Você já cogitou beijar o seu parceiro ou a sua parceira por seis segundos no momento em que estiver se despedindo para ir ao trabalho ou no meio da preparação de um jantar, por exemplo? Recentemente, começou a circular nas redes sociais, especialmente no TikTok, vídeos de casais que declaram que o boca a boca mais duradouro tem sido importante para as relações.
As publicações são inspiradas em afirmações do pesquisador dominicano John Gottman, especialista em relacionamentos, que diz que um beijo de no mínimo seis segundos seria o ideal para possibilitar a geração de vínculos e provocar benefícios aos envolvidos.
Apesar da especificidade da duração, o tempo não é uma regra. A proposta de Gottman é que os pares incorporem em situações do cotidiano beijos "longos o suficiente para criar um momento de conexão".
O beijo é uma das principais formas de demonstração de afeto entre os casais e é um estímulo físico que indica o desejo de estar perto da outra pessoa, pontua a ginecologista e sexóloga Jéssica Zandoná, membro da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do RS (Sogirgs).
A médica cita, inclusive, que há estudiosos que consideram o toque boca a boca algo mais pessoal e íntimo do que o próprio sexo.
Nesse sentido, o objetivo de um ato mais longo acaba sendo trazer consciência para a ação e não deixá-la no automático. É colocar o foco na parceria.
— Hoje, com esse mundo muito imediato, as pessoas pararam de ceder mais tempo para o toque físico e para o contato pessoal. A teoria é justamente uma questão para refletir sobre a importância do estar presente no momento, do aqui e agora — aponta a especialista.
A psicóloga sexóloga Lucia Pesca reforça essa perspectiva. Para ela, qualquer beijo é uma forma de conexão compartilhada.
— Não precisa ser aquele prolongado, de língua, com sons. A intenção não é nem o toque dos lábios, é deixar claro: eu lembrei de você. E você me recebeu bem na hora que eu fui dar um beijo. Toda essa conexão emocional é o que leva a esse toque, é que faz com que as pessoas criem esse vínculo — reflete a psicóloga.
Benefícios da prática
O ato de beijar provoca uma reação química no corpo, capaz de desencadear benefícios à saúde física e emocional. De acordo com a médica, o contato aciona diferentes áreas do sistema nervoso, que entende o gesto como algo positivo.
A prática propicia a liberação de serotonina, conhecida como o hormônio do prazer e da felicidade, assim como a de ocitocina, ligada à criação de vínculos, ao amor e ao afeto.
— Ele gera a produção de hormônios, de neurotransmissores e de substâncias positivas no nosso cérebro. O beijo é encarado como algo positivo, como algo importante. Toda essa interconexão do que ele representa para o emocional também reflete na saúde física — aponta Jéssica Zandoná.
Beijar, abraçar e tocar
É comum que os casais diminuam a frequência do beijo ou que passem a realizá-lo apenas durante a relação sexual. Dessa forma, um gesto dado de modo mais consciente seria uma forma de procurar retomar o entusiasmo no relacionamento e de reativar as sensações de confiança, o senso de pertencimento e a intimidade, que podem ir se perdendo com o passar do tempo, se ações conjugais não são estimuladas.
— Toda a construção da intimidade e do relacionamento precisa estar presente durante todo o dia do casal e não só quando há intenção de ter a relação sexual. É um sinal de alarme, sim, quando se deixa de beijar, mas também quando deixa de se acariciar, abraçar, elogiar ou quando deixa de trazer palavras positivas para esse relacionamento — diz a sexóloga.
Lucia Pesca defende que qualquer tipo de interação pessoal, seja o beijo em momentos mais singelos, abraços, toques no cabelo, dar as mãos, um apoio emocional ou outra manifestação de cuidado e afeto é essencial para a manutenção do relacionamento a longo prazo.
— Quando nos sentimos amados, lembrados pela outra pessoa, criamos uma maior conexão, criamos amor. Muitas vezes, aquilo fica reverberando no nosso pensamento, o que nos leva também a ter mais vontade do contato mais íntimo, que seria o sexo. Agora, se passamos o dia inteiro sem se beijar, sem se tocar, sem mandar uma mensagem, isso afasta as pessoas — declara Lucia.
*Produção: Carolina Dill