Vencedora do BBB 20, Thelma afirmou em entrevistas que queria engravidar logo após sair do reality show, mas adiou a ideia devido à pandemia. A cantora Iza foi pelo mesmo caminho: no programa Conversa com Bial, da TV Globo, revelou que vai esperar o turbilhão do coronavírus passar para virar mãe. E há ainda casos como o da atriz e apresentadora Karina Bacchi, que interrompeu o tratamento para infertilidade por medo dos riscos da covid-19. Um levantamento realizado pela empresa de produtos de saúde Famivita confirma a tendência: uma em cada três mulheres mudou seus planos de engravidar na pandemia.
A gerente administrativa Janini Pinto, 41 anos, integra o grupo que adiou o sonho da maternidade e está correndo contra o tempo. A ideia era abrir mão do DIU e começar as tentativas neste ano com o namorado, porém, foram dois meses apenas para conseguir marcar a consulta de retirada do método contraceptivo. O risco de contágio pelo coronavírus fez a moradora de Esteio segurar a vontade de ter um bebê por mais alguns meses – mas, em função da idade, ela confessa que está apreensiva com essa espera sem data limite.
– Queremos muito, falamos nisso toda hora, estou louca pra ver o rostinho, sorriso. Mas é um "e se" infinito. Passo a vida considerando prós e contras em tudo e agora, infelizmente, estamos vivemos numa instabilidade econômica, política e financeira. Como saber o que será o amanhã? E o medo de pegar o vírus no meio da gravidez? A gente não sabe como o organismo pode reagir – desabafa.
Já Elis Regina Bandeira, 38 anos, estava ansiosa com o procedimento de fertilização que faria via Sistema Único de Saúde (SUS) no Hospital de Clínicas neste ano, só que foi obrigada a postergar o sonho do segundo filho. O plano era ter um bebê com o marido atual – ela já é mãe de uma jovem de 23 anos de seu relacionamento anterior. As trompas obstruídas pegaram Elis e esposo de surpresa quando começaram a tentar engravidar, e a chance de aumentar a família veio com a possibilidade da fertilização in vitro em Porto Alegre. O procedimento seria realizado em 2020 após quatro anos de espera, entretanto, foi desmarcado assim como outros eletivos realizados em hospitais durante a pandemia.
– Estou esperando entrarem em contato, apreensiva. E eu ainda moro em outra cidade, é longe, tem que enfrentar aglomeração, fica realmente mais difícil. Meu marido me apoia, me dá uma baita força, minha família também, mas é uma mistura de sentimentos. Tento nem pensar muito, ainda mais que corremos o risco de fazer todo o procedimento e não dar certo. Não é só o medo do coronavírus no nosso caso – explica Elis, que mora em São José do Norte.
Qual a melhor decisão?
Não há uma recomendação expressa dos órgãos de saúde e entidades médicas sobre evitar a gestação espontânea durante a pandemia. O que se indica é "cautela e bom senso", explica o ginecologista Rui Alberto Ferriani, que integra a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo):
– É mais seguro adiar pela incerteza desse momento, mas há casos e casos. O problema é até quando adiar, não sabemos até quando vai a pandemia. Certamente, a fertilidade acaba prejudicada nisso tudo. Não podemos negar que adiar um tratamento pode trazer consequências para o casal.
O médico, que também é presidente da Comissão Nacional Especializada em Reprodução Humana da Febrasgo, confirma que foi registrada uma queda no número de consultas e na procura por tratamentos de fertilidade nos meses de pandemia, principalmente em abril e maio. E garante que o medo de muitas mulheres em iniciar uma gestação agora tem fundamento. Na França, por exemplo, já há um caso que aponta para a transmissão da covid-19 pela placenta da mãe para o bebê dentro do útero, mas ainda são necessários mais estudos para ratificar essa possibilidade de contágio.
– Na (época da) H1N1, tinha um risco claro sobre a gravidez, e no zika também sabíamos do efeito sobre o feto. Em relação à covid-19, não temos essa informação clara, dos riscos aumentados, principalmente as mulheres com covid-19 no início da gestação. A possibilidade da mãe passar para o feto não está descartada. O que vai acontecer, qual é o efeito, é pouco tempo para ter certezas. Não podemos dar garantia, por isso precisamos ter cautela – avalia Ferriani.
Quero fazer tratamento agora. Posso?
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicou notas técnicas durante a pandemia com orientações para os centros de reprodução assistida. Na prática, os procedimentos não estão proibidos, mas há indicação de adiamento e cautela. As exceções para a realização imediata dos procedimentos são pacientes oncológicos, que precisam congelar óvulos ou sêmen, e situações de "tempo sensível", quando há baixa reserva ovariana e idade materna avançada (após os 35 anos). A nota vai ao encontro da posição das principais entidades da área no Brasil, como a Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA), explica o médico Eduardo Pandolfi Passos, membro do conselho da SBRA:
– Seguimos as normativas internacionais sobre covid-19 e estamos nos atualizando constantemente. É importante dizer que há sensibilidade ao analisar cada caso para definir como agir, se é preciso levar o tratamento adianta agora, evitando deslocamentos excessivos, tomando medidas para manter a segurança de pacientes e profissionais. É uma decisão delicada, não é simples.
Chefe do Centro de Fertilidade do Hospital Moinhos de Vento, Passos explica que os casais são avaliados para sintomas de covid-19 quando procuram tratamento. Pacientes com quadro semelhante ao do coronavírus fazem o teste e, caso seja positivo, interrompem o processo. Além disso, os protocolos de higiene foram reforçados, as consultas tiveram horários espaçados para evitar aglomerações e o uso de máscara é indispensável.
– Os casais são informados dos riscos e da possibilidade de suspensão do tratamento. Alguns pacientes com embriões congelados já manifestaram a ideia de postergar a gravidez, mas há, por outro lado, muitos buscando informações sobre a realização de tratamentos na pandemia. É uma questão de cautela e da decisão de cada casal mesmo – diz Passos.
Alternativas
Você está insegura com os desdobramentos do coronavírus e decidiu adiar a gravidez? Tudo bem, mas há alguns passos pré-concepção que podem ser colocados em prática na pandemia. Antes de engravidar de forma natural ou via tratamento para infertilidade, são recomendadas pelos especialistas consultas com o ginecologista e a realização de alguns exames – a telemedicina é uma alternativa segura para o período de distanciamento social. Quem decidiu realizar a fertilização nos próximos meses pode procurar um centro de reprodução para dar início ao processo agora, já que os primeiros encontros costumam ser informativos e podem ocorrer online.
A dica do médico Rui Alberto Ferriani, da Febrasgo, é também aproveitar o tempo em casa para mudar de hábitos:
– Cigarro, abuso de medicamentos, excesso de peso. É um momento para tentar adquirir hábitos mais saudáveis, evitar álcool, muito café. O uso do ácido fólico também começa nessa etapa, recomendado pelo médico. O ideal é a paciente engravidar numa situação de saúde mais próxima da ideal.