A editora de Donna, Renata Maynart, promoveu uma live no Instagram da revista que contou com a participação da fisioterapeuta pélvica Ana Cristina Gehring, do perfil @vaginasemneura, nesta terça-feira (30). A conversa abordou alguns mitos da sexualidade feminina.
Na página de Ana, que já ultrapassa os 500 mil seguidores, a profissional cria conteúdo para ajudar as mulheres a conhecerem melhor o próprio corpo. Selecionamos alguns tópicos levantados durante a conversa que envolvem as dúvidas mais frequentes das mulheres sobre libido. Confira:
Qual a diferença entre libido e excitação?
Libido é energia de vida, explica Ana. É desejo sexual, não só pela penetração, e sim pelo envolvimento, pelo toque. É aquilo que motiva a pensar em sexo. Quando a libido, a vontade de transar, está baixa, muitas vezes a alimentação, a vontade de trabalhar e de fazer exercícios físicos também está ruim, diz ela.
— A qualidade da nossa vida sexual é um dos pilares básicos que deveríamos sempre manter em atividade na nossa vida, sozinha ou acompanhada. Libido é a tua autoestima, teu amor-próprio, tua disposição com a vida. Não é simplesmente o desejo de sexual, mas como tu te sente bem consigo mesma — explica Ana.
Já a excitação é a resposta fisiológica do corpo a esse desejo. Em uma pesquisa feita em seu perfil do Telegram, Ana concluiu que, para 63% das mulheres, o toque é o que mais acentua a excitação. Em seguida, está a audição, o cheiro e, por último, o visual.
Exercícios de musculatura íntima vaginal potencializam a libido?
Sim! Apesar de raramente ginecologistas tratarem sobre o assunto em seus consultórios, a musculatura está diretamente relacionada à resposta sexual, afirma Ana.
— Mais de 30% das mulheres que chegam ao meu consultório não conseguem nem ativar essa musculatura. Durante um orgasmo, essa musculatura íntima se contrai. E a mulher não tem essa percepção. Sem contar que muitas nunca tiveram um orgasmo — explica. — Quando a mulher começa essa descoberta, ela se sente merecedora de sentir prazer. O orgasmo libera dopamina, um dos hormônios responsáveis pela criatividade, pelo poder de tomada de decisão. Uma mulher que tem orgasmos com frequência é uma mulher mais criativa, com mais disposição e, como consequência, mais libido. É uma roda viva.
Sabe quando você vai à academia e sai de lá com um músculo mais marcado? A mesma coisa acontece com a musculatura íntima.
Uma mulher que tem orgasmos com frequência é uma mulher mais criativa, com mais disposição e, como consequência, mais libido. É uma roda viva.
ANA CRISTINA GEHRING
fisioterapeuta pélvica
— A musculatura em dia chama sangue para região, então a vagina fica mais inchada, estimula a lubrificação. Além disso, faz uma boa ereção do clitóris e melhora a hipertrofia do canal vaginal, o que também melhora a sensibilidade da região — aponta Ana.
A prática pode ser feita em alguns poucos minutos por dia, e o resultado já é perceptível cerca de 40 dias depois. Para saber o tempo e a frequência ideais para cada uma, o ideal é ter uma avaliação com um profissional.
É normal perder a vontade de transar durante o confinamento?
Sim! Em uma pesquisa realizada em seu Telegram, Ana contou que 60% das mulheres relataram baixa na libido durante o confinamento. Para 27%, entretanto, potencializou.
Alguns fatores estão mais diretamente relacionados à baixa na libido, como maior consumo de álcool, sono de má qualidade e alimentação ruim, que estão mais acentuados durante o período de confinamento. Para Ana, também há uma outra explicação.
— Muitas mulheres reclamavam que faltava tempo para pensar em sexo. Só que agora, que sobrou tempo, muitas têm percebido que o problema não era a falta de tempo, e sim falta de autoconhecimento íntimo, falta de diálogo. Por isso, muitos casais estão terminando o relacionamento nesse período — disse ela.
Como fica a libido depois da menopausa?
Outro tabu feminino: ninguém fala para as mulheres como se preparar para a baixa hormonal e as transformações que vão acontecer na vagina com a chegada da menopausa.
— Toda mulher, independentemente da idade, merece ter uma vida sexual de qualidade. E uma das maiores queixas que percebo é a atrofia da vagina. A musculatura das paredes do canal vaginal perde colágeno. Com isso, a relação fica mais desconfortável, pode machucar, arder. Temos vergonha de conversar sobre isso. Minha dica é falar abertamente com sua ginecologista. A gente é educada a aceitar. Mas, não! Tem como buscar mais qualidade — ensina Ana.
O exercício da musculatura íntima, por exemplo, é um dos meios de manter a qualidade de vida sexual com o passar da idade. E mais: o clitóris é um dos pontos do corpo da mulher que nunca envelhece, continua ativo do início ao fim da vida, garante a profissional.
— Só porque tu sente desconforto com a penetração não significa que tu vai deixar de ter prazer. O casal tem que se adequar e descobrir outros meios. Para o homem que tem problema de ereção, existem milhares de opções de tratamento, divulgados em toda a parte. Para a mulher tu não ouve nada — reflete Ana.
Nunca tive uma ejaculação. Tem algo de errado comigo?
Não! Muitas mulheres nunca tiveram uma ejaculação e está tudo bem, afirma Ana. Mesmo assim, essa é uma questão de cobrança das mulheres, que se sentem inferiores.
— Vou falar para vocês: muito do que vocês veem em filme erótico não é ejaculação. Aquilo é montado. Eu adoro desmistificar isso. Algumas mulheres têm saída de líquido. Mas o orgasmo é a sensação boa da liberação dos hormônios. A musculatura íntima se contrai, aumenta a lubrificação. Essa ejaculação não precisa acontecer. É uma coisa esporádica, pode acontecer uma ou duas vezes na vida. Desencana com isso — diz a fisioterapeuta.
É normal não atingir o orgasmo com penetração?
É muito comum que mulheres não consigam chegar ao orgasmo com penetração, garante Ana. Essa é uma das principais dúvidas que chegam em suas mensagens privadas.
— Nem todas as mulheres vão conseguir ter um orgasmo vaginal. Se a vagina fosse tão sensível assim, se qualquer coisa que entrasse fosse disparar um orgasmo, ela ia ser muito sensível para dor. Ia ser muito mais sofrido fazer um exame ginecológico, usar um absorvente interno, ter um parto vaginal. Não é simples assim. Não se cobrem, caso não consigam. Não deixem de focar no estímulo do clitóris. Não tem nada de errado nisso — aconselha a profissional.
Assista ao bate-papo na íntegra: