Camila Maccari, Especial
Quando entrou no climatério, período que antecede a menopausa, Marisa* já começou a sentir desconforto na vida sexual. Não conseguia ficar lubrificada, sentia dores absurdas durante a penetração e ninguém sabia dizer o que estava acontecendo. Ela conta, hoje entre risadas, que o primeiro médico simplesmente creditou os sintomas a uma falta de excitação no casamento. O caminho seguiu por outros especialistas até que, enfim, Marisa conheceu uma fisioterapeuta pélvica e depois consultou Ana Selma Picoloto, ginecologista da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Rio Grande do Sul e uma das profissionais consultadas para esta matéria. O diagnóstico foi o mesmo que muitas outras mulheres recebem nessa fase da vida: a atrofia vaginal.
Resultado da falta de produção de estrogênio, a vaginite atrófica, como também é conhecida, causa secagem e inflamação das paredes vaginais. As consequências vão desde a falta de lubrificação e dores na penetração até coceira, ardência e incontinência urinária. É mais comum nas mulheres em menopausa, que param de produzir o estrogênio, mas não se restringe apenas a esse grupo.
– Pode acontecer com quem faz quimioterapia, por exemplo, ou radioterapia pélvica para tratar algum tumor. Também é muito comum no pós parto, período de grande oscilação de hormônios que estão altíssimos durante a gravidez. Quando o bebê nasce, ocorre uma queda no nível dos hormônios e a mulher pode ficar com essa síndrome. Até o uso prolongado de pílulas anticoncepcionais, em alguns casos, pode causar a atrofia – explica Ana Selma.
Ginecologista e professor da PUCRS, Lucas Schreiner explica que a experiência de Marisa na hora de obter um diagnóstico e iniciar um tratamento não deveria ser tão demorada. Para o médico, a postura da paciente em saber que algo estava errado desde o começo e insistir na busca de ajuda fez diferença.
– A gente tem, sim, problemas em relação ao diagnóstico porque algumas pacientes acham que isso faz parte do processo normal do envelhecimento. E aí vira um ciclo ruim: a mulher acaba tendo menos relações porque sente dor, a dor gera uma experiência traumática que diminui a vontade e isso tem todo um impacto negativo na vida sexual, que é extremamente importante. Vale sempre saber que a dor no sexo não faz parte do envelhecimento e que é possível resolver esse problema – orienta o ginecologista.
O tratamento para a síndrome varia de acordo com cada mulher. Como explica Ana Selma, as mulheres que passam pelo puerpério, por exemplo, vivem um período específico nas alterações hormonais. Nestes casos, o processo pode ser mais rápido e passageiro.
– Em todos os casos, a primeira orientação é o uso diário de hidratantes vaginais à base de substâncias emolientes não hormonais, além do lubrificante, usado nas relações sexuais. Quando isso não funciona, partimos para compostos hormonais com estrogênio e de uso tópico. Algumas mulheres na menopausa, por exemplo, que não reagem aos cremes hidratantes e lubrificantes, podem receber indicação do uso tópico de hormônio durante toda a vida.
O uso do estrogênio é sempre feito com aplicação no local, nunca via oral – essa é a maneira mais efetiva de garantir resultados. O médico explica que, no caso de uso tópico, as contraindicações são as mesmas feitas para as mulheres que fazem reposição hormonal via oral na menopausa, como câncer de mama, ovários e endométrio, por exemplo.
– Mas vale lembrar que é preciso analisar caso a caso. O uso tópico tem um efeito concentrado, que age apenas na área e não passa por toda a corrente sanguínea. Às vezes, há casos de pacientes com contraindicação porque teve um câncer de mama há vinte anos, mas que está bem, curada, e sofrendo muito com a atrofia, sem responder aos outros cremes e lubrificantes. Nesses casos, é interessante avaliar quais os prós e os contras e, eventualmente, fazer o uso tópico do estrogênio – explica.
Atualmente, depois de quatro anos de menopausa e lidando com a atrofia desde 2013, Marisa garante ter recuperado boa parte da qualidade de vida. Ela segue com o uso da pomada com o hormônio, embora tenha parado com as sessões de fisioterapia pélvica. Para ela, a lubrificação não voltou a ser como antes, mas agora as relações sexuais acontecem tranquilamente e sem dor:
– Foi bem traumático e eu percebi que as mulheres não conversam sobre isso. Ninguém se sente confortável para contar que está com dor na relação sexual, por exemplo. Hoje estou rindo, mas na época estava apavorada, achando que nunca mais ia conseguir transar – conta.
Apesar de ser comum, a atrofia vaginal não atinge todas as mulheres e algumas podem nunca vir a sentir os sintomas. Não há, exatamente, como prevenir o aparecimento, já que, como lembra a ginecologista, "é um acontecimento fisiológico que não tem como ser controlado, não existe como parar a menopausa". Mas manter a área ativa é uma das indicações dos médicos – e algo que ajudou Marisa, que apostou na fisioterapia na área durante um ano.:
– Manter-se sexualmente ativa, fazer atividades pélvicas, como a fisioterapia, são coisas que mantêm a saúde do assoalho pélvico e estimulam a circulação sanguínea e a lubrificação na área – explica o médico.
Para quem não tem parceiro, vale a masturbação, mas Schreiner lembra que a penetração é necessária. O uso de um vibrador, nesses casos, pode ser uma alternativa que ajuda a vascularizar a região.
*O nome da entrevistada foi trocado a pedido da mesma.