Ganhando notoriedade nas redes sociais e figurando também nos consultórios psicoterápicos, o termo "relacionamento pocketing" conceitua relações nas quais um dos envolvidos esconde o parceiro do convívio público.
A expressão é derivada do inglês pocketing, que, em tradução livre, significa "colocar no bolso". Segundo a psicóloga Desirèe Monteiro Cordeiro, não se trata de uma característica das relações, mas de um traço tóxico.
— É como se a relação fosse um segredo, como se ela só existisse no ambiente privado das pessoas que a compõem. Fora desse ambiente privado, uma das partes não demonstra afeto, não inclui a outra no seu círculo de amigos e não apresenta para a família — exemplifica a profissional.
— Esse conceito está diretamente relacionado a um comportamento que acaba se mostrando tóxico, porque a outra parte não está de acordo. Quando há consenso e os dois decidem manter a relação em segredo, já não se configura mais o pocketing — pondera.
Para Andréa Alves, psicóloga especializada em atendimento a casais, são diversos os fatores que podem levar alguém a praticar esse tipo de relação, desde experiências ruins vividas em relacionamentos anteriores até a preferência pessoal por manter o sigilo.
Entretanto, em muitas das vezes, a motivação vem de um sentimento de vergonha em relação ao outro, em geral, por aspectos como a aparência, o jeito e a classe social. Também pode estar ligado à infidelidade, quando a pessoa esconde a relação porque já tem outro compromisso ou deseja continuar se relacionando com outras.
Independentemente da motivação de quem o executa, o pocketing pode causar prejuízos emocionais a quem é "colocado no bolso", conforme as especialistas.
— Às vezes, quem sofre isso nem percebe que está sendo escondido. Quando a pessoa se dá conta de que está vivendo uma relação assim, a sensação é de menos-valia. Ela vai questionar suas qualidades, questionar sua aparência e achar que o problema é com ela. É algo que pode trazer muitos danos e traumas, sobretudo à autoestima — afirma Desirèe.
— Dentro desse contexto abusivo, muitas vezes a pessoa que sofre o pocketing entende que precisa aceitar essa condição, mesmo que para ela não esteja bom. E aí ela vai tentando achar justificativas para a postura do outro, nutrindo esperanças de que um dia será diferente. Isso acaba gerando muito sofrimento psíquico — completa Andréa.
Sinais de alerta
O primeiro passo para identificar se está em um relacionamento pocketing é observar o comportamento do parceiro ou parceira e avaliar se as condições da relação são transparentes e satisfatórias para ambos. Somente o diálogo permitirá entender se a questão pode ou não ser ajustada a contento dos dois, como destaca Andréa Alves:
— Há uma grande diferença entre esconder alguém deliberadamente, com a intenção de enganar, e fazer isso sem ter esse intuito, mesmo que acabe magoando. É importante conversar e identificar com qual situação está lidando.
Quando se constata que há um comportamento traiçoeiro, a melhor opção é buscar formas de sair da relação.