Os filhos foram a ponte para um grupo de mulheres criar laços que a distância só serviu para reforçar: amigas são irmãs que escolhemos. A pandemia fez com que elas abusassem da criatividade para celebrar a gravidez de Ignez Jobim van Hoogstraten, que acabou sem chá de bebê em razão do coronavírus. A fonoaudióloga ganhou uma festa surpresa por videochamada, com presentes por tele-entrega, muitas lágrimas e emoção.
– Realmente, não esperava. Foi uma demonstração de carinho e amizade, de companheirismo. Temos muita coisa para passar juntas ainda – afirma Ignez.
Para marcar o Dia do Amigo, comemorado em 20 de julho, a Revista Donna reuniu histórias de mulheres que estão morrendo de saudade das suas parcerias e que deram um jeito de encurtar a distância física durante a pandemia. No caso de Ignez, ela criou uma forte conexão com outras 24 mães que se conheceram na escola de seus filhos, há cerca de cinco anos. Renata Lopes e Mariana Preis Bakos tiveram a ideia de marcar o chá usando uma videochamada do grupo como desculpa e todas compraram a ideia, incluindo a psicóloga Ana Carolina Peuker:
– Um bebê é um motivo para ser comemorado. Mesmo distantes, estamos perto. O grupo se tornou um lugar para expressarmos sentimentos e angústias diante de tanta incerteza.
A manutenção desse contato impacta diretamente na saúde mental, explica a psicóloga Marina Corbetta Benedet, doutora pela UFSC e professora da Univali. A tecnologia abre uma gama de possibilidades para não deixar os vínculos enfraquecerem. Porém, é preciso entender quais são as suas necessidades nesse momento atípico:
– Os encontros virtuais ajudam a minimizar a sensação de solidão, principalmente para quem sente a falta do toque, embora cada um deva identificar o que precisa de fato. O conceito de resiliência está muito atrelado à necessidade de rede de apoio.
A parada obrigatória forçou uma reflexão sobre valores e prioridades, incluindo nesta balança o lugar das amizades. Na opinião de Mara Lins, terapeuta e doutora em psicologia clínica, retomar contato com amigos que se perderam ao longo da vida ou parar para repensar que tipo de parceiro você tem sido podem fazer parte desse processo de revisão. E também gerar transformações para o pós-coronavírus.
– Todo mundo tem momentos de ansiedade e preocupação, é uma questão de saúde mental ter espaço para desabafar. O simples fato de poder mandar uma mensagem dizendo “estou aqui” já aquece o coração e é um vínculo que tem que ser acionado – avalia a diretora do Centro de Estudos da Família e do Indivíduo de Porto Alegre (Cefi).