
Será que meu relacionamento tem futuro? Essa é uma das principais dúvidas que o psicólogo americano Gary W. Lewandowski Jr, professor na Universidade Monmouth (EUA), escuta dos pacientes em seu consultório.
Inspirando-se na Lista Keltner, um método americano usado para avaliar se um jogador de beisebol merece ter seu nome no Hall da Fama do esporte, Lewandowski elaborou uma lista com 15 perguntas, a fim de ajudar a resolver essa dúvida.
Segundo Lewandowski, não há nada de científico no "teste". A ideia é que cada um possa descobrir por si só se sua relação é benéfica ao seu bem-estar emocional. Mas você precisa responder honestamente.
Sim, relacionamentos são complexos e não há nenhuma garantia do que o futuro reserva. No entanto, é uma forma de refletir se sua relação lhe faz bem. Conforme o psicólogo, responder "sim" a estas questões, é sinal de que vale a pena investir.
Donna consultou a psicanalista e escritora Ariane Severo e a psicóloga e sexóloga Lina Wainberg, ambas especialistas em terapia de casal, sobre cada uma das 15 perguntas na lista proposta por Lewandowski.
– Não existem pessoas perfeitas, nem relacionamentos perfeitos. Nem esta lista pretende ser perfeita. A proposta é avaliar se estamos bem acompanhados para tentar uma relação tranquila e feliz – ressalta Ariane.
Confira abaixo as 15 questões comentadas por elas:
Seu parceiro faz de você uma pessoa melhor – e você faz o mesmo por ele?
– Quando vivemos entre dois, acabamos influenciando um ao outro, o que muda nossa identidade e subjetividade. Modificamos a nós mesmas e modificamos o outro, naturalmente, amorosamente – comenta Ariane.
Mas Lina pontua:
– Não acho que ninguém nos faz melhor. As pessoas podem facilitar para a gente ser alguém melhor. Mas esse processo é individual, tem que ser de dentro para fora, e não o contrário.
Você e seu parceiro estão confortáveis em compartilhar sentimentos, confiam um no outro, estão próximos?
– Uma relação íntima, madura e estável só consegue se desenvolver se a questão do comprometimento está bem estabelecida. A possibilidade de poder ser vulnerável, sem correr riscos, é importante. Mostrar seus defeitos, suas fraquezas. Uma relação que suporta vulnerabilidade é bem importante – considera Lina.
Você e seu parceiro se aceitam por quem são, sem tentar mudar um ao outro?
– Aceitar que o outro é diferente de mim o torna um ser autônomo. Se exigimos que o outro mude, não aceitamos que ele seja como é. Quero salientar que diferença não significa oposição. O propósito é suplementação. Onde há diferença, há vida. Aprender sobre o outro leva a conflitos, mas também oferece a possibilidade das decisões, aventuras e conhecimento – analisa Ariane.
Quando surgem divergências, você e seu parceiro se comunicam com respeito e sem desprezo ou negatividade?
– "Concordar em discordar" é uma frase que uso frequentemente. As pessoas têm histórias diferentes, demandas diferentes e vão compreender as coisas de forma diferente. Algo que é muito grave e intenso para um pode não ser para o outro. A gente tem que ter a nossa opinião respeitada, mas não tem que entender tudo sobre o outro o tempo todo – diz Lina.
Você e seu parceiro compartilham a tomada de decisões, de poder e influência no relacionamento?
– Uma das melhores coisas num relacionamento é poder dividir obrigações, prazeres, decisões, responsabilidades, ansiedades... Para isso é importante poder se colocar no lugar do outro. A competição sempre haverá, mas deve ser canalizada numa disputa para enriquecer a experiência da vida a dois, para construírem alternativas criativas e expandirem a cotidianidade. E, juntos, enfrentarem os maus momentos – destaca Ariane.
Seu parceiro é seu melhor amigo e você é dele também?
– Lembra da música Velha Infância? Precisamos de um colo, de um ombro amigo. Muito melhor se ele for o nosso amor. Mas necessitamos de outros amigos. Um amigo só é pouco. Penso que nesta pergunta está incluída a convivência harmoniosa e solícita. Poder sempre contar com o outro, ter confiança e companheirismo. Com meu amigo posso ser eu mesma – opina Ariane.
Liana discorda um pouco:
– Parece uma pergunta óbvia, mas eu sempre questiono o que é muito óbvio. Parceiro é parceiro. Existe um risco da relação se tornar terna demais. Mas a gente precisa de outros espaços, outras pessoas, outras opiniões. Depende do que se entende como "melhor amigo".
Você e seu parceiro pensam mais em "nós" em vez de "você" e "eu"?
– Esta pergunta é importante porque, num vínculo, o "nós" tem que estar em primeiro plano. Pessoas de funcionamento predominantemente narcisista são egocêntricas. Se pensamos na relação e não apenas no "eu", nos tornamos generosos, humildes, e recebemos em dobro pelo princípio da reciprocidade – considera Ariane.
– Discordo. A gente sempre tem que pensar na gente, mas, é claro, considerando o outro. Considerar as nossas necessidades primeiro, mas sem ignorar o outro. A nossa vontade tem que prevalecer e não pode haver uma luta de poder – opina Lina.
Você e seu parceiro confiariam um ao outro as senhas de redes sociais e contas bancárias?
– Não existe resposta única para essa questão. Alguns casais vão funcionar muito melhor cada um tendo a sua conta bancária e suas despesas, e outros que compartilham tudo. Há configurações variadas e não há certo e errado. O importante é ter espaço de autonomia e de individualidade – comenta Lina.
– O fato é que o dinheiro e a circulação dos bens são aspectos difíceis na maioria dos casais. Muitas vezes o que é despesa para um é investimento para o outro. Confiar no outro no que se refere a contas bancárias e dinheiro de família é muito importante – ressalta Ariane.
Você e seu parceiro têm boas opiniões um sobre o outro, se veem como boas pessoas?
– Num casal que se dá bem, um vai descobrindo o outro a cada instante, vendo-o de um modo particular. Sem exageros, como está na pergunta do professor Gary, sem idealizações excessivas, compensatórias. Mas, quando amamos, nosso parceiro é tudo de bom e de belo. Costumamos exaltar suas qualidades positivas e lidamos bem com o seu ponto fraco – explica Ariane.
– Ter uma visão idealizada sobre o outro não é saudável. Admiração é um aspecto fundamental, mas a coisa hipervalorizada, não – frisa Lina.
Seus amigos acham que você e seu parceiro têm um bom relacionamento durante a maior parte do tempo?
– A pergunta é "a maior parte do tempo", um detalhe muito importante. Se o casal consegue um clima emocional que se expande a ponto de serem reconhecidos como quem sabe levar bem a vida a dois, tornando-se até uma referência para os amigos, a resposta é sim – destaca Ariane.
Seu relacionamento está livre de maus sinais como traição, ciúme e comportamento controlador?
– O ciúme é um sentimento que nasce no amor. É produto do medo de que a pessoa amada prefira outra. Mas quando o autor fala "livre de ciúme e controle" significa livre de excesso, de patologia. Quando a dúvida se instala, segredos, mentiras, desconfiança, cinismo, perversões, estamos em outro terreno, bem distante da normalidade. Sem dúvida é necessário um marco de confiança – diz Ariane.
– As pessoas mudam, as necessidades mudam. E à medida que isso acontece, o relacionamento passa por uma nova reavaliação. Penso que aqueles casais que têm segurança completa, absoluta, não têm por que seduzir, por que conquistar. Se houver vontade de ter envolvimento com outras pessoas, isso deve ser compartilhado – analisa Lina.
Você e seu parceiro compartilham opiniões semelhantes quando se trata de política, religião, casamento, desejo de ter filhos (ou não)?
– Não acho que o casal tenha que concordar em tudo, mas é fundamental que se tenha algumas coisas em comum – comenta Lina.
– Afinidade em questões fundamentais costuma ser um ingrediente de sucesso. Diferença nestas questões vai exigir muito trabalho afetivo e psíquico para a dupla. Existem casais que lidam muito bem com alguns desses valores diferentes: um é ateu e o outro, muito religioso, um do Grêmio e outro do Inter... Mas, em matéria de política, vemos o estrago nas famílias. Quanto aos filhos, cresce o número de casais que buscam ajuda psicanalítica por esta questão – exemplifica Ariane.
Você e seu parceiro estão dispostos a sacrificar suas próprias necessidades, desejos e objetivos um pelo outro?
– Isso não deve ocorrer nunca de forma egoísta e sem pensar em como repercute no outro. Mas é importante poder ter liberdade para atender nossas necessidades – considera Lina.
– Nos casais que se dão bem, não há nem um, nem outro, é sempre "dois" ou "entre dois". Nos momentos de encontro, há um aprendizado em complementariedade com o outro. Há experiência física de satisfação e união emocional. O ser amado é um ser querido; tudo o que faço por ele me eleva e aumenta o amor. Não é sacrifício, concessão, submissão. É entrega, encantamento, acontecimento – acrescenta Ariane.
Você e seu parceiro são emocionalmente estáveis?
– Estabilidade emocional é sinal de saúde emocional. Existem escolhas que enlouquecem – afirma Ariane.
– Isso tem a ver com maturidade, o que leva a um relacionamento estável – considera Lina.
Você e seu parceiro são sexualmente compatíveis?
– Pergunta essencial. Envolve afinidade e intimidade. O casal pode, inclusive, acordar que as relações sexuais não são necessárias ou não ocorrerão por alguma impossibilidade. Neste caso há compatibilidade. Mas é bom destacar que o desejo está ligado ao erotismo. O coração é o órgão do desejo – pontua Ariane.
– Eu diria que devem ser ou sexualmente compatíveis ou que estejam se esforçando para isso. Quando a gente percebe que há esse empenho e preocupação, já é bastante importante – considera Lina.