Naquela corrida pelo bairro, você nota que começou a ter escape de urina. Quando vai dar uma risada ou tosse, percebe que também está perdendo xixi. Fique atenta: esses são sinais de que algo não vai bem. E é assim que boa parte das mulheres acaba descobrindo uma região que não é lá muito famosa no corpo, o tal assoalho pélvico.
— As pessoas geralmente se dão conta da existência dele somente quando há algum problema. É considerado o assoalho da casa, o piso da pelve. É um músculo que não é enorme, mas tem uma série de funções fisiológicas — explica a fisioterapeuta Cristiane Carboni, mestre em reabilitação do assoalho pélvico pela Universidade de Barcelona.
Para tirar as principais dúvidas sobre a região, conversamos com a especialista Cristiane e com a médica ginecologista Luiza Schvartzman, integrante da Sociedade Brasileira de Climatério. E se você tem mais de 50 anos e já está na menopausa é bom ficar de olho: é justamente nessa época que muitas mulheres passam a notar alterações no assoalho pélvico.
O que é o assoalho pélvico?
Segundo a fisioterapeuta Cristiane, é uma musculatura que se estende aproximadamente da região do púbis, na frente do corpo, até o osso do cóccix, na parte de trás. O assoalho pélvico está associado a funções como continência urinária e fecal, suporte dos órgãos da bexiga, do reto, do útero, da gestação, da função sexual e da via de parto.
Incontinência
Esse é um dos sintomas mais comuns de que algo não vai bem, e isso pode ter tudo a ver com o assoalho pélvico. A ginecologista Luiza pontua que há mais de um tipo de incontinência urinária, como a perda espontânea (a mulher está parada e, sem querer, tem escape), de urgência (quando sai correndo para fazer xixi, não consegue segurar) e de esforço (quando ocorre devido a algum esforço como tosse, corrida etc.). A médica também esclarece que, geralmente, há uma série de motivos que levam à perda de xixi.
— A diminuição do estrogênio em razão da menopausa, fatores da musculatura, outros ligados aos nervos da bexiga, possível doença, histórico da paciente, como número de gestações — avalia a médica.
Outros sinais
Incontinência fecal ou de gases, dores na pelve, desconforto na relação sexual, sensação de que a região vaginal está "frouxa" e ardência são alguns dos sintomas que podem indicar problemas no assoalho pélvico.
Fatores de risco
A maturidade é fator de risco para alterações no assoalho pélvico em razão das alterações hormonais na chegada da menopausa. Com a diminuição do estrogênio, explica a médica, a mucosa da vagina perde rugosidade, que já causa desconforto por si só. E a baixa hormonal também pode impactar a musculatura da região.
— Habitualmente, por volta dos 50 anos, as mulheres começam a apresentar alguma queixa. Ou na relação sexual, ou episódios isolados de perda de urina. Preste atenção, pois é mito que você precisará conviver com isso por estar na maturidade — reforça Luiza.
Outros fatores de risco, destaca a fisioterapeuta Cristiane, são sobrepeso, obesidade, gestação, constipação crônica, tosse crônica e exercício físicos de impacto sem acompanhamento adequado.
É possível prevenir?
Há caminhos para diminuir as chances de problemas. Assim como as adolescentes costumam consultar uma ginecologista após a primeira menstruação, o ideal seria fazer uma avaliação com uma fisioterapeuta pélvica na juventude.
— A dica é procurar ajuda já antes da primeira gestação, porque é possível focar em exercícios para deixar seu assoalho pélvico equilibrado e saudável. É preciso conhecer a região, entender como funciona — alerta Cristiane.
A fisioterapeuta explica que fazer exercícios sozinha em casa, sem avaliação prévia, não é o indicado:
— Cada caso é um caso, os movimentos são específicos para a sua musculatura. Há exercícios de contração, elevação, inclinação, é mais complexo do que só apertar e soltar. Treinamos resistência e também respeitamos o tempo de relaxamento.
E o pompoarismo?
A técnica milenar consiste em praticar exercícios focados em contração e relaxamento, que contribuiriam com o fortalecimento da musculatura, maior prazer sexual e combate à incontinência urinária.
Mas, fique atenta: praticar sozinha em casa pode ser uma roubada. A fisioterapeuta Cristiane explica que fraqueza muscular na região não é regra. Há mulheres que estão justamente com a musculatura tensa ou muito rígida e por isso estão enfrentando os sintomas.
— O pompoarismo tem sua importância, mas é preciso de avaliação antes de praticar — defende Cristiane.
Como buscar ajuda
Consulte seu ginecologista e uma fisioterapeuta pélvica. Como os sintomas podem estar associados a diferentes fatores, é feita uma investigação e um tratamento multidisciplinar, que pode incluir medicação, fisioterapia pélvica, cremes vaginais, terapia com lasers ou eletroestimulação.