
Foi uma surpresa dupla, tanto pela rapidez da escolha quanto pelo eleito. Mas a transformação do cardeal Robert Francis Prevost em Leão XIV representa a própria Via da Conciliação, larga avenida que dá acesso à Praça São Pedro. Não por acaso, suas primeiras palavras foram "que a paz esteja com vocês".
Se alguma dúvida restasse, Leão XIII, do qual ensaia ser um sucessor pela escolha do nome, foi conhecido por diplomacia e... conciliação. Também é conhecido por lançar as bases da doutrina social da Igreja Católica.
Nascido em Chicago há 69 anos, Prevost nacionalizou-se peruano e é identificado no Vaticano como "romano" por fazer parte da Cúria. E só virou cardeal porque o então papa Francisco o encontrou no Peru, onde fez carreira e chegou a ser próximo do padre Gustavo Gutierrez, pioneiro da teologia da libertação.
O nome de Prevost frequentava as listas de favoritos de forma tão discreta quanto ele costuma se comportar. E antes que se crie a lenda de que Donald Trump virou "pope maker", é bom destacar que Prevost se relaciona muito bem com o arcebispo de Chicago, Blaise Cupich, muito distante do presidente dos Estados Unidos. Por outro lado, Prevost é da ordem sacerdotal dos agostinianos, da qual se diz não ser "ultraprogressista".
Depois de passar pelo "corredor da metamorfose" – referência à transformação de cardeal em papa –, caberá a Leão XIV concluir uma missão econômica iniciada por Francisco: cumprir a meta de déficit zero.
Pode enfrentar dificuldades: em entrevista recente, Prevost afirmou que bispos devem ser pastores próximos ao povo, não gestores. Agora, terá de encarar também esse papel.
Em setembro de 2024, o Papa havia escrito uma carta ao Colégio Cardinalício pedindo "esforço adicional" para economizar (confira aqui). O texto recomendava "selecionar bem as prioridades, favorecendo a colaboração recíproca e sinergias". A quem não tinha rombos no orçamento, pedia que contribuíssem "para cobrir o déficit geral".