Oi, sumido! Já recebeu ou mandou essa mensagem para alguém durante o período de distanciamento social? O tempo a mais em casa tem feito muita gente reavaliar suas relações - inclusive, as passadas. Mas quando vale a pena insistir em um relacionamento amoroso que já havia terminado? E o quanto o contexto de pandemia pode influenciar essa decisão?
Para a psicóloga e terapeuta de casal Tatiana Perez, que administra o perfil @tatiperez.br no Instagram, durante a pandemia estão acontecendo dois movimentos nos relacionamentos: de aproximação e de afastamento. Casais com histórico de problemas não resolvidos estão optando por se separar, enquanto aqueles que já tinham vontade de dar um passo a mais na relação estão se aproximando — inclusive, alguns tomaram a decisão de morar juntos.
Sobre o "fenômeno" de voltar com o (a) ex durante o período, Tatiana reflete que, em situações de crise, nas quais nos sentimos inseguras, como é o caso da pandemia de coronavírus, é natural buscarmos um "porto seguro". E reatar uma relação antiga pode ser uma forma de retornar a algo conhecido — e não necessariamente bom.
— As pessoas pensam: "Ah, não era bom, mas eu conheço, sei como é me relacionar com aquela pessoa, confio de alguma forma", principalmente neste momento de cuidado com a saúde. De repente, a pessoa volta por uma questão de zona de conforto mesmo. Agora, se isso vai ser por um motivo de carência, ou se vai ser por se dar conta que "meu conforto era com aquela pessoa", cada caso será um caso — avalia.
Quando é melhor nem cogitar a volta?
Tatiana dá a dica: se bateu a dúvida, faça uma lista com todos os motivos que fazem você querer reatar o relacionamento. Depois, liste também os motivos que influenciaram o término da relação.
O relacionamento fazia a sua vida ser melhor? Se a resposta for não, não volte de jeito nenhum.
TATIANA PEREZ
psicóloga
— Provavelmente, o que faz com que você queira voltar é o mesmo que fez com que você tenha terminado. Por exemplo: "Preciso de segurança". E daí você percebe que se sentia insegura no relacionamento — aponta ela.
Para a psicóloga, é preciso responder a uma pergunta básica antes de decidir voltar: o relacionamento fazia a sua vida ser melhor? Se a resposta for não, não volte de jeito nenhum, aconselha. Relacionamentos, necessariamente, precisam proporcionar qualidade de vida.
— Precisamos lembrar que somos inteiros. O relacionamento não é algo que vai preencher a sua vida, não é uma parte que falta, e sim algo que vai transbordar, vai fazer a vida ficar mais colorida, ser mais legal, mais bonita. É sobre ter alguém do seu lado encorajando você, apoiando, e você fazendo o mesmo por aquela pessoa. Se não for assim, não cogite voltar de jeito nenhum — aconselha.
Só amor não é suficiente!
Outro ponto crucial é quando você e seu ex se amam, mas simplesmente não conseguem fazer a relação funcionar. A profissional alerta: só o amor não sustenta. Um relacionamento precisa, além de amor, de confiança, segurança, respeito, diálogo, abertura e acolhimento.
E quando eu tenho certeza de que o amor acabou, mas identifico todas as outras características na relação? Tatiana afirma que, neste caso, o relacionamento passa a ser uma amizade. E a metáfora nem é tão boa porque, na amizade, ainda existe amor. Se a pessoa está cogitando reatar com alguém que não ama mais, é preciso identificar o motivo de desejar estar neste relacionamento outra vez.
— Provavelmente, é uma falta mais dela do que da relação, uma carência, e não tem a ver com o relacionamento. Daí também não é justo usar a outra pessoa para suprir uma falta que é totalmente dela — aponta a psicóloga.
Quando vale a pena investir na volta?
Quando o motivo do término foi algo que, olhando hoje, possa ser considerado pequeno, ou algo que tenha a possibilidade de ser reconstruído, recombinado entre o casal. A psicóloga pontua que muitas pessoas, na correria da vida cotidiana, acabam terminando relacionamentos no impulso sem, de fato, avaliar o que está fazendo a relação acabar. Às vezes, até por um julgamento externo, de amigos ou familiares, e não por uma vontade própria.
E é aí que entra o contexto da pandemia, já que, em casa, as pessoas estão se conectando mais com aquilo que faz sentido para elas - e, muitas vezes, reavaliando seus términos.
Mas a psicóloga alerta: essa vontade tem que partir de ambas as partes. Pode ser que, para um, o motivo do término tenha sido bobo, mas, para o outro, foi algo sério. Então, só cabe falar de uma reaproximação quando os dois desejam isso - se um não quer, não adianta forçar.
Como resolver as questões que levaram ao término?
A primeira coisa é entender o que aconteceu para que a relação terminasse. Depois, identificar o que precisa mudar para que o relacionamento não volte a ter os mesmos problemas de antes. Na opinião da psicóloga, é importante cada um se perguntar: "O que eu posso mudar em mim para mudar o que nos fez terminar?". Afinal, se as pessoas reatam um relacionamento - e os motivos que as fizeram terminar continuam presentes -, a tendência é que elas terminem de novo no futuro.
E, para isso, você vai precisar de muito (muito!) diálogo. Tatiana explica que, geralmente, as questões que levam aos términos são cruciais, porque falam dos valores pessoais de cada um. Por exemplo: uma pessoa era muito ciumenta e a outra valorizava a liberdade. Como resolver? Primeiro, entender qual é o "valor" por trás do motivo do término e como fazer ele ser presente na vida do casal.
— Se você valoriza liberdade e o que fez você terminar foi a falta dela, precisará de muito diálogo para ajustar isso no relacionamento. (Caso vocês reatem,) você possa voltar a se sentir livre e perceber que existe o valor da liberdade entre vocês, que houve uma mudança, uma concordância. Se isso não acontece, vocês vão ficar patinando de novo. A tendência é essa — explica a psicóloga.
Deu certo com elas!
Dê tempo ao tempo
A estudante de Engenharia de Alimentos Luiza Soares, de 26 anos, conheceu o namorado em 2010. Em 2015, tiveram o primeiro término, mas reataram em 2017. Porém, em março de 2019, acabaram novamente - e justamente o período de confinamento foi o maior tempo que ficaram sem se falar.
— Mas não sei por que o destino insiste em nos juntar sempre — diz.
Com a pandemia, as aulas da jovem na faculdade foram suspensas. Ela, que mora em Canoas, mas passa a semana estudando na Universidade Federal de Rio Grande (FURG), acabou ficando mais tempo na Região Metropolitana - e foi aí que a reaproximação com o ex teve início.
— Nunca houve a pergunta clichê do "vamos voltar", nós simplesmente fomos deixando levar, e agora estamos mais unidos do que nunca. Para mim, ter mais tempo para "se dedicar" ao relacionamento, e também ter mais de tempo para mim, me ajudou muito para entender que queria voltar com ele — conta.
Uma nova chance
A maquiadora Analú Santos, de 28 anos, também começou o período de distanciamento solteira - à época, havia terminado recentemente um namoro de oito meses. O casal brigava muito e não estava em sintonia, conta ela. Ficaram dois meses sem se falar. Depois de fazer terapia - e com o tempo de confinamento em casa -, Analú percebeu atitudes dela que costumavam ser motivo de reclamação do ex - mas que nunca havia dado ouvidos.
Foi quando resolver mandar um e-mail para ele e, a partir daí, retomaram o contato. Passaram um mês conversando como amigos. Depois de muito diálogo sobre as expectativas de cada um, decidiram tentar mais uma vez.
— Voltamos faz três meses e a nossa relação evoluiu muito. Acho que o período de isolamento ajudou, tanto para que pudéssemos pensar com mais clareza quanto para avaliarmos nossas prioridades — reflete ela.
E Analú está feliz e em paz com a decisão.
— Nunca fui muito crente em voltas, mas não me arrependo de ter dado outra chance para a nossa relação. A cada dia que passa, nos alinhamos mais e estamos conseguindo ser para o outro o que precisamos. Estou feliz com a nossa relação e, mais importante que isso, estou em paz — afirma.
*Produção: Luísa Tessuto