A convivência a dois quase 24 horas por dia tem sido um desafio para muitos casais. A mudança na rotina em função das medidas de distanciamento social, necessárias por causa da pandemia do coronavírus, pode gerar estresse e ansiedade, facilitando a ocorrência de conflitos entre quem está passando por este momento com outra pessoa.
Uma pesquisa do Instituto do Casal, de São Paulo, apurou o que tem motivado as brigas de casal neste período em casa. Pela internet, foram ouvidas 709 pessoas de 18 a 51 anos, e de diferentes orientações sexuais.
O resultado foi comparado com outro levantamento feito pelo instituto em 2018, que também listava as principais razões das discussões conjugais. O objetivo é analisar uma possível mudança de comportamento durante a pandemia.
Entre as 10 opções, conforme a nova pesquisa, o uso excessivo de celular é o principal causador dos desentendimentos: subiu da terceira para a primeira posição. Foi apontado por 33% dos entrevistados (confira o resultado completo do levantamento abaixo).
– No atual contexto, é provável que os casais tenham flexibilizado os valores quanto ao uso do celular, pois é por meio dele que estão se conectando com o trabalho, amigos, família. Essa flexibilização, sem limites, tornou-se um conflito e precisa ser administrado – acredita Marina Simas, cofundadora do instituto e especialista em terapia de casal e família.
A divisão das tarefas domésticas também subiu no ranking, passando do quinto para o segundo lugar. Foi apontada por 32% dos participantes da pesquisa. O terceiro motivo mais citado é o excesso de críticas, com 31% das respostas.
A pesquisa também revelou a frequência das discussões: 31% responderam que brigam, pelo menos, uma vez por semana; 20% mais de uma vez por semana e 19% afirmaram que raramente têm conflitos.
Em entrevista à Donna no mês passado, a psicóloga clínica e terapeuta de casais Katy Ziegler Hias disse que a hiperconvivência ganhou ares de "prova de fogo" para boa parte dos casais, ainda mais em um cenário de incertezas:
– Vivemos um momento de luto social. A rotina das famílias foi tumultuada de forma abrupta, e essas mudanças fazem com que os casais tenham dificuldade de administrar tudo. Os sentimentos são potencializados, geram mais conflito, o cenário é um gatilho para o confronto conjugal.
Para tornar a convivência mais harmoniosa, a terapeuta Helena Centeno Hintz aposta no diálogo franco. Ela acredita que há como evitar discussões que não terão resultados positivos, mas apenas perdas para o casal:
–Podem fazer uma combinação de que, se não estiverem conseguindo conversar, é preciso parar racionalmente, dar uns 15, 20 minutos, para depois retornar o assunto. É uma chance de não tornar a briga tão grande. Pode até criar um código para avisar que não é uma boa hora, que é preciso refletir antes de falar. Quando um sinalizar para o outro, voltam a conversar dali a um tempo. Esfriar a cabeça, ainda mais agora. Mas, combinem antes, coloquem limites. Tentar gerenciar as emoções é essencial – explica.
Por que casais brigam na pandemia?
- 33%: uso excessivo de celular
- 32%: divisão de tarefas
- 31%: excesso de críticas
- 26%: falta de romance
- 26%: rotina do casamento
- 24%: ausência de diálogo
- 23%: excesso de tempo trabalhando
- 20%: escassez de dinheiro ou dívidas
- 19%: criação ou educação dos filhos
- 17%: falta de tempo para o relacionamento
Qual é a frequência das brigas?
- 30%: ao menos uma vez na semana
- 20%: mais de uma vez por semana
- 19%: raramente acontecem
- 14%: ao menos uma vez ao mês
- 10%: pelo menos uma vez no dia
Como os casais resolvem os conflitos?
- 60%: conversam e procuram entrar em acordo no mesmo dia
- 35%: só conseguem resolver o conflito depois de alguns dias
- 2%: procuram um terapeuta de casal
- 1%: buscam ajuda na religião (pastor, padre, bispo, etc)
- 0,8%: procuram ajuda de um terceiro da família (pais, sogros, irmãos)
Quais as mudanças ou problemas trazidos pelo isolamento social?
- 53%: ansiedade
- 51%: rotina
- 34%: financeiros
- 32%: clima
- 31%: mau humor
- 31%: perspectivas
- 30%: distúrbios do sono
- 22%: sexuais
- 21%: sensação de confusão
- 15%: distúrbios alimentares
- 13%: depressão
- 9%: abuso de álcool
*a soma passa dos 100% pois era possível escolher mais de uma alternativa
A pesquisa foi feita entre os dias 30/5/2020 e 5/6/2020, pela internet, com 709 pessoas de diversas orientações sexuais e faixa etária de 18 até 51 anos ou mais.
Fonte: Instituto do Casal