No episódio desta quarta-feira (8) da novela Amor de Mãe, da TV Globo, presenciamos uma crise conjugal entre a personagem Verena (Maria) e o marido Álvaro (Irandhir Santos). O casal acabou de ter um filho e Verena ainda não sente vontade de ter relações sexuais com o marido que, frustrado, trai a esposa.
Em novembro do ano passado, o assunto também veio à tona quando a apresentadora Sabrina Sato fez uma declaração em que afirmou que, após quase um ano do nascimento de sua filha, Zoe, ainda não havia conseguido retomar a vida sexual com o marido, Duda Nagle.
– Como melhora se não existe? Quem faz sexo depois de ser mãe? É difícil, a vontade não vem – desabafou em entrevista à revista TPM na época.
Muitas mulheres se identificaram com ambas situações. Afinal, a falta de libido nessa fase é algo normal? Para esclarecer dúvidas sobre o assunto, conversamos com a ginecologista e obstetra Clarissa de Andrade Amaral, a psicóloga e sexóloga Lucia Pesca, e a ginecologista e sexóloga Jaqueline Brendler.
O que acontece com o corpo da mulher após o parto?
Com o nascimento do bebê e a liberação da placenta no parto, há uma brusca queda do nível hormonal no corpo da mulher, que até então estava elevado em função da gravidez.
O funcionamento do corpo feminino é regido basicamente por dois hormônios: a progesterona e o estrogênio. Normalmente, a progesterona é o hormônio responsável pela maturação e liberação do folículo no momento da ovulação. Mas atua principalmente na manutenção, quando ocorre, da gravidez. Já o estrogênio é o responsável pelas funções sexuais, como libido, regulação do ciclo menstrual e lubrificação vaginal. Na gestação, os dois estão em alta. Já no puerpério, o estrogênio diminui, enquanto a progesterona continua alta para garantir a amamentação.
É possível comparar, inclusive, uma mulher que está amamentando com uma na menopausa. Além da diminuição do desejo sexual, a pele pode ficar mais seca, o cabelo pode cair e é possível que ocorra ressecamento vaginal. Das diversas situações de mulheres no pós-parto, as que sentem mais esses sintomas são as que usam anticoncepcional durante a amamentação.
Mas a médica Clarissa alerta para a individualidade de cada caso:
– Uma coisa que sempre digo para as minhas pacientes é que o corpo da gente não é matemática. Por isso é tão ruim quando as mulheres se comparam umas com as outras, porque cada mulher é uma mulher, cada corpo é um corpo. Cada uma vai funcionar de um jeito.
Segundo a ginecologista, antigamente, entendia-se que o puerpério terminava seis meses após o parto, quando o corpo da mulher teoricamente voltava ao estado pré-gestacional. Hoje, o consenso é de que o corpo da mulher não volta a ser como era antes da gravidez.
Além disso, há uma mudança de prioridade na vida da mãe, que pode ser explicada, inclusive, do ponto de vista biológico.
– Na natureza, o ser humano é o único animal que tem relação sexual pelo prazer. Todos os outros animais transam para se reproduzir. O foco da mulher nessa fase não é o sexo, é o cuidado com a cria. Isso é a coisa mais fisiológica que existe. Por isso é tão normal que a mulher, nessa fase da vida, perca o interesse sexual – compara Clarissa.
Essa falta de desejo sexual, além de normal, é multifatorial. A mulher está desfavorável para o sexo do ponto de vista hormonal e emocionalmente mais ligada à criança do que ao companheiro. Soma-se a isso, é claro, o cansaço de estar dedicada aos cuidados de um recém-nascido.
Segundo Clarissa, em geral, observa-se que essa falta de desejo sexual nas pacientes dura em torno de um a dois anos após o parto. É uma média, que pode variar para menos e para mais, dependendo de cada pessoa.
Como retomar a vida sexual?
O primeiro passo é uma conversa franca entre o casal. Se a mulher estiver confortável com a retomada da vida sexual - e isso for um desejo de ambos neste momento -, a sexóloga Lúcia Pesca compartilha dicas que podem ajudar.
- Isso deveria ser óbvio, mas é sempre bom relembrar: quando o pai está sendo pai, as coisas ficam mais fáceis. Com as responsabilidades devidamente divididas, o cansaço também se divide.
- Saia da área de convivência com a criança para namorar: ir ao cinema, jantar fora, passar a noite em um hotel. Dessa forma, é mais fácil focar no companheiro, e não na criança.
- Ter uma rede de apoio: para conseguir colocar em prática o item interior, é importante contar com pessoas de confiança que cuidem da criança enquanto o casal sai.
- Não deixe que a rotina impeça os momentos a dois. Estabeleça, dentro do possível, uma certa periodicidade para vocês saírem.
- Foco nas preliminares: se antes a mulher já precisava de bastante estímulo, agora precisa de ainda mais para entrar no clima.
- Não espere orgasmos: leva um tempo depois do parto para que a mulher consiga chegar lá. Aproveite esse momento de prazer sem cobranças.
- Muitas mulheres que amamentam não ficam confortáveis com o parceiro tocando em seus seios. Conversem sobre isso para que você fique confortável.
- O mais importante: lembre-se de que a volta da vida sexual é responsabilidade de ambos: "É uma redescoberta dos dois. Uma reconstrução. Os homens não podem estar cobrando nada das mulheres em relação a isso porque eles são copartícipe. A culpa não é de ninguém", frisa Lúcia.
Com a palavra, as mães
Pedimos às nossas leitoras participantes do Grupo de Mães Donna do Facebook que contassem suas experiências nessa fase:
"A gente se sente tão exausta que o sexo fica na terceira... quarta prioridade! Me sentia muiiiito cansada somente com um relacionamento bem maduro e de mais de 15 anos pra sobreviver essa fase. Meu marido entendeu. Hoje entendo como muitos relacionamentos terminam logo após a chegada de um bebê, tem que ser muito paciente"
Cris Feier, 45 anos
"Passei pelos dois extremos. Com a minha primeira filha, não baixou nadinha a libido. No segundo filho, foi zero libido desde a gestação, e seguiu assim por mais de um ano depois"
Rita Masini, 31 anos
"Depois do primeiro parto, foi bem difícil a retomada. Oito meses depois que a vontade começou a aparecer (e por que fiquei trabalhando isso na minha cabeça, pois vontade mesmo não tinha). Depois da segunda gestação, foi mais tranquilo: a vontade voltou bem mais cedo. O problema agora é conseguir conciliar os horários de namoro com dois filhos (risos)"
Melissa Vieira, 37 anos