
O julgamento do rapper Diddy, acusado por mais de 120 pessoas por crimes como assédio sexual, estupro e tráfico sexual, começa nesta segunda-feira (5). Os primeiros depoimentos devem acontecer em 12 de maio.
Em janeiro, outras duas acusações de vítimas que não tiveram os nomes divulgados foram incluídas no montante acumulado no último ano.
Diddy se declara inocente. O advogado do artista, Marc Agnifilo, defendeu seu cliente e criticou a abordagem da promotoria. Ele descreveu a teoria da acusação como "falha".
Preso desde setembro em uma penitenciária de Nova York, nos Estados Unidos, o rapper, também conhecido como Puff Daddy e P. Diddy enfrenta acusações de agressão, extorsão, coerção, estupro, tráfico sexual e transporte para prostituição. Se condenado, Diddy pode pegar prisão perpétua.
Relembre o início das acusações
Conforme a Promotoria de Nova York, durante décadas, Diddy "abusou, ameaçou e coagiu mulheres e outras pessoas ao seu redor para satisfazer seus desejos sexuais, proteger sua reputação e ocultar suas ações".
Segundo o documento da acusação, ele usava seu império musical e sua influência para atingir os objetivos. O promotor Damian Williams disse à imprensa estrangeira que Diddy construiu um esquema com base em violência para obrigar mulheres a "longas relações sexuais com garotos de programa".
O esquema utilizava de drogas como ecstasy, GHB (chamada de "droga do estupro") e cetamina para controlar as vítimas. Em muitos momentos, os abusos eram filmados e, supostamente, incluíam até mesmo imagens de agressões físicas.
O advogado Marc Agnifilo reitera a inocência do artista, classificando as condições de sua prisão como "desumanas".
— Esteja onde estiver, ele tem a mesma determinação. Acredita ser inocente — declarou em frente ao tribunal federal de Manhattan.
Outros famosos, como Justin Bieber, Ashton Kutcher, Jay-Z, Jennifer Lopez e Mariah Carey foram associados às polêmicas de P. Diddy. Nenhum envolvimento direto de terceiros foi confirmado até o momento.
Porém, Tony Buzbee, advogado que representa as mais de 120 vítimas, afirmou que celebridades também podem ser processadas se tiverem ajudado o rapper a encobrir os crimes.
Processo de Cassie Ventura

Em novembro de 2023, Cassandra Ventura, ex-namorada do rapper que atende pelo nome de Cassie, entrou com um processo contra ele. No documento de 35 páginas, ela acusou o artista de agressão sexual, agressão física e tráfico sexual.
Os dois viveram um relacionamento entre 2007 e 2018. O namoro começou quando ela tinha 19 anos e ele, 37. Na época, ela assinou contrato com a gravadora Bad Boy Records, de Combs. A cantora alega ter vivido um relacionamento tóxico com o rapper e afirma que foi obrigada a participar de atos sexuais não consentidos.
Outras denúncias
Após as declarações de Cassie, outras vítimas vieram a público e acusaram o músico de crimes diversos. A primeira entre as novas denúncias foi feita ainda em novembro, por Liza Gardner. Ela alegou ter sido estuprada pelo músico e o amigo dele, Aaron Hall, em 1991.
Em dezembro, mais uma acusação, feita de forma anônima: uma mulher afirmou que, em 2003, quando tinha 17 anos, foi estuprada por Puff Daddy e Harve Pierre, ex-presidente da gravadora Bad Boy Records.
Já em 2024, no final de fevereiro, o cinegrafista Rodney Jones, ex-funcionário de Combs, entrou com um processo de 105 páginas contra o artista. Na queixa, ele relata ter sido assediado sexualmente por Diddy e seus associados.
Primeiras buscas
Em março de 2024, cerca de quatro meses após as denúncias de Cassie, o Departamento de Investigações de Segurança Nacional (Homeland Security Investigations em inglês) realizou buscas na mansão do rapper em Los Angeles. A ação teria relação com as investigações de tráfico sexual. De acordo com portal TMZ, na ocasião, Diddy estava em Nova York.
Durante as buscas, foram encontrados vídeos de abusos sexuais cometidos durante as festas do músico, além de garrafas de óleo de bebê, que seriam usadas como lubrificante, foram apreendidas.
Vazamento de vídeo
Em maio, foram divulgadas imagens nas quais Combs aparece agredindo Cassie. Na gravação, feita por câmeras de vigilância em 2016, eles estão no corredor de um hotel. A cantora tenta deixar o local, mas é perseguida por Combs.
Na sequência, ele a agarra pela jaqueta e a joga no chão para depois chutá-la. Diddy, que até então negava todas as acusações feitas pela ex-namorada, deu uma declaração sobre o caso no Instagram.
— Assumo total responsabilidade por minhas ações naquele vídeo. Fiquei enojado quando fiz isso. Estou enojado agora — afirmou o rapper no vídeo publicado em seu perfil, que foi apagado posteriormente.
Depois de o vídeo se tornar público, outros processos contra Combs foram iniciados, um deles pela modelo Crystal McKinney. As novas denúncias envolviam estupro, relacionamento coercitivo e agressão sexual.
Condenação e prisão
Em 10 de setembro, o cantor foi condenado a pagar US$ 100 milhões ao presidiário Derrick Lee Cardello-Smith. O homem de 51 anos acusou Diddy de tê-lo drogado e agredido sexualmente em uma festa em 1997. O rapper não compareceu à audiência virtual e foi considerado culpado.
Menos de uma semana depois, em 16 de setembro, Diddy foi preso e levado para o Centro de Detenção Metropolitano do Brooklyn, sob as acusações de agressão, extorsão, coerção, estupro, tráfico sexual e transporte para prostituição.
Freak-offs
Nas ações movidas contra o músico, vieram à tona as chamadas freak-offs, festas descritas pelo ministério público dos Estados Unidos como "maratonas sexuais". Em audiência realizada em setembro, uma das promotoras do caso, Emily A. Johnson, afirmou que os eventos são "o núcleo desse caso", e eram "inerentemente perigosos".
Os eventos eram frequentados por celebridades do alto escalão de Hollywood, como Jay-Z, Mariah Carey, Khloé Kardashian, Justin Bieber e Ashton Kutcher.
A divulgação dos nomes de celebridades que mantinham uma amizade com o rapper e participavam das festas alimentaram teorias da conspiração na internet. Entre as mais levantadas, estão o possível envolvimento de Diddy na morte de Michael Jackson e a possibilidade de o músico ter inspirado o filme As Branquelas.
12 mil ligações
Responsável pela defesa de 120 vítimas em processo contra Combs, o advogado Tony Buzbee organizou uma linha direta para receber denúncias contra o empresário. Segundo ele, o número recebeu 12 mil ligações em 24 horas.
As denúncias citam crimes sexuais, que teriam sido cometidos contra homens, mulheres e crianças ao longo de três décadas.
Quem é Sean "Diddy" Combs?

Nascido em 4 de novembro de 1969, no Harlem, em Nova York, Sean John Combs, mais conhecido como Diddy, é uma figura influente no hip hop e magnata do setor musical.
Ele é considerado o mentor por trás da transformação do hip hop como renomado gênero musical. Diddy começou sua carreira na música em 1990, como estagiário na Uptown Records, onde chegou a se tornar diretor.
Em 1991, ele promoveu um jogo de basquete e um show de celebridades no City College, em Nova York. Uma confusão no evento, que estava superlotado, causou nove mortes. O episódio gerou uma série de processos judiciais, culpando Diddy pela contratação de segurança inadequada.
Ele foi demitido da Uptown e fundou sua própria gravadora, a Bad Boy Records. A partir daí, ele teve rápida ascensão ao topo do hip hop, com uma parceria com aquele quem considerou como o seu discípulo, The Notorious B.I.G.
Ao longo da carreira profissional, Diddy assinou diversos contratos importantes e colaborou na produção de artistas como Mary J Blige, Usher, Lil' Kim, TLC, Mariah Carey e Boyz II Men.
Vencedor do Grammy, estreou como cantor com o single Can't Nobody Hold Me Down. O rapper também construiu uma fortuna a partir de empreendimentos no ramo de bebidas alcoólicas.
Documentário
Um documentário lançado no início de abril mostra os bastidores de um dos maiores escândalos da indústria do entretenimento.
Diddy: como nasce um bad boy está disponível no Globoplay e traz imagens inéditas e depoimentos de vítimas, funcionários e ex-parceiras do cantor.
Filho de um gângster assassinado no Harlem, Sean começou a trabalhar na música cedo. O documentário percorre a infância e a ascensão do artista na indústria.