A cena que eu preciso que vocês imaginem (e ela de fato está acontecendo) é a seguinte: eu, com a boa e velha roupa de "ficar em casa", fazendo meu planejamento de férias e lembrando que fui chamada para essa coluna para escrever sobre sexualidade. Só que pelo título desse texto vocês já devem imaginar que não, hoje eu não trago, digamos, boas notícias.
O fato é que, desde muito nova, sempre fui curiosa sobre sexo. Até os 25 anos, mais ou menos, chegava a ser uma afronta pensar em ficar uma semana sem transar (mas que bobagem!). Atualmente, se eu puder trocar uma noite de sexo por oito horas bem dormidas... pode ter certeza que não pensarei duas vezes.
E olha que engraçado: há poucos dias o Jornal Britânico de Medicina divulgou o resultado de uma pesquisa que constatou algo que, de certa forma, já vivencio: a cada década que passa, estamos transando menos. Os mais atingidos pela falta de libido somos nós, adultos na faixa dos 24 aos 46 anos.
Agora pega esse dado: do grupo estudado, mais da metade faz sexo menos de uma vez por semana. E agora pega esse outro dado: para os cientistas, uma das causas dessa baixa drástica de tesão é o combo internet+smartphones+redes sociais. Como é que eu não vou rir de nervosa quando esse é justamente o meu trabalho? Uma profissão que faz com que eu viva (quase) 24/7 imersa no ambiente online é também a que vai me causar um celibato forçado? Agora eu nem tô rindo mais.
Beirando os 33 anos, o que posso afirmar é que o meu apetite sexual diminuiu na mesma proporção em que o meu cansaço aumentou. A Jordana lá do início dos anos 2000 realmente ficou guardada em um passado. Claro, era a Jordana sem contas para pagar, sem muitas preocupações além da escolha certa da festa do final de semana e, consequentemente, as transas que ela poderia render.
É bem verdade que toda ou quase toda disfunção é uma resposta a algum desequilíbrio – seja psicológico, hormonal, etc. E eu tenho plena consciência que os últimos tempos não foram fáceis para mim, possivelmente nem para você.
Segundo os especialistas britânicos, as pessoas estão fazendo menos sexo por conta do vício em se manterem conectadas, preocupação com dinheiro, desemprego e quantidade de trabalho, que também nos força a manter em uma vigia constante a e-mails e cronogramas. É como se estivéssemos personificando a expressão "se sentir tesão de madrugada, NÃO me acorda" - porque eu tô exausta pra cacete.
Qualidade é o que importa, dizem. E venho tentando me apoiar nisso".
De qualquer forma, sigo ciente de que também-pode-ser-só-uma-fase-que-vai-passar. TEM-QUE-PASSAR. Digo isso porque eu não parei de transar completamente. A frequência foi alterada, sim, parei de investir como antes, sim, mas quando rola, ainda sinto prazer e gozo como a Jordana de 20 e poucos anos. Qualidade é o que importa, dizem. E venho tentando me apoiar nisso.
Se você estiver passando por um momento parecido com o meu, não se desespere – pode ser um tanto quanto assustador no início, mas sempre existe uma solução esperando pra ser utilizada. Claro que uma ajudinha profissional – olá, ginecologistas e psicólogas! – também é muito válida. Assim como a nossa libido, a falta dela costuma ser causada pelos mais diversos motivos. Entram em jogo aspectos físicos, psicológicos e muito mais.
O segredo para recuperá-la é identificar o peso de todos esses aspectos no momento. É isso que eu tenho feito (quando não durmo com o celular em cima do rosto): tentar lembrar mais e mais de como uma vida sexual ativa, consensual e respeitosa faz bem pra saúde, autoestima e manutenção dos relacionamentos.
Jordana Laitano é publicitária, produtora de conteúdo, feminista, entusiasta das conversas de bar e das histórias de amor. Escreve quinzenalmente sobre sexo e relacionamento em revistadonna.com.