Pode esquecer tudo (ou quase tudo) o que você sabe sobre troca de casais. Pelo menos foi exatamente isso que aconteceu quando me vi dentro de uma casa destinada à "orgia descontrolada", em Porto Alegre. Não é bem assim. Na verdade, se tem uma coisa que não acontece é descontrole. Juro.
Mas vamos por partes: uma casa de swing dificilmente é fácil de ser identificada simplesmente pela sua fachada. São espaços extremamente discretos e que mais parecem uma residência comum, como a minha ou a sua.
Os horários e dias de funcionamento do local podem variar e, na maioria das vezes, os estabelecimentos são cheios de regras: a primeira e mais importante delas é que você precisa ser maior de idade para entrar. Celulares, câmeras, iPads e qualquer equipamento que faça fotos e vídeos também ficam de fora - ou melhor, em armários chaveados. Tudo para preservar a privacidade dos frequentadores.
Vale ressaltar também que há datas específicas só para casais e, embora a maioria dos estabelecimentos permita mulheres sem um parceiro, isso não acontece sempre com os homens. Todavia, também existem festas para solteiros e solteiras. E tem seguranças por toda a parte, o que dá uma certa sensação de tranquilidade maior.
Regras de etiqueta? Tem também. Eis algumas:
- Ninguém se toca sem permissão. Antes de beijar ou algo do tipo, normalmente o que acontece é um breve "toque", no braço, de preferência. Se a pessoa der passe livre, então é possível dar continuidade às carícias. Do contrário, é fundamental respeitar, sair de perto e procurar alguém que esteja mais disponível às investidas.
- Camisinha é item obrigatório, higiene também - como sempre, né?
- Alguns casais têm leis próprias e antes de tentar um mènage, vale trocar algumas palavras para não criar uma situação constrangedora.
Com a cartilha devidamente decorada, entramos. À primeira vista, parece um ambiente de festa absolutamente normal, exatamente como estamos acostumados a ver nas baladas por aí: música alta, várias opções de drinks, mesas, palco para shows e até mesmo algumas barras para prática de pole dance perdidas pelos cantos. Assim que a madrugada vai chegando, o lugar começa a ganhar mais "vida" - mas não, ninguém transa no meio da pista.
Embora seja uma casa liberal, estar ali não significa que você tenha que fazer sexo - seja com o seu parceiro ou com desconhecidos. Sim, é possível simplesmente ficar curtindo de boas a noitada, sem preconceitos ou julgamentos. E também é perfeitamente natural se transformar em voyeur, caso essa seja a sua praia. Foi o meu caso - já que estava ali em busca de uma pauta que também serviu para saciar a minha própria curiosidade.
Saímos da pista de dança (sim, estava acompanhada) e nos encaminhamos para as áreas onde as funções realmente acontecem. O que encontramos foi o seguinte: corredores que mais parecem labirintos com nenhuma ou quase nenhuma iluminação. E por ali existem salas privativas e também cheias de “buracos” para assistir o que está rolando ou até mesmo acariciar alguém que, por ventura, coloque alguma-parte-do-corpo-ali. Eu já tinha ouvido falar nas Darkrooms, mas nunca entrado em uma.
Como o nome sugere, esse sim é um ambiente totalmente na penumbra e os presentes se guiam por estímulos auditivos e transam com mais privacidade.
Na minha cabeça, a noite seria marcada por uma sequência de gemidos altíssimos por todos os lados (nível filme pornô pra mais), mas o que se passa é surpreendente. E bem sexy.
Em todos os espaços, o que ouvimos são sussurros, algumas conversas picantes e risadas contidas. O que faz tudo se transformar em uma experiência, no mínimo, interessante.
Nessa altura do campeonato eu já estava totalmente despida - opa! - da ideia geral e quadrada que sempre ouvimos sobre swing. Era como se estivesse em outra realidade. Bom, a verdade é que eu estava e, por mais que sempre tenha sido entusiasta do sexo, de certa forma estava completamente abismada - positivamente - com toda a situação.
Resolvemos circular mais um pouco e chegamos aos famosos "tatames", A.K.A camas extra-grandes em que vários casais se tocam, se beijam e transam ao mesmo tempo. Com muitos outros ao redor, assistindo ou simplesmente tendo a visão como estímulo para masturbação ou carícias com parceiros. Nesse espaço, luzinhas pequenas no piso são a única forma de enxergar o que se passa, deixando muito para a imaginação - e acho que esse é o segredo.
Eis um fato curioso: nos quartos existem CABIDES, sim, cabides para que de forma alguma você perca a sua roupa no meio da bagunça. Tudo muito organizado para uma errr "suruba", né? E eu só descobri isso porque, claro, sem saber da existência dos mesmos, acabei batendo a cabeça em um deles. A cena perfeita para uma amadora, não acham?
Outra situação que percebi foi que, pelo menos conosco, a abordagem sempre era feita por uma mulher e com toda a delicadeza do mundo. Algumas elogiaram o pouco que deu pra ver das minhas tatuagens, outras perguntaram coisas aleatórias sobre preferências sexuais e eu também aproveitei para tentar entender as motivações de estarmos ali. Foi a partir disso que fiquei pensando em como o sexo pode ser algo totalmente descolado da ideia de fidelidade.
Conversamos com alguns casais monogâmicos que participam de noites assim apenas para viver experiências diferentes, a boa e velha escapada da rotina. Fora da casa, simplesmente não há espaço para uma terceira, quarta ou quinta pessoa. Entendi também que, em sua grande maioria, os relacionamentos ali são maduros o suficiente para se que se permita buscar outras formas de prazer e satisfação para ambos. Sei que devem estar se perguntando se a ida ao swing foi levada ao pé da letra e, sinto desapontá-las, mas não. Claro que tivemos nossos momentos, mas nada envolvendo outras pessoas, além dos seus próprios olhares.
Aliás, se pudesse resumir o swing em algumas palavras, seriam exatamente as mesmas que levo pra vida: respeito, educação, gentileza, doses cavalares de humor e paciência. E como já diria a minha querida Rita Lee: "Amor é divino / Sexo é animal / Amor é bossa nova / Sexo é carnaval".
Jordana Laitano é publicitária, produtora de conteúdo, feminista, entusiasta das conversas de bar e das histórias de amor. Escreve semanalmente sobre sexo e relacionamento em revistadonna.com.