Você tem menos de 40 anos e já parou de menstruar. Sente calorões, apresenta ressecamento vaginal, quadro de insônia, humor instável, entre outros sintomas pouco comuns na vida de mulheres mais jovens. Fique atenta: você pode estar enfrentando a menopausa precoce.
O assunto repercutiu nos últimos dias após a atriz Yohama Eshima, 34 anos, que vive a policial Yone em Travessia, contar que engravidou do filho Tom após receber o diagnóstico. Mas é importante saber que a insuficiência ovariana prematura, segundo as médicas consultadas por Donna, acomete apenas 1% da população feminina.
Para entender o que é a menopausa precoce e como impacta a vida da mulher, conversamos com as ginecologistas e obstetras Andrea Nácul e Mona Lúcia Dall'Agno, que são membros da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Rio Grande do Sul (Sogirgs). Confira:
Afinal, o que é a menopausa precoce? Quais os sintomas?
Conhecida também como insuficiência ovariana prematura, a menopausa precoce se caracteriza pela ausência ou interrupção da menstruação antes dos 40 anos de idade. Isso ocorre devido a uma disfunção dos folículos ovarianos, que produzem o hormônio estradiol, explica a médica Andrea, responsável técnica da unidade de reprodução humana do Hospital Fêmina:
— Os principais sintomas são a irregularidade ou ausência dos ciclos menstruais, e também calorões, insônia, vagina seca, labilidade do humor, depressão, entre outros sintomas característicos do climatério.
Posso sofrer com a menopausa precoce aos 20 anos?
Sim. A ginecologista e obstetra Mona Lúcia Dall'Agno, professora do curso de Medicina da Universidade de Caxias do Sul, esclarece que a menopausa precoce acomete 1% da população e pode aparecer em mulheres bem jovens, embora seja uma condição mais rara.
— Quanto maior a idade da mulher, mais comum é — diz Mona.
Quais as causas?
As médicas pontuam que mais da metade dos casos, cerca de 60%, não têm causa definida. Há mulheres que já nascem com um quantidade reduzida de óvulos, por exemplo. Alguns tratamentos podem atingir o sistema reprodutor e levar à insuficiência ovariana prematura, como certos tipos de quimioterapia e radioterapia em mulheres com câncer. E mais: a endometriose também pode se tornar um fator de risco.
— Nessa situação, a endometriose pode acometer os ovários por cistos volumosos. A cirurgia para a retirada dos cistos também pode retirar junto o tecido ovariano normal, e essas pacientes podem entrar em falência ovariana — conta Andrea, que também é membro da comissão nacional especializada em ginecologia endócrina da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo).
Outros fatores associados são as doenças autoimunes, como disfunções na tireoide, diabetes, lúpus, entre outras, além das causas genéticas, que devem ser investigadas.
Como é feito o diagnóstico?
Caso a paciente apresente menstruação irregular, não menstrue mais ou tenha outros sintomas associados à menopausa, o médico indica exames laboratoriais para dosagem hormonal, o que vai ajudar a consolidar o diagnóstico. O histórico familiar também é importante nesses casos.
Vou ter dificuldade para engravidar se tiver menopausa precoce?
Provavelmente, sim. Apenas entre 5% e 10% das mulheres com falência ovariana prematura consegue engravidar naturalmente. É possível tentar estimular a ovulação com ajuda de hormônios, porém, não há garantia de eficácia.
— A grande maioria necessitará de técnicas de reprodução assistida para engravidar. Por isso, é importantíssimo discutir esse assunto no momento do diagnóstico — avalia a médica Mona.
A ginecologista e obstetra Andrea afirma que um dos caminhos mais indicados é a ovodoação, quando uma mulher mais jovem doa seus óvulos para a paciente com menopausa precoce:
— Esses óvulos são fecundados com os espermatozoides do marido da paciente e os embriões formados colocados dentro do útero da mulher. A partir daí, se engravidar, a gestação segue normal.
Há algum tipo de tratamento para retardar a menopausa precoce? Ou amenizar os sintomas?
Não há tratamentos para retardar a menopausa precoce. Entretanto, é possível amenizar os sintomas.
— A terapia hormonal está indicada nos casos de falência ovariana precoce, desde que não haja contraindicações. O objetivo da TH também é prevenir sequelas a longo prazo, como a osteoporose, e reduzir o risco de doenças cardiovasculares — afirma Mona.
A médica Andrea também explica que a preferência é utilizar hormônios naturais no tratamento, que podem ser administrados pela pele, como gel ou adesivo, ou tomados em forma de comprimidos.
E a saúde mental?
Esse é um ponto que merece muita atenção, frisam as médicas. A menopausa precoce pode trazer impactos na libido da mulher e na fertilidade, por isso, é preciso um olhar multidisciplinar no tratamento.
— O acompanhamento psicológico deve ser instituído e mantido em todos os casos, principalmente quando envolve mulheres jovens e ainda sem filhos. A dica é ter um acompanhamento ginecológico e, em conjunto com o seu médico, discutir um planejamento reprodutivo. Recursos como o congelamento de óvulos, para pacientes com maior risco de falência ovariana, pode ser uma alternativa — avalia Mona.