Foi sentada no chão do banheiro, ajeitando a minha caixinha de absorventes, que me peguei pensando em um passado bem distante: aquele em que tínhamos uma vergonha absoluta de menstruar.
Lembro da época do colégio, na quinta série, quando só uma das minhas colegas já tinha "virado mocinha". Todo mês a ida ao banheiro com aquele pacotinho escondido era um pesadelo para ela, que se sentia tão diferente de todas as outras meninas ali. Nosso grupo se compadecia, ao mesmo tempo em que cochichava "tomara que demore pra acontecer com a gente". Ter sangue saindo pela vagina nos parecia assustadoramente dolorido e traumático. Que bobagem.
Quando chegou a minha vez, aos 12 anos e sentada na privada pós-aula, nada me pareceu tão natural – exatamente como deve ser. Meu corpo estava funcionando, eu estava em contato com a matéria orgânica mais bonita e viva, afinal. E eu adorava a sensação de me sentir mais mulher do que nunca. Até porque inúmeras ligações aconteceram para contar a novidade para toda a família. Até adulta eu me senti – com 12 anos, vale lembrar. Que bobagem (2).
Avançando alguns bons anos e já plenamente acostumada com a rotina mensal de sangrar e fazendo uso de pílula anticoncepcional, começava então uma nova fase: agora eu também transava e também menstruava e as duas coisas poderiam coincidir, eventualmente. Nem todas as minhas experiências foram alegres, admito: já teve lençol e colchão manchado, já teve homem que achou "melhor não" e já teve momentos em que aquela lingerie maravilhosa sujou também. Mas nunca foi exatamente um problema: eu transo desde os 15 anos (faz as contas, tenho quase 33) e até hoje ainda gosto de debater com pessoas que fazem cara de nojo quando entramos nesse tópico.
Por que ter nojo de sangue? Tecnicamente, a menstruação é apenas a descamação das paredes internas do útero – não é sujo e nem feio, pode acreditar.
Transar menstruada, o tema central da minha coluna de hoje, é quase o apelo que faço a todas vocês. Tentem pelo menos uma vez e acreditem quando eu digo que a "paranoia do nojinho" é infinitamente mais nossa do que deles. Saibam que a lubrificação fica ainda melhor, a sensibilidade, então, nem se fala – a libido dá duas voltas até a lua. Permita que o seu parceiro faça sexo oral, sim! Tudo se resolve com um absorvente interno, um banho rapidinho, uma toalha escura na cama. Mantenham o bom e velho lencinho umedecido na cabeceira ou, em casos muito extremos, corram pro chuveiro e aproveitem esse sexo molhado (em todos os sentidos).
Transar menstruada é quase um protesto e também uma desconstrução: somos fêmeas de qualquer forma, com nossos sangue sagrado e secreções. Depiladas ou não, com corpos lindos em todas as nossas diferenças. Somos mulheres com energia sexual que emana de todos os poros, sobretudo nesse período. A menstruação é a nossa conexão com a natureza. E não tem nada mais poderoso do que isso – somente os orgasmos que chegam de brinde.
PS: USE CAMISINHA SEMPRE.
Jordana Laitano é publicitária, produtora de conteúdo, feminista, entusiasta das conversas de bar e das histórias de amor. Escreve quinzenalmente sobre sexo e relacionamento em revistadonna.com.