Xuxa, 56 anos, postou uma foto sem maquiagem em suas redes sociais e foi alvo de duras críticas por "estar velha". As rugas de Luciana Gimenez, 50, também incomodaram os seguidores da apresentadora na internet. Já a atriz Claudia Raia, 53, costuma se esquivar desse tipo de julgamento no Instagram abordando a maturidade sem tabus em uma série de vídeos. E nem a rainha do pop saiu ilesa: aos 61 anos, Madonna deveria deixar a sensualidade de lado em seus clipes, defenderam alguns fãs e jornalistas.
Afinal, envelhecer é crime? Ter rugas e ser sexy é algo incompatível? É motivo de vergonha chegar à maturidade? Em alguma medida, a resposta para essas três perguntas é sim. No final de semana do Dia Internacional da Mulher, Donna convidou especialistas, influencers que trabalham com conteúdo para mulheres acima de 50 anos e um trio com profissões e estilos de vida distintos para falar sobre o tema.
Na nossa cultura, ressalta a antropóloga Mirian Goldenberg, "o corpo é um capital para as brasileiras". Por isso, passar dos 45 anos e deparar com cabelo branco, rugas e flacidez – por mais natural que a passagem do tempo seja – pode se tornar uma fase extremamente dolorosa. Só que Mirian, autora de livros como A Bela Velhice (2013) e Liberdade, Felicidade & Foda-se (2019), garante que há uma mudança de mentalidade em curso:
– Ainda existe quem policia o envelhecimento feminino, mas cresce muito o número daquelas mulheres que defendem uma liberdade maior de envelhecer em paz. Elas estão exaustas dessas cobranças, da social, da externa e da interna. Há uma reação, a busca por caminhos para envelhecer de forma diferente.
Na mira da opinião alheia, as artistas têm se posicionado fortemente sobre o tema. Em entrevista publicada por Donna, no ano passado, Claudia Raia pontuou:
– Idade não me define. Quero que sejamos vistas assim, na nossa completude.
Xuxa também foi enfática quando conversamos com ela:
– Só não envelhece quem morre cedo.
Em paz com o espelho
A arquiteta Cristina Langer, 58, cita as duas artistas como exemplos a seguir nessa nova fase da vida. Ela não tem vergonha de falar sobre a idade e diz que aprendeu a ser mais segura após os 50:
– Não dou a mínima para o que as pessoas pensam. Meu filho mais novo às vezes brinca quando coloco alguma roupa: "Mãe, tu acha que tu tem idade para isso?". E eu digo: "Vou vestir e pronto". Prezo muito conforto, jeans, tênis, sapatilha, uso short. Quando estou usando roupa curta ou decotada, ele fala: "Pô, mãe, tu não é mais guria, né". Eu não me importo.
Para Cristina, a menopausa se transformou em um grande desafio. As mudanças hormonais resultaram em quilos extras, além dos altos e baixos na libido e no sono. Com reeducação alimentar e atividade física, ela voltou ao peso de costume, embora a firmeza da pele já não seja mais a mesma.
– A gente se cobra. O que aconteceu comigo? Não sou eu, essa pele não é minha! A gente fica diferente. Tenho bastante ruga no rosto, por exemplo, mas nunca fiz plástica, só botox. No rosto, me incomodava bastante. A pele da perna não tenho vontade de olhar, daí eu não olho (risos) – conta Cristina. – Me olhar no espelho faz eu ter saudade do antes, mas não pelo medo de envelhecer. É mais a saudade da pele firme. Ao mesmo tempo, as rugas me lembram onde cheguei.
Assim como a arquiteta, há uma parcela significativa do público feminino entre 45 e 65 anos que também se sente cada vez mais segura para viver a maturidade sem tanta cobrança. Uma pesquisa encomendada pela Avon em 2016 apontou que 68% das entrevistadas acreditam que as mulheres mais velhas são mais valorizadas hoje do que eram há 10 anos. Já 65% afirmam não se preocupar com a opinião dos outros para se sentir feliz com a aparência, e sete entre 10 se enxergam bonitas.
Novos prazeres
É essa segurança que Zaira Soutinho, 52, deixa transparecer ao falar sobre sua relação com a maturidade. Ela se sente bem com seu corpo, tem uma rotina de cremes anti-idade, faz massagem estética e diz que não abre mão do biquíni na praia. Sabe que talvez não tenha as curvas de seus 30 anos, mas fica satisfeita por ter disposição e liberdade para fazer o que gosta sem dar satisfação a ninguém.
– Estou fazendo sapateado, sempre quis e só comecei agora. Cheguei nessa idade e pensei: vou fazer o que não consegui antes. É o que a maturidade me trouxe. É a frase: envelhecer é inevitável, ficar velho é opcional – defende a funcionária pública.
Zaira é vaidosa, gosta de looks coloridos, saias e colares. O cabelo crespo e volumoso puxa para um dourado que se mistura aos fios grisalhos. E se alguém nota os brancos, ela diz não se importar:
– Não é para esconder, não me incomoda. Se aparecer, está tudo bem. Acho que me aceito como eu sou. Só digo uma coisa: temos a idade que nos permitimos ter.
A escolha de deixar os poucos fios brancos à mostra funciona como um manifesto pelo direito de envelhecer, avalia Jane Felipe, professora da Faculdade de Educação da UFRGS e integrante do Grupo de Estudos de Educação e Relações de Gênero. A pesquisadora conta que muitas mulheres se sentem invisíveis nessa faixa etária e acabam agindo como se pedissem desculpas por chegarem à maturidade:
– O embranquecimento dos nossos pelos demarca a existência de um corpo no estado natural, os corpos envelhecem. Exibir esse cabelo branco é um ato político, principalmente para as mulheres entre 40 e 50 anos. Assim como há outros movimentos de mulheres que decidem não se esconder e mostrar os corpos. É uma denúncia por uma violência contra as mulheres, essa exigência que elas permaneçam em determinado corpo.
Desafio profissional
No caso de Magda Martins, não é o corpo ou o cabelo que concentra os olhares desconfiados, mas sim, seu trabalho. Aos 55 anos, ela é modelo. A vida em frente às câmeras sempre esteve em paralelo a sua carreira – ela é professora de formação e já empreendeu na área da educação. Após a aposentadoria, há três anos, ganhou mais tempo para se dedicar a modelar:
– Não falo que sou modelo em qualquer grupo, sei que existe preconceito. Tem gente que torce o nariz, tem gente que acha curioso. Já presenciei uma pessoa durante um teste dizendo que uma modelo era muito velha para ser par de um outro homem que estava lá. Podia ter dito de uma forma diferente. Tenho que ter jogo de cintura nesses momentos.
A modelo garante que o mercado está cada vez mais aberto às mulheres maduras. E, de fato, histórias como a de Isabella Rossellini – filha de Ingrid Bergman –, têm ganhado repercussão da mídia. A italiana foi um dos rostos da Lancôme por 15 anos, porém, ao completar 42, foi dispensada. Com 65, ela foi recontratada pela marca, que quer retomar a comunicação com a mulher madura por meio de seus produtos e campanhas.
– A publicidade já se deu conta de que só rostos jovens não dá. É necessário mulheres mais velhas, e elas precisam se sentir bem representadas. Pagamos pelas coisas que queremos, somos bem-resolvidas, temos poder aquisitivo maior, representamos uma grande parcela do mercado. Somos um nicho e precisamos dessa representatividade – explica Magda.
Se tem um corretivo, tenta suavizar o que não lhe agrada. Mas a modelo diz que lida bem com as marcas de expressão. Pilates e ioga fazem parte da rotina, só que onde ela se diverte mesmo é no coral. Magda voltou a cantar desde a aposentadoria. No fim das contas, dar risada é o objetivo, mesmo que o sorriso largo evidencie o bigode chinês:
– Tenho essas rugas, mas são mais de risadas do que de tristezas. São das gargalhadas boas, sabe? Sinto orgulho porque sei que essas marcas de expressão são disso.