controlaremos a epidemia. Estamos nos dirigindo para o fim da epidemia — analisa o médico Alessandro Pasqualotto, chefe da Infectologia da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre e professor da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA).
No Brasil, a vacina da Pfizer é a única liberada para aplicação em adolescentes. Mas o cenário pode mudar no futuro: a farmacêutica estuda a aplicação em crianças de cinco a 11 anos. Além disso, estudo feito com a CoronaVac na China mostrou que o imunizante é seguro e eficaz para aplicação em crianças dos três aos 17 anos. A análise foi publicada neste mês no periódico The Lancet Infectious Diseases.
Analistas destacam que adolescentes, apesar de terem menor risco para o coronavírus, podem contribuir para a disseminação viral por conta dos encontros sociais, típicos da idade, e pela presença em sala de aula. Imunizá-los serve, portanto, para bloquear a transmissão da covid-19 entre diferentes "bolhas".
— Apesar de adolescentes apresentarem menos sintomas e risco, teremos essa população imune e com menor chance de serem potenciais transmissores a professores ou familiares. Assim, paramos mais efetivamente a cadeia de transmissão da covid e teremos cada vez mais espaços seguros para retomar nossos hábitos — afirma Cezar Riche, médico infectologista do Hospital Mãe de Deus.
Contatada pela reportagem, a Secretaria de Estado da Saúde do Rio Grande do Sul (SES-RS) afirmou que ainda não há previsão para o início da vacinação de adolescentes sem comorbidades.
A pasta também não mencionou se a oferta será dada logo após o fim da aplicação da primeira dose em adultos, estimada para 7 de setembro, ou se haverá intervalo maior em função da necessidade de aplicar a segunda dose em adultos.
Em São Paulo, o governador João Doria, rival de Eduardo Leite nas prévias para concorrer à Presidência pelo PSDB, anunciou que a primeira dose em todos os adultos paulistas será aplicada até 16 de agosto e que a vacinação de adolescentes será em 18 de agosto – antes, os jovens começariam a receber imunizantes em 23 de agosto. A antecipação ocorre porque o Palácio dos Bandeiras comprou 4 milhões de doses da CoronaVac que já chegaram e foram distribuídas para adultos.
Diferentemente de São Paulo, o Rio Grande do Sul começou a vacinar adolescentes com comorbidades desde a semana passada, a despeito de o Ministério da Saúde não ter dado o aval. A liberação do governo federal permite a inclusão, em território gaúcho, de jovens sem doenças crônicas.
— Os adolescentes têm uma tendência, pela idade, a se encontrar e ter maior interação social. Com a abertura das escolas, acabam se aglomerando, apesar das regras rígidas nas aulas. Vacinar adolescentes protege para que haja menos surtos nas escolas. Está provado que adolescentes contaminam mais do que crianças jovens. A variante Delta está entrando no Brasil e tem alto potencial de transmissibilidade. É muito importante que a maior parte da população esteja vacinada. Isso faz uma barreira para evitar um novo pico de doentes — afirma Benjamin Roitman, médico e membro da diretoria da Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul.