A ideia de aumentar o desejo e resolver todas as dificuldades na hora do sexo com um prático remedinho ainda não é realidade para as mulheres.
Embora o termo "Viagra feminino" volta e meia reapareça na internet, ainda não existe um medicamento que, de fato, seja solução única para a falta de tesão feminina, explica a ginecologista e sexóloga Fernanda Grossi.
Para entender: o Viagra masculino, nome comercial da sildenafila, atua como um vasodilatador no organismo, direcionando mais sangue para a região genital e mantendo a ereção do pênis. Segundo a médica, esse mesmo medicamento até pode ser indicado para certas mulheres, já que provoca uma maior vascularização da pelve, o que melhora a sensibilidade do clitóris e aumenta a lubrificação, mas seu uso só é recomendado para casos específicos.
— Só tem indicação mulheres que tiveram, por exemplo, um trauma medular que tenha comprometido a questão neurológica e vascular da pelve. Não é uma medicação que possa ser amplamente utilizada pelas mulheres, até porque causa efeitos colaterais de vermelhidão, dor de cabeça, rubor facial, etc — afirma Fernanda.
O "Viagra feminino" aprovado nos EUA
Nos Estados Unidos, o FDA, agência norte-americana que regula a eficácia e a segurança dos remédios, já aprovou dois medicamentos que seriam "afrodisíacos femininos", os quais têm sido chamados na internet de "Viagra feminino". Mas a ginecologista argumenta que, além de não terem sido aprovados pela agência reguladora brasileira, a Anvisa, seus efeitos colaterais são muitos.
Flibanserina
O primeiro desses medicamentos a ser aprovado nos EUA, em 2015, foi a flibanserina, indicado para mulheres que ainda não entraram na menopausa e que sofrem de falta de desejo sexual.
A flibanserina trabalha corrigindo o desequilíbrio nos neurotransmissores cerebrais, aumentando a secreção de dopamina, neurotransmissor que aumenta a excitação e o desejo, e de noradrenalina, que estimula a excitação e o orgasmo. Também diminui a secreção de serotonina, a qual, em excesso, inibe o desejo e a excitação e dificulta o orgasmo.
— A flibanserina foi aprovada pelo FDA e lançada, mas mesmo lá fora não vingou porque tem limitações e um monte de efeitos colaterais. O medicamento foi indicado só para mulheres na pré-menopausa, tem interação com álcool e com contracepção, causa sonolência, pressão baixa, enjoo e tontura — detalha a médica.
Bremenalotida
A outra medicação, aprovada em 2020 pelo FDA, é a chamada bremenalotida, também indicada para mulheres na pré-menopausa e que estejam com desejo sexual em baixa. Essa droga atua nos receptores de melanocortina, hormônio que induz os melanócitos, células responsáveis pela produção de melanina. Esses receptores de melanocortina são estimulantes do desejo, assim como a dopamina.
— A bremenalotida em teoria também faria aumentar o desejo, e foi aprovada pelo FDA, mas também não veio para o Brasil. Essa substância dá náuseas, dor de cabeça, interage com o álcool, aumenta a pressão, então também não pegou e não vai pegar — acredita a ginecologista.
Desejo sexual feminino é multifatorial
Outra questão que coloca em xeque a ideia de regular o tesão por meio das substâncias citadas é o fato de que o desejo feminino é conhecidamente multifatorial. Ou seja, é impactado positiva ou negativamente pelas questões biológicas, psicológicas e sociais que compõem a vida de cada mulher.
Dessa forma, apenas adicionar componentes químicos ao organismo provavelmente não será suficiente para aumentar o prazer ou a vontade de transar.
— A sexualidade feminina tem várias nuances. São tantas coisas que interferem no desejo que uma medicação em si surtirá pouco efeito. É preciso ver: como está a relação dessa mulher? Ela toma alguma medicação? Está com depressão? O que está acontecendo em sua vida afora a vida sexual?. Há também a questão de que a mulher funciona muito por desejo responsivo, precisa ter bons estímulos para que o desejo venha — conclui Fernanda.