Pesquisar o histórico da família pode ser um bom caminho para quem deseja um prognóstico a respeito da chegada da menopausa. Isso porque o momento da vida em que há o desenvolvimento desta fase, marcada pelo fim da menstruação e da capacidade reprodutiva feminina, pode estar relacionado a fatores genéticos hereditários.
Ginecologista especializada em menopausa, Maria Celeste Osório Wender, professora da Faculdade de Medicina da UFRGS e chefe do serviço de Ginecologia e Obstetrícia do HCPA, explica que há quatro cenários possíveis no que diz respeito à idade em que cada mulher viverá a etapa. O mais comum é que se entre na menopausa por volta dos 50 anos, podendo haver variação de alguns anos para mais ou para menos. Porém, quando a menstruação cessa entre os 40 e os 45 anos, a menopausa é considerada precoce. Se a ocorrência for antes dos 40 anos, configura falência ovariana prematura. Já a menopausa após os 55 anos é considerada tardia.
A questão hereditária vale, sobretudo, para os quadros que estão fora da normalidade, os "extremos". Ou seja, se uma mulher tem na família casos de menopausa com início adiantado, seja entre mãe, tias ou avó, são maiores as chances de que ela também vivencie esta fase antes da idade considerada normal.
— Vários fatores podem explicar falência ovariana prematura e menopausa precoce. Dentro desse grupo de fatores estão alterações genéticas que são hereditárias, por isso o histórico é importante — explica Maria Celeste.
A especialista ressalta que, apesar de haver uma tendência para que tais quadros se repliquem entre mulheres da mesma família, não há uma regra. Se uma mãe teve menopausa precoce, a filha não necessariamente terá, embora as chances sejam maiores.
Já quando a capacidade reprodutiva chega ao fim perto dos 50 anos, o fator hereditário deixa de fazer tanto sentido, pois impera a normalidade. Se uma mãe entrou na menopausa aos 49 anos, por exemplo, a filha não necessariamente entrará nesta mesma idade, mas há grandes chances de que seja em faixa etária parecida. E neste caso, a semelhança não ocorre por herança genética, mas porque ambas estão dentro do que é normal para a maioria das mulheres.
Histórico x estilo de vida
Professora da Faculdade de Medicina da UFRGS e especialista em reprodução humana, a ginecologista Helena von Eye Corleta observa que, devido à incidência cada vez maior de gestações consideradas tardias (acima dos 35 anos), tem se tornado comum que mulheres busquem formas de "prever" quando entrarão na menopausa. A preocupação é vista como positiva pela especialista, que frisa a importância de conhecer o histórico familiar.
— A menopausa é a ponta do iceberg. Há estudos que demonstram que, ao menos 10 anos antes de entrar na menopausa, a capacidade reprodutiva já fica extremamente reduzida. Por isso é fundamental perguntar sobre isso às mulheres da família, a fim de mapear qualquer cenário que fuja da normalidade — alerta a médica.
A especialista frisa que quem deseja ter uma gestação tardia precisa levar o histórico familiar ainda mais em consideração:
— Para quem tem casos de menopausa precoce na família, o melhor seria engravidar cedo. Caso isso não seja viável para o momento de vida, é interessante congelar óvulos. Só que isso precisa ser feito enquanto há uma boa reserva ovariana, tanto em quantidade quanto em qualidade dos óvulos, o que também está relacionado à idade.
Também é preciso considerar o histórico pessoal de patologias como câncer e doenças autoimunes, cujos tratamentos podem influenciar no desenvolvimento de uma menopausa precoce. O mesmo vale para terapias hormonais, muitas vezes realizadas para fins estéticos e sem o devido acompanhamento médico, o que pode trazer sérios danos à capacidade reprodutiva.
A médica destaca, ainda, o impacto do estilo de vida na questão. Hábitos saudáveis, como a boa alimentação e a prática de exercícios físicos, em geral, ajudam a prolongar a janela de fertilidade. Já fatores como o tabagismo podem fazer com que a menopausa chegue mais cedo.
A influência incide, também, nos sintomas típicos deste período. O temido calorão, por exemplo, pode não ser sentido pela mãe, mas acometer a filha, pois é algo que está relacionado aos hábitos, não à genética.
De modo geral, o desenvolvimento da menopausa tem origem multifatorial. A genética é importante e deve ser considerada, mas não é o único fator a ser colocado na balança. Para as especialistas, o melhor caminho é olhar para o tema de forma abrangente, com responsabilidade, mas sem tabus.