O corpo dá sinais quando algo não vai bem, motivo pelo qual conhecer o “normal” do seu próprio organismo é uma das chaves para perceber mudanças que merecem ser investigadas.
Para a saúde da vulva e da vagina, segundo Nadiessa Dorneles Almeida, ginecologista, professora da PUCRS e apresentadora do podcast de saúde feminina Do Hipotálamo à Vagina, a mudança do padrão basal da mulher é o primeiro sinal de alerta, especialmente se combinada com dores ou desconfortos.
— A mulher precisa saber, como é a secreção vaginal normal da sua vagina, por exemplo, sabendo inclusive que isso pode mudar um pouco em função do ciclo menstrual. Se esse padrão mudar e ela começar a ter corrimento muito volumoso ou irritação, são sinais de que alguma coisa está errada — explica a médica.
Os principais sinais de uma situação atípica na região genital são:
- Corrimento volumoso (leucorreia) e de aspecto diferente do padrão;
- Irritação;
- Coceira;
- Odor desagradável;
- Surgimento de verrugas;
- Lesões que causam dor e coceira.
Na presença desses fatores, a recomendação é procurar um ginecologista.
O que indicam os sintomas
Vale lembrar que diferentes doenças podem ter os mesmos sintomas, portanto, é importante ter cautela, evitar o “autodiagnóstico” e buscar um médico.
O diagnóstico preciso das alterações da região vulvo-vaginal costuma ter três pilares: anamnese (entrevista com o paciente), exame físico e exames complementares, como a coleta de secreção da vagina, feita em consultório.
Segundo Nadiessa, esse tripé da hipótese diagnóstica é importante para o médico poder firmar o diagnóstico e prescrever o tratamento adequado:
— Uma paciente com alteração de corrimento vaginal na maioria das vezes é devido a uma vulvovaginite, cujas infecções mais conhecidas são a candidíase e a vaginose bacteriana. Porém, o corrimento vaginal aumentado também é diagnóstico diferencial para algumas infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) e para doença inflamatória pélvica.
Outro sintoma que pode indicar alguma condição clínica é, por exemplo, a dor na relação sexual, algo que não é normal segundo a ginecologista. Na ocorrência de dor durante o sexo, é indicado buscar um diagnóstico diferencial para possíveis infecções pélvicas.
Alergias
A ocorrência de alergias na região genital não é infrequente e costuma estar relacionada a diferentes formas de exposição. Pode ser reação alérgica a um sabonete com perfume diferente ou produto de limpeza que foi utilizado para limpar a roupa íntima, por exemplo.
Os sintomas mais comuns de alergia na região genital são coceira, irritação, vermelhidão, edema (inchaço) dos lábios vaginais e até de toda a região perineal.
Vale ressaltar que reações alérgicas na região íntima feminina podem acontecer tanto imediatamente após a exposição ao fator de alergia como algumas horas depois. O sintoma desencadeado pode permanecer por bastante tempo.
— Com esses sintomas, o médico não consegue bater o martelo de que é uma reação alérgica porque são semelhantes aos que acontecem para outros diagnósticos, como candidíase. Daí a importância de sempre fazer o diagnóstico diferencial durante o exame físico — destaca a médica.
Fungos
É sabido que boa parte das mulheres terá candidíase em algum momento da sua vida, infecção fúngica que é a mais prevalente no público feminino. Seus principais indícios são corrimento aumentado, geralmente com aspecto grumoso, semelhante ao leite coalhado.
— Também costuma provocar coceira na região vulvar e vaginal, dentro do canal, bem como irritação, a vulva fica sensível, vermelha, apresenta dor e desconforto ao toque. Após o diagnóstico de infecção fúngica, o tratamento é específico com medicamento antifúngico — descreve a especialista.
Infecção Sexualmente Transmissível
Há alguns sintomas que, se aparecerem, a recomendação é consultar logo um médico para que ele possa avaliar a possível existência de uma infecção sexualmente transmissível (IST) – lembrando sempre, ressalta Nadiessa, de buscar um diagnóstico preciso, pois os sinais se mesclam: alguns sintomas de ISTs, por exemplo, são os mesmo de doenças benignas.
Os traços mais comuns de ISTs são lesões na região genital, principalmente lesões verrucosas (verrugas), úlceras em região genital, principalmente as úlceras dolorosas e corrimentos vaginais. Dor pélvica também é um sinal de alerta, principalmente após eventual relação sexual sem preservativo.
— A mulher pode ficar com algum microrganismo na região de colo do útero. Em algum momento isso pode cursar com uma doença inflamatória pélvica, causando dor na relação sexual (dispareunia), corrimento vaginal e etc — detalha.
Alerta vermelho
Um dos sinais que mais exige preocupação, porque pode ser sintoma de infecção mais grave, são lesões na região vulvar que aumentam em extensão.
Sintomas sistêmicos como febre e mal-estar, também podem ser um alerta de infecções sistêmicas, que afetam múltiplos órgãos ou tecidos do corpo humano.
— É importante lembrar que todo sinal que cause desconforto demonstra uma mudança no padrão daquela mulher que precisa ser avaliado — ressalta Nadiessa.
Formas de prevenção
Alguns dos sintomas e doenças descritos nesta matéria podem ser desagradáveis e prejudicar o bem-estar da mulher. Como forma de prevenir doenças e alergias na região genital, Nadiessa compartilha os seguintes conselhos:
- Evitar passar na região vulvar ou inserir no canal vaginal qualquer coisa que tenha cheiro, perfume ou sabor;
- Evitar fazer ducha vaginal, ou seja, utilizar a mangueirinha do chuveiro para lavar o local, uma prática muito comum entre as mulheres, segundo Nadiessa, na ideia de “limpar” o local após relação sexual em que tenha havido ejaculação dentro do canal. Tal prática acaba alterando a flora vaginal e deixa o indivíduo predisposto a sintomas;
- Usar preservativo nas relações sexuais para evitar sintomas e infeções, principalmente as ISTs;
- Evitar lavar a região vulvar esfregando com força.