Atriz, dançarina, produtora, palestrante, empreendedora, mãe. Aos 52 anos, Claudia Raia está no seu auge criativo. Tem tanta energia que, em meio à já agitada vida de artista, criou um projeto para incentivar outras cinquentonas a se libertarem de estereótipos que as afastam de buscar novos sonhos depois de chegarem aos 50 anos.
No programa 50 e Tantas, transmitido pelo IGTV, no seu perfil do Instagram, a atriz fala sobre moda, beleza, empreendedorismo e outras questões sob o ponto de vista de quem já viveu cinco décadas, é dona do seu dinheiro, sabe bem o que quer e ainda tem muito a realizar. Conta que, depois dos 50, aprendeu a ter mais paciência e direcionar sua energia para o que vale a pena. São esses aprendizados que quer dividir com suas seguidoras.
– Idade não me define. Somos mulheres, com nossas questões, nossos amores, algumas são mães... Cada uma com sua complexidade. E quero que sejamos vistas assim, na nossa completude – disse em entrevista exclusiva à Revista Donna.
Este tem sido um ano intenso para a atriz. Começou com o sucesso da novela Verão 90, na faixa das 19h da TV Globo, na qual deu vida a Lidiane, uma ex-atriz de pornochanchada, mãe de Manuzita, protagonista interpretada por Melissa Nóbrega (na primeira fase) e Isabelle Drummond. A novela foi dirigida por Jorge Fernando, que morreu no último dia 27 vítima de uma parada cardíaca. No Instagram, a atriz, que já havia perdido a mãe, em março, lamentou a morte do amigo:
“Perdi meu norte, meu tudo, meu grande diretor e grande amigo. A pessoa que me falava tudo que ninguém falava, conhecia todos os meus truques em cena, me desafiava, me trazia sempre para o novo, fazia eu me reinventar. Estou destruída…”, escreveu na postagem.
Depois de palestrar sobre empreendedorismo no painel Agas Mulher, da Expoagas, em agosto, Claudia Raia volta ao Estado com sua nova peça, Conserto para Dois. O espetáculo é dirigido pelo marido, Jarbas Homem de Mello, com quem também contracena. Já Claudia também produz o espetáculo. Os dois interpretam 11 personagens na comédia musical que passará por Porto Alegre, nos dias 7 e 8 de novembro, e Lajeado, em 10 de novembro. A meta é passar por oito cidades brasileiras até dezembro.
No papo com Donna, Claudia fala sobre seu momento profissional, maternidade e a fase de realizações na carreira – e na vida. Veja os melhores trechos a seguir.
Temos falado cada vez mais das mulheres ageless ou perennials, que mantém seu estilo de vida agitado independentemente da idade. Você se identifica com esse conceito?
E como (risos)! Se tem uma coisa que tenho é uma vida agitada. Mais do que isso, a ideia ageless vem para mostrar que a mulher tem seu espaço, seus desejos, seus anseios, em qualquer idade. As pessoas acham que mulher existe até os 30 anos ou depois, quando está com 90 anos, como Fernanda Montenegro. Parece que aquelas que estão nesse intervalo entram em um buraco negro. E não é assim, amor. Estou no meu auge criativo, pessoal e profissional. Tenho as rédeas da minha vida na mão. Estou produzindo, atuando no palco, desenvolvendo mil projetos. Feliz no amor. Feliz no trabalho. Muito realizada. E é sobre isso que quero falar. Tanto que criei, no meu canal do IGTV, o programa “50 e Tantas”, para falar sobre nós, mulheres com mais de 50 anos.
Como tem sido a repercussão?
Tenho um retorno grande de mulheres engajadas no debate, o que mostra que este diálogo precisa ser ampliado. E se as marcas querem pensar em termos de mercado, nós somos um mercado em potencial que está sendo negligenciado. A expectativa de vida no Brasil só aumenta. Fica a dúvida: vão continuar negligenciando as mulheres de mais de 50? Não dá mais para isso acontecer. Lá fora, essa discussão está mais avançada. A Jennifer Lopez encerrou o desfile da Versace (na Semana de Moda de Milão), um momento icônico. A Helen Mirren é a capa da Vogue Espanha.
O que os 50 trouxeram de mais positivo para você?
Uma certa paciência. Brinco que hoje vivo no modo econômico (risos). Sei o que merece minha energia. Não tenho mais aquela urgência. Tenho muitas coisas para realizar, muitos sonhos para correr atrás, mas faço isso de uma maneira mais focada. Escolho minhas batalhas. Isso vem com a maturidade, se a gente se permite aprender com a vida e com o passar do tempo.
Que estereótipos não aguenta mais ouvir sobre a mulher de 50?
Todos (risos)! Porque tudo isso só serve para colocar a gente numa caixinha, categorizar, simplificar. Não aguento que me digam que já realizei tudo e agora já posso descansar. Amor, é tanta coisa para fazer ainda. Brinco também que estou começando o segundo ato da minha vida agora. E que podem se preparar que será algo grandioso (risos). Patrulha de roupa é outra coisa que não entendo. Como assim? Uso o que tiver vontade. Idade não me define. Somos mulheres, com nossas questões, nossos amores, algumas são mães... Cada uma com sua complexidade. E quero que sejamos vistas assim, na nossa completude!
Hoje temos Jane Fonda em um comercial da Dior, exemplo de como a mídia começa a atentar-se para representar mulheres de várias faixas etárias. Como você vê essa mudança?
Ainda temos um longo caminho, especialmente no Brasil. Mas já estamos caminhando. E precisamos disso cada vez mais.
Você completa um ano de casamento em dezembro, mas está com Jarbas Homem de Mello há quase nove anos. O que muda em uma relação quando vocês se encontram depois de terem vivido outros relacionamentos longos?
O que muda é a maturidade mesmo. A gente se relaciona diferente também. E com cada pessoa estabelece uma relação. Acho importante destacar isso. É preciso ver aquela pessoa que está ao seu lado como inteira. Não quero moldar ninguém ou mudar a pessoa. O bonito é compartilhar, é aprender com quem está ao lado, crescer. Eu e Jarbas temos isso. Compartilhamos a vida de uma maneira muito plena. No nosso caso, é a vida pessoal e profissional (risos). E para nós isso é tão orgânico.
Você vem de um ano de muito trabalho, com Verão 90, suas palestras de empreendedorismo e, agora, a peça. Como está sendo conciliar tudo?
Sou uma pessoa que não para. Amo trabalhar, criar, fazer tudo junto ao mesmo tempo. No momento, estou focada em Conserto para Dois. É uma comédia musical divertidíssima com texto da Anna Toledo. Somos apenas Jarbas e eu no palco e nos revezamos em diferentes personagens. Contamos uma história, com personagens diferentes entre si, com partituras corporais e vocais muito diferentes. Fazemos muitas trocas de figurino, que são cronometradas. É algo inovador, desafiador e estamos amando.
Como tem sido dividir, além da vida pessoal, os palcos com Jarbas?
Nós adoramos essa troca profissional. Agora, por exemplo, além de atuar com Jarbas, sou dirigida por ele. É uma experiência ótima. É a primeira vez que ele me dirige. Sou uma atriz que gosta de ser dirigida. E ele conhece meus truques como atriz. Então, me leva por outros caminhos, nada óbvios. Isso para mim, como atriz, é maravilhoso.
Qual o ensinamento mais importante que sua mãe (que morreu em março) deixou?
Correr atrás dos meus sonhos. Aos 13 anos, ela me deixou ir para Nova York com uma bolsa de balé. Ela entendeu que eu queria voar e me fortaleceu para isso. Meus filhos sabem que estou ao lado deles para apoiá-los e ajudá-los, para vê-los crescer. E que eles são livres para escolherem o que quiserem.
Você congelou óvulos, não é? Há planos para ser mãe novamente?
Sim, congelei. Como a maternidade é algo em que ainda penso, preferi congelar. Ainda não sei quando vai ser, mas a vontade existe. Hoje estamos vendo mulheres com 45, 50 anos terem filhos. É uma realidade para a gente já. Quando nasci, minha mãe estava na casa dos 40. Isso lá na década de 1960. Imagina hoje, com toda tecnologia, com tudo que evoluímos de lá para cá.
Em entrevista recente, você comentou sobre a possibilidade de adotar um filho. Como encararia essa missão de ser mãe novamente, com seus dois filhos praticamente “criados”? E ele, quer ser pai?
Cada filho é um aprendizado. A gente nunca é a mesma mãe porque são momentos da vida diferentes, cada filho é de um jeito. A beleza está nisso também. E ser mãe é o grande papel da minha vida. E Jarbas gostaria também. É uma vontade de nós dois.
Você tem atuado como palestrante no projeto Nas Raias do Empreendedorismo, que teve sessão na Capital neste ano. Como tem sido a receptividade das pessoas com esse seu outro lado?
Esse é um lado meu que fica nos bastidores, né?! É engraçado quando as pessoas acham que estou começando a produzir. Na verdade, comecei no teatro musical como produtora (risos). Depois, fui ser atriz. As pessoas são sempre muito receptivas. A troca que tenho é muito enriquecedora. Empreender é um caminho rico e também de muitos desafios. É bom quando a gente troca, fala sobre a nossa trajetória, mostra que também passamos por perrengues, que tivemos nossos fracassos e nossos sucessos. E, mais importante, continuamos caminhando.
Que dicas você dá para mulheres que estejam pensando em empreender?
Estudo e planejamento. É preciso ousar, se arriscar, mas com planejamento para saber em que você está investido, qual retorno é esperado, pensar no que pode dar errado e como contornar isso.
Você foi escolhida aos 13 anos para dançar numa companhia de dança norte-americana – e, de certa forma, forçada a amadurecer mais cedo. Sente que “perdeu” algo por ter encarado uma responsabilidade tão novinha?
De maneira nenhuma. Sinto que ganhei muitas coisas. Foi uma escolha minha, que minha mãe apoiou. Ganhei a oportunidade de morar fora do país, de viver muitas histórias que contribuíram para quem sou hoje. Se perdi algo, não me apego nisso. O que ganhei foi tão maior que valeu muito a pena.
E sobre maternidade, muda a relação com seus filhos nessa fase da vida, com eles mais velhos? Você é o tipo de mãe que dá conselho, diz quando acha que tem algo errado?
Não sou uma mãe que interfere na vida dos filhos. Tenho uma relação muito aberta e próxima com eles, conversamos muito. Se tem algo que acho meio esquisito, vou falar mesmo que eles não gostem tanto (risos). Mas eles têm liberdade para serem o que quiserem. Criar um filho é um desafio maravilhoso. A gente tende a projetar e, quando fazemos isso, podemos cair no erro de não ver aquela pessoa como alguém cheio de vontades. É preciso ser firme quando necessário, claro, mas sem querer moldá-los.
Muitas mães dizem que acabam desenvolvendo uma relação mais de amigo com os filhos adultos. Sophia e Enzo ainda não estão exatamente nesta fase, mas você já se enxerga nesse papel de mãe-amiga hoje em dia?
Eu sou uma mãe-amiga total. Mas é isso, mesmo amiga, continuo sendo mãe. É como disse antes, não estou aqui para interferir, e sim para apontar um caminho, para ajudar como puder..
Sua filha Sophia estreou como modelo. Como tem encarado esse novo lado dela? Você deu conselhos a ela?
Nossa, e que estreia! A campanha ficou linda. Eu a deixo muito livre para escolher o que quiser. Não acho nem que seja uma escolha de carreira ainda. Ela recebeu o convite e quis fazer. Apoiei, estive com ela no dia do ensaio. Dei algumas dicas de pose, de ângulo, de expressões (risos).
E você parece ser superligada em moda, né? O que gosta de usar? E o que não usa de jeito nenhum? Como é o seu estilo?
Sim, sou muito ligada à moda. Adoro! Acho moda uma forma de se expressar. Não sei se tem algo que eu não use de maneira nenhuma. O meu estilo é muito eclético. Meu guarda-roupa é assim. Depende muito da ocasião e do que quero passar com o que estou vestindo naquele momento.
O seu look na final do Show dos Famosos, do Faustão, foi supercomentado, com muitos elogios por você ter optado por transparências, por exemplo. Muitas mulheres, por pressão social, deixam de usar determinadas peças com o passar dos anos, como uma saia, um decote. O que você diria a elas, para incentivá-las?
Digo: “Amor, não se prenda por isso porque roupa não tem idade, e você pode usar o que quiser”. A gente tem que vestir aquilo que nos faz sentir bem, bonitas... Não temos que nos limitar porque dizem para a gente que, a partir de certa idade, isso é permitido ou não. Imagina se vou aceitar isso? Jamais. Aí que me dá mais vontade ainda de ir lá e provar que eu posso usar o que quiser (risos).