Camila Maccari, especial
Quem já passou pelo fim de um relacionamento sabe que não há como terminar com alguém de forma indolor: é preciso lidar com frustração, tristeza e vulnerabilidade até superar o rompimento. Mas um estudo publicado em agosto na Revista Family Relations mostra que, quando esse ciclo se repete com o mesmo parceiro, tudo se complica.
De acordo com a pesquisa da Universidade do Missouri, nos EUA, relacionamentos ioiô estão associados a taxas mais altas de abuso e a níveis mais baixos de comunicação e de comprometimento. Não quer dizer que você não deva dar uma segunda ou terceira chance para aquela pessoa, mas que é importante descobrir uma forma de estabilizar a sua situação – o famoso ou vai ou racha.
– Às vezes, quando se dá um tempo, é justamente para que as pessoas possam identificar que tipo de convivência a dois elas querem. A partir disso, muita gente percebe que quer tentar de novo – explica a psicóloga e terapeuta de casais Rafaela Teló Klaus.
O problema é quando as idas e vindas se tornam padrão. Os pesquisadores avaliaram 545 participantes: 266 estavam em relacionamentos heterossexuais e 279 com pessoas do mesmo sexo. O resultado mostrou que, quanto mais um casal termina e faz as pazes, maiores os riscos de depressão, ansiedade e outros sinais de sofrimento psicológico.
Aos 28 anos, Beatriz* sentiu a turbulência no namoro influenciar diretamente sua saúde mental. O primeiro rompimento se deu aos sete meses de namoro. Durante duas semanas, a maquiadora conta que viveu uma espécie de luto. Decidiram dar outra chance, mas, quatro meses depois, ele quis terminar de novo. O episódio foi gatilho para crises de ansiedade e de pânico que a levaram a buscar ajuda psiquiátrica. Eles voltaram e romperam outras duas vezes até que o padrão estabelecido se tornou intolerável para Beatriz:
– Na última ameaça de término, resolvi colocar um ponto final. Não foi fácil, mas sempre chega um momento em que você percebe que não precisa mais passar por isso.
Marina, 27 anos, viveu sete anos entre idas e vindas. E só depois do fim definitivo se deu conta de que aquela era uma relação tóxica. Foram quatro rompimentos turbulentos, entremeados por períodos a distância, relações com outras pessoas e uma tentativa de morar juntos, até culminar no fim definitivo.
– Chorava muito, pensava que não amaria mais ninguém, e a cada volta duvidava cada vez mais do amor dele. Fiquei obsessiva, investigava tudo, descobria muitas coisas, mas acabava perdoando. No fundo, não aceitava o fim. Brigávamos demais, ao mesmo tempo em que, nos períodos mais tranquilos, o sexo era ótimo e nos divertíamos muito – conta a administradora.
É justamente essa espiral de emoções intensas um dos fatores que levam ao vai e volta, especialmente quando não há dependência financeira ou filhos envolvidos, como explica Rafaela Klaus:
– Você se apaixona, sofre, termina, volta, o sexo é maravilhoso. É uma montanha-russa que pode acabar levando para um sentimento muito forte de raiva. E muita gente só consegue sair dessa situação quando passa a sentir raiva.
Luciana conta que conseguiu romper o ciclo antes do estágio da raiva, após fazer uma análise da relação com a namorada com quem estava junto havia quatro anos. As experiências anteriores já tinham mostrado que as idas e vindas eram resultado das dinâmicas de manipulação e recompensas rápidas. Há um ano, a publicitária conseguiu terminar de vez:
– O vício em sofrimento nos leva a ficar tentando permanecer em experiências que não servem mais para ambas as pessoas. Quando entramos em uma história, temos coisas para dar e para aprender. Quando o ciclo se encerra, insistir é uma tentativa de estar sempre vivendo o drama.
A consciência do que nos prende a situações que não estão nos fazendo bem é crucial para colocar fim a relacionamentos inconstantes. Para a psicóloga, é preciso sempre se perguntar se a situação que você está vivendo vai ao encontro dos seus valores:
– Quando estar junto não constrói nem traz nada daquilo em que você acredita, é importante colocar em uma hierarquia o que é mais importante no momento: a relação ou o autorrespeito.
Essa reflexão também passa por questões como entender o que você está disposta a tolerar, quais são seus limites e expectativas, além de superar os romances idealizados que a gente vê em filmes e nas redes sociais. Na prática: vocês até podem parecer um casal perfeito no Instagram, mas só cada um realmente sabe como se sente e o quanto vale a pena investir na relação. Às vezes, também é preciso reconhecer que a existência do amor não pressupõe felicidade na convivência a dois em uma relação desgastada.
– Quando estamos apaixonados, a tendência é deixar a emoção falar mais alto do que a razão. Mas a mente racional é quem ajuda a analisar melhor as coisas. É possível chegar ao equilíbrio entre razão e emoção e tomar uma decisão sábia – avalia a psicóloga.
Você poderá, eventualmente, perceber que é melhor recomeçar sozinha.
– Não foi fácil. Mas agora sei que mereço algo melhor e que, por mais que tentássemos, não era para ser – afirma Marina. – No mês passado mesmo, quase achei que voltaríamos, mas aí já reconheci comportamentos que eram tóxicos e consegui me afastar.
*Os nomes foram trocados a pedido das entrevistadas