Por Gabriela Loeblein, especial
Há quem diga que o dia a dia é o inimigo dos relacionamentos amorosos. Que não importa o quão avassaladora seja a paixão no início do namoro, ele acabará caindo na temida rotina.
Mas o casamento, ou simplesmente a decisão de duas pessoas morarem juntas, é mesmo fator determinante quando se fala na diminuição da frequência de sexo entre os casais? Donna conversou com especialistas e mulheres sobre o tema, a fim de tentar desmistificar esse assunto.
Para a psicóloga e terapeuta de famílias e casais Ana Paula Oliveira Freitas, a ideia de que a vida sexual dos casais diminui é mais um "tabu" do que dizer que isso acontece quando (e por que) eles passaram a morar juntos.
–Dormir e acordar diariamente ao lado da mesma pessoa, estando disposto a dividir a vida, envolve se ocupar de outros temas além do sexo. Isso não quer dizer que deixe de ser importante, mas que outros aspectos do dia a dia podem acabar ocupando mais tempo do casal – diz.
Você já deve ter ouvido falar que a paixão é temporária - dura, em média, dois anos. Logo, como destaca a psicóloga, estudos sugerem que a frequência das relações sexuais naturalmente sofreria um declínio, independentemente da convivência diária ou não.
– O que vejo é, se por um lado, casais mais jovens estariam mais dispostos fisiologicamente a uma frequência maior de relações sexuais, a rotina de trabalho atribulada, o cuidado com os filhos, entre outras questões, poderiam reduzi-la. Já casais mais velhos, mesmo com um declínio importante fisiológico, mantêm uma vida sexual ativa e satisfatória se têm uma relação de intimidade e parceria – salienta.
A dentista Vitória*, de 38 anos, por exemplo, reconhece que, após quatro anos morando junto ao namorado, 41, a frequência sexual do casal diminuiu no último ano.
– O namoro é como um escape, praticamente só existe o lado bom. Quando tu estás com o outro toda a tua atenção está voltada para aquele momento. Quando vai morar junto não há separação, é o teu dia a dia. As coisas boas e ruins andam juntas – avalia.
Novas demandas na vida a dois
Há um capítulo à parte quando morar junto implica também no nascimento dos filhos. Para a arquiteta Camila*, 42, o casamento e a rotina não influenciaram na vida sexual com o marido. O que mais impactou na verdade foi quando se tornaram pais, há 10 anos.
– Falei sobre isso com meu ginecologista e ele disse que após 22 anos seria um caso de estudo se ainda estivéssemos fazendo sexo com a mesma frequência de quando casamos – pondera.
A terapeuta de casal e de família Luciane Zeni Tschoepke reitera que esse é um tema recorrente em seu consultório. As novas demandas com a chegada dos filhos acabam por reduzir o tempo do casal, e, por consequência, o sexo.
–É uma terceira pessoa totalmente dependente, fazendo com que os dois, que até então tinham vidas autônomas e tempo para si e para o casal, percam um pouco isso. Entram as concepções de família. Dessa forma, o casal tem que se organizar para conseguir manter o seu momento, a conjugalidade. É preciso muita conversa – orienta.
O que importa é a qualidade
E para você que leu até aqui e já começou a se questionar se sua vida sexual deveria ser mais ativa, a psicóloga Ana Paula Oliveira Freitas lembra de uma questão bastante importante: "qualidade vale muito mais do que quantidade".
– Quanto mais um casal se conhece e se respeita, mais satisfatória pode ser a vida sexual – argumenta.
A autônoma Fernanda*, 40 anos, sabe bem disso. Após quase oito anos de relacionamento com o marido, admite que a rotina pode ter contribuído para que eles transem menos que antes. Mas ressalta: a qualidade melhorou consideravelmente.
– No início existe uma euforia muito grande. É como se não soubéssemos o dia de amanhã, logo, não há acomodação, as pessoas estão se descobrindo. Com o passar do tempo, contudo, a intimidade fica mais forte, você já sabe do que gosta e do que a outra pessoa gosta. Então, a frequência pode até não ser tão grande quanto no início, mas a qualidade fica muito melhor – compara.
Converse sobre o assunto
O relacionamento envolve troca, intimidade e compromisso. Logo, a vida sexual de um casal, independentemente de morar junto ou não, é parte de um relacionamento, com a admiração mútua e a vontade de estar junto. Ou seja, sentir prazer na companhia do outro e ter planos em comum pode ser bastante positivo também para as relações sexuais.
–A sexualidade é muito mais do que uma vida sexual ativa. Essa, acontece com a sedução, com o encantamento. Muitas vezes, isso interfere sim no lado sexual, porque é um momento inicial da sexualidade, que pode ser um cuidado, uma atenção, um detalhe que é importante para o outro – completa a terapeuta Luciane Zeni Tschoepke. – O principal será sempre o diálogo, a capacidade de conversar do casal, o que cada um espera do outro.
É justamente o que procura fazer a empresária Raquel*, 37 anos, junto do marido, 42. O receio de que a vida sexual ficasse de lado existia quando, com quatro anos de namoro, decidiram viver sob o mesmo teto. O casal, contudo, acabou por se entender ainda melhor depois do casamento, que já dura 11 anos.
–No começo, lógico, a adaptação de um ao outro levou um tempinho, até devido a rotina de vida de cada um, que era muito corrida. Entretanto, a vida sexual só melhorou, até aumentou. Acredito que onde há cumplicidade, diálogo e compreensão, ainda que com desafios, o desejo e o prazer só se fortalecem. Importante é conhecer um ao outro e nunca se acomodar em nenhum aspecto.
* Os nomes foram alterados a pedido das entrevistadas.