Depois de um dos verões mais escaldantes dos últimos anos, enfim é outono. Lembro sempre de uma matéria com estudantes senegaleses da UFRGS que, perguntados sobre as temperaturas senegalescas de Porto Alegre, acharam a comparação injusta. No Senegal não é tão quente, eles disseram.
Pois a temperatura dos dias, agora mais curtos, segue alta, mas as noites ficaram mais amenas. A mudança de estação chegou trazendo um eclipse total do sol, que não foi visível por aqui, mas não importa. Quem conhece o assunto diz que um eclipse em áries é capaz de liberar boas energias a distância mesmo. Uma das muitas matérias garantiu que “o eclipse solar acontecendo sob a regência do signo mais determinado e impulsivo do zodíaco traz bons fluídos para se avançar em direção aos próprios objetivos”. Pelo sim, pelo não, mentalizei tudo de melhor às 15h20min do Brasil, hora H do fenômeno.
No creo em brujas, mas creo em energía.
Não a da CEEE Equatorial, claro.
O outono costuma deixar as pessoas mais introspectivas, e faz sentido. Dias menos luminosos convidam a gente a ficar mais com a gente. O escritor português Gonçalo M. Tavares sugere, em um de seus textos, que se pense para dentro como um exercício, algo assim como fazer apoios ou abdominais. Nessa época em que tudo precisa ser anunciado nas redes, não deixa de ser um exercício com certa complexidade, pensar para dentro.
Por exemplo: uma mulher de meia idade no outono, ela com ela mesma. Pensa que segue trabalhando como se tivesse 20 anos de idade, mas com 30 de experiência. Para o bem e para o mal, está muito distante do que se convencionou chamar de “repouso da guerreira”. Aliás, ela detesta ser chamada de guerreira. Tudo, menos guerreira.
A mulher de meia idade diante do seu espelho imaginário pensa que, diferentemente das folhas, que caem no outono, seus músculos caem um pouquinho a cada estação. Vai aproveitar os meses frios para dar uma caprichada na parte física e encarar com mais tranquilidade os próximos verões. Nem existe mais o conceito “corpo de biquíni”, todos os corpos estão liberados para desfilar suas imperfeições sem ligar para os julgamentos alheios. Acontece que a mulher de meia idade é a sua juíza mais implacável e diz que vai para a academia para ficar bem com ela mesma, ponto.
Embora siga todas as dicas 50+, nunca conseguiu ter a autoestima tão trabalhada quanto as influencers ensinam. A mulher de meia idade é real demais para isso e nada como a realidade para atrapalhar a autoestima. Por outro lado, foi a realidade que já tirou a mulher de meia idade de muita encrenca, sempre que por alguma razão ela quase entrou em fria.
No outono que é do calendário, mas é muito mais dela, a mulher de meia idade pensa que, a essa altura do campeonato, está preparada para tudo. Uma pena o mundo não estar preparado para ela.
Só não a chamem de guerreira.