Margareth parou de menstruar aos 40 anos e, precocemente, começava ali uma jornada de transformação. Verônica teve menopausa aos 48 anos e só sentiu os primeiros sintomas, de forma leve, aos 53. Elenara, aos 72 anos, tem vivido uma rotina com muito mais qualidade do que antes do climatério, que teve início aos 49 anos. As três estão reunidas aqui como uma amostra do quão diferente pode ser a menopausa para cada mulher.
O que as histórias delas têm em comum comigo, com você e todas as mulheres é que, se tudo der certo, todas nós vamos passar por essa fase. Na década de 1960, a expectativa de vida do brasileiro girava em torno de 50 anos, época em que a menopausa é esperada. Atualmente, a expectativa de vida da mulher é de aproximadamente 80 anos. Do fim do período reprodutivo ao fim da vida são, portanto, cerca de 30 anos. Como você planeja vivê-los?
Para responder a essa pergunta, é preciso ter informação. E é nesse ponto que o cenário surpreende e preocupa:
— As mulheres estão completamente perdidas — sentencia a ginecologista Carolina Melendez, sobre a realidade que vê em seu consultório particular e nos postos de saúde públicos onde trabalha. — Elas chegam sem a menor noção de quais são os primeiros sinais do climatério. Se sentem assustadas com a menstruação desregulada, preocupadas com o aumento de peso, com a redução da libido, incomodadas com os calorões e a irritabilidade. Chegam sem rumo.
Joele Leripio, ginecologista especialista em envelhecimento feminino, não tem impressão diferente:
— Pouquíssimas têm noção do que está acontecendo no seu corpo. A frase que mais ouço, sem dúvida nenhuma, é: “Doutora, não me reconheço mais, quero voltar a ser quem eu era”.
É nesse momento também que um estilo de vida sem alimentação adequada, sem controle de estresse e sem atividade física regular cobra seu preço. São essas escolhas diárias ao longo do passar dos anos a única forma de prevenir sintomas mais duros no climatério — e durante o mesmo também, para poder atenuá-los.
Às cegas, com a autoestima no pé e a insegurança nas alturas, a maioria chega a essa fase despreparada, quando finalmente a ficha cai: o envelhecimento existe. Mas só resta uma direção:
— Eu acredito que a menopausa é a vida te chamando para parar de fazer rascunhos, a hora é agora! — comenta a psicóloga Sâmara Irumé.
— Se há algo de festejável, é que a gente revê prioridades. A mulher começa a olhar para o que realmente é importante para ela — conclui Joele.
Sem medo de mudar a estratégia
"A menopausa é um período delicado, mas não é um bicho de sete cabeças. A mulher precisa de acompanhamento. O que mais senti foi alteração do sono e picos de calor. Fiz reposição, com hormônios sintéticos em dois momentos diferentes, mas não gostei do resultado, engordei. Há pouco, na minha revisão anual e com base nos exames, eu e a ginecologista decidimos recomeçar, agora com bioidênticos. De modo geral, transito nessa fase de forma muito tranquila. Acho que colhi o resultado da vida que levei até então. A atividade física sempre fez parte da minha vida, desde a adolescência. O que mais assusta é a sensação de que o corpo vai desmoronando, perdendo músculo e as gordurinhas se depositando em lugares indesejáveis. Acho que o segredo está em se gostar, cuidar da saúde, dos afetos e da aparência, para se manter alegre e com a mente jovem e arejada. Quando falo que o segredo é estar bem com a gente é porque somatizamos nossas tristezas e angústias."
Verônica Dias, 58 anos, médica dentista | Menopausa aos 48 anos. Os sintomas desconfortáveis só começaram aos 53 anos. Faz suplementações, entre as quais, ômega 3, colágeno, BCA magnésio - parte disso com indicação do marido, que é ortopedista.
Novos hábitos que surpreendem
"O que me atingiu em cheio foi a alteração de humor. Chegaram os calorões, também. Isso por volta dos 49 anos. Tive uma dificuldade imensa, logo vi as mudanças no corpo e as gordurinhas me afetaram muito, fiquei deprimida. Não sabia que a depressão pode aparecer no climatério. Não tinha consciência de que, se tivesse praticado exercícios físicos desde cedo, se não tivesse exagerado em alimentos tão processados, se não tivesse fumado, certamente teria evitado muitos desconfortos e até sofrimentos que o climatério trouxe. Junto com a reposição hormonal, veio uma nova forma de viver. Incorporei hábitos mais saudáveis que me fizeram chegar aos 72 anos com muita qualidade. E estabilizei o peso também."
Elenara Brasil Mies, 72 anos, funcionária pública aposentada | Menopausa aos 52 anos, quando deu início à reposição hormonal. Há 10 anos, passou para hormônios bioidênticos e também usa suplementos fitoterápicos. O climatério transformou sua vida: exercita-se quatro vezes na semana, tem uma vida social ativa e faz aulas de inglês para estímulo cognitivo
O autoconhecimento após o susto
"Eu ainda pensava na maternidade quando parei de menstruar. A vida decidiu por mim. Foi de surpresa. Fiquei angustiada, impactada, frustrada, triste, confusa, um momento de muita dor. Só então fui pesquisar, descobri outros casos na família. Mesmo sendo médica, não associei distúrbio do sono, queda de cabelo e pele seca ao princípio do climatério. Mas o que mais me pegou foi o emocional. Fui buscando ajuda de várias formas, incluindo ginecologia natural. Com o tempo, entendi que os sintomas são decorrentes de uma desconexão com o nosso corpo, com os ciclos, com a nossa natureza. Não tinha esse conhecimento, tive depois. Entendi que os sintomas são mais intensos quando a gente não consegue ser livre, ser a gente mesmo, não é só uma coisa medicamentosa. Descobri que a menopausa não acaba com a vida da gente. O que acaba com a vida da gente é o nosso sistema de crenças. Sempre ouvia que a menopausa era um tempo de desempoderamento da mulher e eu descobri que isso não é verdade. Eu me sinto plena."
Margareth Osório, 66 anos, médica homeopata | Menopausa aos 40 anos. Usou hormônios por alguns meses em dois momentos apenas. Como parte da transformação causada pelo climatério, aprimorou cuidados com a alimentação e adotou o hábito de meditar, além de manter atividades físicas regulares (hábito que faz parte da sua rotina desde mais jovem).
“Antidepressivo não é uma solução”
Aos 44 anos, incomodada com uma série de desconfortos, a psicóloga Sâmara Irumé (foto) não se contentou ao ouvir de um médico que a menopausa era assim mesmo, “tinha de cortar carboidrato e tomar vitamina D3”. Mergulhou, então, em pesquisas que fizeram nascer o perfil @diariomenopausa.
A seguir, ela pontua o que aprendeu como mulher e psicóloga:
- Os fogachos são a principal queixa, mas o que mais leva pacientes ao seu consultório é a busca por um senso de identidade. São mulheres realizadoras e ativas que passam a não se reconhecer mais.
- Pelo menos 1/3 das mulheres que procuram ajuda para seus sintomas recebem prescrições de antidepressivos. Isso é alarmante. O diagnóstico de depressão vem porque os sintomas são parecidos, mas o médico precisa levar em conta a queda dos níveis hormonais. Na maioria dos casos, aponta Sâmara, este tipo de medicamento não é uma boa solução para os problemas.
- Para a profssional, os três avanços na última década são: evidências de que a reposição hormonal traz mais benefícios do que prejuízos (desde que orientada e individualizada); reconhecimento de uma lista com dezenas de sintomas que vão muito além de fogachos ou perda de libido; e entendimento de que a baixa hormonal começa por volta dos 35 anos.
- Uma vez que a mulher fortalece sua mente e suas emoções, todo o resto fica mais fácil. É fundamental que ela se perceba para além dos sintomas. Ela é corpo, mente e espírito - esses três precisam estar alinhados. Quando bem abordada, a menopausa pode ser uma fase de grande crescimento.
3 posturas que agravam os problemas nessa fase
- Esperar para procurar ajuda ou se acostumar com os sintomas. Acontece quando a mulher não coloca o seu bem-estar como prioridade. Sofrer no climatério não é normal, não importa a intensidade dos sintomas nem a data da última menstruação.
- Acreditar que o envelhecimento “é assim mesmo”. A mulher deve ser proativa e procurar profissionais atualizados.
- Falta de autocompaixão, que precisa ser aprendida e praticada. Muitas vezes a mulher é a sua maior crítica, compara-se demais com as outras e até consigo mesma, na sua versão mais jovem. Abraçar esta nova fase com compaixão significa entender que ela faz parte da vida e decidir como quer atravessá-la fará toda a diferença.
Fonte: Sâmara Irumé, psicóloga e idealizadora do @diariomenopausa
Mitos e verdades
Sem calorões, não há climatério.
MITO. O fogacho acontece em 60% das mulheres, mas o conjunto de sintomas no processo é muito maior do que isso.
Não há chance de engravidar depois dos 40 anos.
MITO. Até a ausência da menstruação por pelo menos um ano, a fertilidade diminui mas não está ausente.
O corpo da mulher no climatério vai mudar.
VERDADE. Metabolismo desacelera, aumentando as chances de ganho de peso e ajustes na dieta são feitos.
A saúde dos ossos é prioridade.
VERDADE. Com a baixa nos níveis de estrogênio, a mulher tende a perder cálcio, e o risco de osteoporose aumenta. A intensidade disso vai depender do histórico de estilo de vida e se faz reposição ou não.
A mulher na menopausa não quer transar nem sente prazer sexual.
MITO. Sim, o corpo muda, os pensamentos mudam e isso pode impactar na sexualidade. É um período de transição, uma fase diferente, com particularidades, mas a capacidade de ter prazer se mantém por toda a vida da mulher. No climatério, tem tesão, sim. Se goza, sim.
Sintomas desconfortáveis só existem até a última menstruação, depois vão passar.
MITO. A mulher pode sentir sintomas ligados à menopausa até décadas depois de parar de menstruar. E pode passar anos sem sentir nada e depois começar a ter. Exemplo: menopausa aos 50 anos e sintomas com mais de 70.
O processo de envelhecimento se acelera.
VERDADE. E não só do ponto de vista estético, mas cardiovascular, metabólico, osteoarticular e muscular (perda de força).
Deve-se esperar 12 meses, confirmando o fim da menstruação em definitivo, para iniciar tratamento com reposição hormonal.
MITO. A menopausa é uma data, a da última menstruação. Os anos anteriores (cinco anos, aproximadamente) e posteriores (pode durar décadas) a esse momento compreendem a perimenopausa (climatério).
Fontes: ginecologistas Carolina Melendez e Joele Leripio
O que você precisa saber sobre:
Sexo/prazer
A libido baixa e os sintomas como a secura vaginal podem reduzir a disposição para o sexo. Adaptações precisam ser feitas. Vai ter lubrificação, vai ter excitação, vai ter orgasmo, mas o corpo responde de maneira diferente. O corpo não aceita uma relação sexual por obrigação, e isso faz repensar relacionamentos.
Autoestima
Pode ser resgatada independentemente de fazer reposição hormonal ou não. A baixa autoestima passa muito pela falta de referências e inspirações. Não se pode estar com 50 anos e ter como referência e ideal uma mulher de 30. Quando se é jovem, há referência na carreira, para formar família e ser mãe. Depois dos 45 anos, isso acaba. Faltam modelos de inspiração, porque não se mostra a transição da menopausa nas mídias.
Nutrientes
A alimentação adequada é importante em qualquer idade. Dietas pobres, com muito produto alimentício e fast food, favorecem o aparecimento dos fogachos, da insônia e, claro, do ganho de peso. Uso de suplementos precisa de uma avaliação individualizada. Ao envelhecer, o intestino também vai perdendo a capacidade de absorção.
Reposição hormonal e câncer
Há 30 anos aproximadamente, a reposição era com hormônio sintético e num modelo padrão. Com o tempo, descobriu-se que reposição não é para todo mundo, nem pode ser a mesma para todas. O hormônio sintético tem melhores indicações e efeitos colaterais mínimos. A reposição é uma alternativa muito personalizada, precisa ser discutida com o médico de posse de uma série de informações. O hormônio isomolecular ou bioidêntico não aumenta o risco basal de câncer de mama.
Janela de oportunidade
Tempo no qual a mulher ficou sem hormônios e ainda é possível colocar de volta. Porque no pós-menopausa, na medida em que os anos passam, o corpo vai gerando uma adaptação, em que os benefícios da reposição já não são tantos assim. A janela que a Sociedade Brasileira de Climatério e Menopausa aceita é de 10 anos.
Sintomas
Quanto mais a mulher é orientada, quanto mais ela busca se informar, menores são os impactos desconfortáveis. Boa parte do “tratamento” se baseia em mudanças no estilo de vida e na orientação personalizada. A mulher que sabe o que está acontecendo e que cuida de sua saúde tem bem menos sintomas do que aquelas que não estão nem física nem emocionalmente preparadas.
Relação conjugal
O homem também envelhece e tem declínio hormonal. Então, são duas pessoas passando por uma fase de mudança. O que precisa ser feito? Conversar, dialogar, compreender. Os homens precisam se informar a respeito do climatério para entender a mulher e o tratamento. Devem evitar dizer que é mimimi, que é “coisa da cabeça dela”. Se a mulher está sentindo algo, isso deve ser levado em consideração.
Fontes: ginecologistas Carolina Melendez e Joele Leripio
Para ler
Treze mulheres se abriram com a jornalista Mariza Tavares para ajudá-la a mostrar, junto com informações médicas, o que acontece com o corpo e a mente da mulher no climatério.
O resultado está em Menopausa: o Momento de Fazer as Escolhas Certas Para o Resto da Sua Vida, lançado no início de março pela editora Contexto (R$ 39,90). Desde 2016, Mariza mantém o blog Longevidade: Modo de Usar, no portal G1.