Era uma entrevista para falar de Madame X, o novo disco e a nova turnê. Mas a primeira pergunta foi a de sempre: como é ser Madonna aos 60 anos? "Se eu fosse homem, nós não estaríamos discutindo a minha idade", ela respondeu.
Talvez não seja a coisa mais fácil do mundo, mesmo com todo o dinheiro, os recursos, as possibilidades, os milhões de fãs. Não para Madonna, mas para os outros. Em um dia ela surge como um sismo (ia escrever furacão, mas achei chavão demais. Nada como um Google nos abalos da natureza para se descrever um fenômeno pop) que influencia para sempre a música, a estética, a moda e o comportamento de uma menina do Piauí, de uma senhora de Hokkaido, de um garoto do Texas, de uma alemã com cinco filhos na periferia de Berlim.
No dia seguinte já se passaram, digamos, 30 anos. Madonna dança por duas horas em seu supershow com um orçamento que mataria de inveja qualquer prefeitura do Rio Grande do Sul. Mas o repórter só tem uma pergunta: como é ser Madonna aos 60?
O tempo passa de um jeito que não dá para explicar, já que a gente está ocupada em viver. Mas passa e, junto com os filhos crescidos e outros brindes, traz certas limitações e chatices. É do jogo. Trata-se de encontrar gosto e graça na pessoa que se virou – mesmo que, dependendo da luz, às vezes ela pareça uma desconhecida lá do outro lado do espelho. Mais difícil do que estar em paz com o tempo, só mesmo os outros aceitarem que você envelheceu. No caso de Madonna, isso ainda inclui os entrevistadores que não cansam de perguntar: como é ter 60 anos?
Em agosto, Madonna faz mais um aniversário sem dar nenhuma pinta de que vai se aposentar. Mas nos posts em que divulga seus shows e nas matérias da internet, são inúmeros os comentários que a chamam de velha – em bom português, "véia" –, anciã, decrépita, antiga, caduca. Isso fora os palavrões e ofensas mais pesados, ela diz com tranquilidade. A mesma tranquilidade com que identifica a razão das agressões: poucos suportam que uma mulher de 60 anos continue encontrando prazer e alegria na vida. Seja o prazer e a alegria de se apresentar em um estádio lotado, seja o prazer e a alegria de ir para a cama com quem quiser.
Como é ser Madonna aos 60? É ser linda, fodástica e continuar incomodando".
Tudo bem diferente da reação geral quando Mick Jagger (75 anos) surge com um novo disco ou uma nova namorada. Ou quando Paul McCartney (77 anos) anuncia uma nova turnê. Ou quando Clint Eastwood (89 anos) lança um novo filme. Ou quando Harrison Ford (76 anos) quase colide seu avião com um Boeing lotado: puxa, ele pilota com essa idade, que incrível.
Como é ser Madonna aos 60? É ser linda, fodástica e continuar incomodando. Algo me diz que ainda teremos que aguentar essa diaba dançando na cara da sociedade por muitos e muitos anos. Que sorte.