Há pouco tempo, conversando com algumas amigas naqueles clássicos encontros para falar sobre rotinas de beleza, feminismo e atualizar umas às outras sobre a nossa vida sexual, lembramos da vez em que Geisy Arruda foi aos jornais contar que tinha feito uma cirurgia íntima. Nas palavras dela:
– Nesta terça-feira, acabei fazendo uma das maiores loucuras da minha vida (…)! Mas não quero que o mundo acabe e eu tendo uma couve-flor no lugar da vagina – disse na época, em entrevista ao Terra.
COUVE-FLOR-NO-LUGAR-DA-VAGINA. Não consigo expressar o quão horrorizada eu fico até hoje com essa frase – e já faz alguns anos que ela foi dita.
Sei que existem muitas mulheres desconfortáveis com a própria anatomia e que de fato alguns procedimentos são necessários – principalmente quando a diferença de tamanho dos lábios machuca, atrapalha na hora do sexo ou realmente dinamita a autoestima.
A questão é que o Brasil lidera o ranking de países que mais realizam a “ninfoplastia". O dado tem como base o último levantamento, de 2017, realizado pela Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (ISAPS). Segundo a pesquisa, em 2016, mais de 28 mil brasileiras passaram pelo procedimento.
Chego a pensar que, de tanta vergonha da própria genitália, essas mulheres sequer conseguem sentir prazer – nem com a masturbação. Tudo isso porque foram forçadas a acreditar que bonito mesmo é aquela pepeca lisinha, Barbie style, com tudo no lugar. Mas o que seria esse "tudo no lugar"? Não basta estarmos com nossa genitália saudável e pronta para ser muito bem utilizada?
Entretanto, nada me tira da cabeça que essa paranoia é muito mais psicológica do que funcional. Nenhuma das mulheres com quem conversei disseram que fariam essa tal cirurgia, mesmo algumas afirmando categoricamente que não acham a própria vulva a coisa mais linda do mundo. E, sendo bem sincera, eu também não acho a minha uma obra de arte, mas ela cumpre a função de ser absolutamente especial pra mim e assim seguimos em harmonia.
O fato é que todas nós temos formas, tamanhos, cores, cheiros e sabores diferentes, responsáveis por deixar a coisa toda ainda mais interessante, não acham? Lembre-se disso se alguma vez você deixou de transar ou se expor de alguma forma por vergonha das suas partes íntimas. Ou se está cogitando abrir mão de uma deliciosa noite de prazer por esse motivo.
Existem inúmeros motivos que explicam esses sentimentos negativos em relação à querida e poderosa vulva. E tudo começa na boa e velha cultura machista segundo a qual o pênis é idolatrado até não poder mais. Ou vai dizer que você nunca ouviu alguém falar para o filho pequeno: “Olha que pintão!”. Mas, e o contrário? Em 33 anos de vida, desconheço alguém que tenha falado algo do tipo: “Que clitóris maravilhoso o da minha filha”.
A boa notícia, companheiras, é que a grande maioria dos homens está pouco se lixando se você tem uma couve-flor, um hamburguinho ou qualquer coisa que o valha entre as pernas. Mulheres que gostam de mulheres, então, nem se fala! Homens que amam as mulheres admiram, valorizam e defendem essa coisa maravilhosa que você tem aí – que merece carinho, atenção e aceitação, como qualquer outra parte do corpo.
E aqui me fiz valer de rápidas pesquisas ao longo dos anos, sempre questionando amigos, namorados, affairs e conhecidos sobre o assunto. “Nunca dei bola para isso“, “não me importo“, “jamais deixaria de transar com alguém por causa disso” foram algumas das frases mais ditas quando questionados sobre a beleza – ou falta de – da pepeca.
Por isso, cara leitora, não tenha vergonha nenhuma do seu corpo, tampouco dessa zona maravilhosa que tanto nos dá prazer e alegrias. Se toque, se conheça (vale até apelar para o espelhinho) e descubra que contemplar a própria anatomia é algo único, poderoso e é libertador. Eu indico!
Jordana Laitano é publicitária, produtora de conteúdo, feminista, entusiasta das conversas de bar e das histórias de amor. Escreve semanalmente sobre sexo e relacionamento em revistadonna.com.