Aquela vontade espontânea e quase inexplicável de se envolver em uma relação sexual com outra pessoa tem um nome bastante conhecido: tesão. Para os homens, este desejo é o principal responsável pela regência dos seus impulsos sexuais durante toda a vida. Para as mulheres, no entanto, a coisa muda de figura.
Segundo a ginecologista e sexóloga Mariana Rodrigues, quando se trata de mulheres que estão em um relacionamento, o tesão feminino tem prazo de validade. É o que mostrou um estudo dos anos 2000, o que mais bem descreve o ciclo sexual feminino:
— Foi visto que, dentro do relacionamento, a mulher tem um desejo espontâneo que pode durar de seis meses a dois anos. Depois desse tempo, ela acaba respondendo a estímulos. É por isso que muitas mulheres falam que no início da relação era superlegal, tinham muita vontade de sexo, e depois, parece que foi acabando.
Passado o período de dois anos, é o desejo responsivo que entra em cena. Os estímulos de que a mulher precisa podem vir tanto dela própria como da parceria e do contexto em que a relação se desenrola.
— Pode ser que uma mulher que não estava tão interessada inicialmente passe a sentir-se estimulada se a situação estiver boa. Se rolar uma conversa gostosa, depois, abrem um vinho, começam a se abraçar e beijar. Aí o sexo acontece e é gostoso. Essa é uma boa resposta a um desejo responsivo — explica a médica.
"Precisamos criar repertório, montar uma história sensual dentro da nossa cabeça"
MARIANA RODRIGUES
Ginecologista e sexóloga
Uma dica da sexóloga é que as mulheres sejam protagonistas na busca por estímulos. Ela diz que, para isso, vale trocar ideias com amigas, conversar com um profissional, acessar conteúdos eróticos na literatura, em filmes ou séries com cenas picantes, que ajudam a fantasiar. Com esse repertório, chegam na hora do sexo com o mindset conectado com aquele contexto íntimo.
— Isso tudo ajuda o estímulo a estar vivo dentro do cérebro. Precisamos criar repertório, montar uma história sensual dentro da nossa cabeça. Porque se a pessoa ficar sempre com o que já conhece, vai acabar caindo na mesmice, o que não é excitante no longo prazo — afirma.
Para quem não está em um relacionamento fixo e longo, o tesão é um pouco diferente, segundo a especialista – não se aplica aquele "prazo" de dois anos. Como a novidade está presente a todo momento, com novas parcerias, estímulos e descobertas íntimas, a tendência é que o desejo espontâneo permaneça atuante.
"A falta de beijos demorados diminui a vontade de transar"
MARIANA RODRIGUES
Ginecologista e sexóloga
No entanto, há diversos fatores capazes de influenciar no tesão de qualquer mulher, esteja ela em um relacionamento ou não, como a autoestima, o repertório sexual, o autoconhecimento sobre o que lhe dá prazer, a capacidade de fantasiar para instigar sua vontade de transar, a fase da vida em que está, entre outros.
— Se é uma mulher de 18 anos com bastante liberdade, ou uma mãe com um bebê de quatro meses em casa, amamentando, ou se é alguém experimentando as alterações hormonais da menopausa, tudo isso tem bastante influência no desejo feminino. A parceria também influencia, já que a mulher tende a ter mais desejo quando se sente abraçada, acolhida e quando a relação tem confiança — descreve Mariana Rodrigues.
Desejo que não acaba
Há quem fuja à regra, destaca a ginecologista, podendo dizer com confiança: “Estou casada há vários anos e o meu tesão vai muito bem, obrigada”, o que é plenamente possível. Para ela, isso costuma ocorrer entre casais que continuam se estimulando de maneira adequada, mantendo-se em sintonia, conectados de forma recíproca.
— A conexão do casal é o que faz o desejo ficar vivo. Se o casal se trata bem, se olha, se beija, namora, passeia, provavelmente a mulher vai continuar tendo vontade de estar com a parceria para a relação sexual. A primeira coisa que sempre pergunto às pacientes é: "Como está a questão do beijo, do abraço? Se beijam por alguns segundos ou é só aquele selinho passageiro?". A falta de beijos demorados diminui a vontade de transar — diz Mariana.
Também vale prestar atenção aos fatores pessoais, que podem estar atrapalhando o tesão, como o estresse, a sobrecarga no trabalho e, em casa, o relacionamento com o seu corpo e imagem, além do gasto excessivo de tempo em frente às telas. São características que podem ser trabalhadas com auxílio profissional no intuito de recuperar o desejo sexual.