Em uma brincadeira feita no seu perfil do Instagram, a cantora Anitta confessou que já fingiu estar tudo bem para um namorado, quando, na verdade, estava sentindo muito ciúmes.
— Sempre! Eu não falo, deixo me corroer por dentro — disse ela nos stories na última quinta-feira (2).
A atitude da cantora trouxe à tona o debate acerca desse sentimento tão controverso e, ao mesmo tempo, protagonista em brigas de casais. Afinal, é saudável escondermos do parceiro quando sentimos ciúmes?
Para falar mais sobre o assunto, conversamos com a psicóloga Luciana Fossi e perguntamos para nossas leitoras nas redes sociais como elas enxergam a situação.
Mas, afinal, o que é o ciúmes?
Para a psicóloga, o ciúmes é a reação emocional desencadeada pela percepção, que pode ser sensata ou exagerada, de que algum afeto - que supostamente deveria ser investido apenas em você - está sendo direcionado à outra pessoa.
O sentimento não existe exclusivamente nas relações amorosas e pode ser percebido, por exemplo, entre irmãos.
— Significa o desejo de exclusividade de apreço e afeto por parte de alguém que amamos e por quem desejamos ser amados — explica ela.
Faz bem esconder o ciúmes?
A profissional aponta que, às vezes, sabemos que o sentimento é infundado e nossa percepção pode estar exagerada. Por isso, a resposta para a pergunta diz repeito a um processo pessoal e íntimo de autoconhecimento.
Para lidar com o ciúmes, é importante reconhecer que existem momentos nos quais estamos mais frágeis e, por isso, o sentimos. Muitas vezes não é sobre o relacionamento em si, e sim sobre um processo interno.
É importante que cada casal tenha muita nitidez sobre o que esperam um do outro no relacionamento, sobre as “regras” deste contrato
LUCIANA FOSSI
psicóloga
Porém, é claro, se o sentimento for recorrente, pode indicar que há algo errado na relação e que algum ponto precisa ser revisto. Independentemente do caso, é fundamental que o diálogo seja uma constante no relacionamento.
— É importante que cada casal tenha muita nitidez sobre o que esperam um do outro no relacionamento, sobre as “regras” deste contrato. Diante disso, é sempre importante o diálogo franco e honesto sobre a relação. Diálogo requer a capacidade de comunicar-se de forma objetiva e também estar aberto à escuta. É preciso considerar o que estamos sentindo, tanto quanto buscar compreender o que se passa com o outro, para que junto o casal possa amadurecer a relação— aconselha a profissional.
O que é um "ciúmes saudável"?
Luciana diz não acreditar que o sentimento por si só possa ser saudável ou prejudicial, mas que existem relacionamentos nos quais o casal consegue se comunicar de forma fluida e amadurecer a partir dos conflitos - e outros em que não.
Para ela, em relações saudáveis os sentimentos tendem a ser acolhidos um pelo outro, amenizando os desconfortos que o ciúmes pode trazer. Por outro lado, relacionamentos muito conturbados, por vezes marcados até mesmo por opressão e violência, não possuem este espaço de diálogo e comunicação.
— O fundamental é olhar para a qualidade da relação, estar atento para a dinâmica “investimento-retorno”, perceber se esta parceria produz potência e sentido de vida — afirma.
O que elas dizem
"Guardei para mim por não querer parecer louca ou surtada, exagerada, sabe? Não querer alimentar uma discussão sem sentido. Também ficava com medo do meu namorado perder a autonomia das coisas que faz, de começar a se privar de agir de certa forma por receio de como vou reagir. Eu prefiro que a pessoa que eu me relaciono seja autêntica e aja conforme quiser.
Mas, com o tempo, eu descobri que é bom conversar sobre ciúme abertamente com o parceiro. Por mais que possa parecer difícil, é sempre melhor se abrir. Às vezes algo significa uma coisa na nossa cabeça, e, para a pessoa, é algo completamente diferente. Aí eu comecei a falar. Também ajuda a lidar melhor com a situação, mas tem que ter noção também. O limite do ciúmes é curto pra mim. É normal sentir, mas não pode interferir no livre arbítrio do outro.
Claro que tem coisas que não custa o outro abrir mão de fazer para não deixar o parceiro inseguro. Mas que não interfiram muito. Por isso a conversa é tão boa, porque ajuda a estabelecer limites dentro do próprio namoro. Precisamos ser sinceros sempre, mesmo que pareça bobo. É melhor dizer do que guardar e virar uma bola de neve depois. Mas nunca proibir ou querer mandar, controlar"
Camile Belmonte, 21 anos, estudante de Jornalismo
"Eu já senti ciúmes e escondi o sentimento do meu parceiro para não 'pagar de louca'. Eu achava que estava louca, afinal, era o que ele me dizia sempre que eu implicava com a colega de trabalho também casada, que 'era só uma amiga'. Por isso, eu escondia meu ciúmes e aquilo me consumia. Até que, um dia, descobri que eu não era louca, que a amiga casada, na verdade, saía do trabalho para transar com meu marido em algum motel, enquanto o marido dela cuidava do filho pequeno dos dois. Comecei a perder cabelo, ter espasmos, emagrecer... Tudo porque sentia ciúmes e não externava para não pagar de louca. Foi uma fase bastante difícil, mas que passou... Resumo da história: hoje se tenho ciúmes, eu falo, doa a quem doer. Afinal, não sou louca para ver coisa onde não existe. Homens, não falem que suas parceiras são loucas e assumam as besteiras que vocês fazem. Honestidade em primeiro lugar"
Não quis ser identificada, 29 anos, advogada
"Acredito que esse ciúmes saudável, que a gente fala, é fruto de uma sociedade que mantém a ideia de que alguém te pertence, sabe? Por exemplo, meu namorado não é minha propriedade, ele não é 'meu' homem. Sempre achei que sentir ciúmes era uma sentimento ótimo porque significava que a pessoa gostava mesmo de ti. Mas depois eu notei que só sentia ciúmes em relacionamentos que foram tóxicos ou 'não saudáveis', onde existia muita cobrança um do outro.
Já escondi o ciúmes em um relacionamento que a pessoa me cobrava muito 'ser mais madura', eu tinha uns 14 anos. Então escondia para deixar meu parceiro feliz, e assim ficava infeliz. Mas a gente não tinha diálogo. Hoje é completamente diferente, porque se eu sinto algo perto de ciúmes, já sento e converso. Com meu namorado atual, conversamos sobre tudo e deixamos o diálogo muito aberto, falamos muito sobre a cultura de 'pertencer a alguém' e isso ajuda a eliminar o ciúmes no relacionamento. Acho que o mais importante é o diálogo entre os casais"
Laura Blum, 20 anos, estudante de Letras