Não é exagero chamar Cátia Damasceno de "guru do sexo" no Brasil. Aos 44 anos, ela é dona do maior canal sobre sexualidade do país, com mais de sete milhões de inscritos, e ainda compartilha conteúdos no Instagram para mais de 4,5 milhões de fãs. A fisioterapeuta especialista em uroginecologia também ministra cursos, levanta a bandeira da ginástica íntima, o pompoarismo, e fala sobre prazer na cama com muito bom humor, sem enrolação.
Para marcar o Dia do Sexo, celebrado nesta segunda-feira (6), Donna bateu um papo com Cátia, que topou responder a perguntas picantes. Falamos sobre orgasmo, masturbação, toys na relação à dois e por aí vai. Veja a seguir:
Falamos mais abertamente sobre sexo hoje em dia, porém, ainda há muitas mulheres que relatam insatisfação na cama. Orgasmo feminino ainda é tabu na sua opinião? Por quê?
Muitas mulheres ainda têm vergonha do próprio corpo. Não é nem que elas não queiram fazer sexo. Aliás, elas querem demais. O sexo começa na cabeça, e se a mulher está com a cabeça cheia de outras coisas, vai continuar insatisfeita. Homem quando quer faz sexo só pensa nisso, nada mais importa. A mulher leva a vida toda para a cama, todas as suas emoções, não consegue simplesmente se desligar. Então, não é uma questão do acesso ou da quantidade de informação, tem mais a ver com autoaceitação também. Enquanto ela não trabalhar o autoconhecimento e a autoestima, a insatisfação vai existir. Ela tem que estar bem consigo mesma para ter uma vida sexual mais plena.
A ginástica íntima, o pompoarismo, é uma de suas bandeiras. Por que a técnica pode transformar a vida sexual de uma mulher? E como praticar?
A ginástica íntima tem um poder enorme porque proporciona uma consciência maior da mulher sobre o seu próprio corpo. Não é só uma questão de ter uma performance melhor na cama, tem a ver com se descobrir e se permitir. Os benefícios são inúmeros: melhora a lubrificação, aumenta a libido, fortalece a musculatura vaginal. Sem contar em todos os pontos positivos para a saúde feminina: ajuda a prevenir e tratar a incontinência urinária, diminui e, em alguns casos, até elimina a cólica menstrual, ameniza os sintomas da menopausa. É coisa demais!
Há relatos de mulheres que são casadas há décadas e nunca tiveram um orgasmo, ou não sentem prazer no sexo com o marido. Quais os primeiros passos que você indicaria para transformar a vida sexual desse casal para melhor?
Solução tem, mas tem que ter força de vontade também. Não é mágica, não acontece de um dia para o outro. Esse problema na vida sexual pode ser reflexo de outros pontos do relacionamento que já estão fragilizados. Então, não é só melhorar o que acontece na cama, tem que avaliar a conexão desse casal, se eles estão com valores e objetivos alinhados. Quando chega a um estágio que nem sexo mais tem é porque já ultrapassou a questão de desgaste ou rotina até comum em relacionamentos longos, por exemplo. São problemas mais profundos. Muita gente acha que fazer sexo é sinal de que o relacionamento vai bem, mas não é. Às vezes, os casais fazem sexo para mascarar os verdadeiros problemas. Não é pelo sexo que a mudança começa, é pela comunicação.
O vibrador e os toys estão cada vez mais populares entre as mulheres. Mas, ao mesmo tempo, muitos homens têm resistência de usar esses itens durante a relação com as namoradas ou esposas. Como os acessórios podem apimentar a relação sexual?
A resistência dos homens em relação a vibradores, principalmente, tem a ver com a crença de que ele vai ser substituído pelo brinquedinho. Primeiro que, se um cara pensa assim, é porque não tem confiança na própria performance. Até o preconceito que alguns têm vem da insegurança, do medo de ser trocado, o que é uma grande besteira. O casal perde demais quando o homem tem essa postura. E, para mim, tudo isso é fruto de desinformação. A minha dica é: leiam juntos a respeito, testem algo mais simples no começo, pode ser um gel comestível para massagem ou gel térmico, daqueles que esfriam ou esquentam quando esfregamos. Um brinquedo muito bacana é o anel peniano que vem com um vibrador. O acessório é posicionado na base do pênis do homem, e além de ajudar a segurar o fluxo sanguíneo aumentando o tempo de ereção dele, a parte do vibrador estimula o clitóris da mulher durante a penetração. Depois que ele se acostumar, é só ir introduzindo outros itens.
Quais dicas que você daria quando o assunto é o sexo virtual? É possível ser tão proveitoso quanto o "ao vivo"? Como entrar no clima?
O sexo virtual é uma excelente oportunidade de colocar algumas fantasias em prática e abusar dos brinquedinhos eróticos. É possível, sim, aproveitar e ter muito prazer, basta usar a criatividade. Dá para fazer um strip-tease, falar umas coisas mais apimentadas, detalhar o que gostaria de fazer com o outro se eles estivessem juntos... Esse tipo de relação é legal para a mulher porque ela usa bastante a imaginação, uma ferramenta muito importante para elas entrarem no clima, ficarem excitadas. Vale se fantasiar, fazer dança sensual, preparar um cenário bacana e se jogar mesmo.
A masturbação feminina é a principal aliada da mulher para entender como gosta de ganhar prazer? Se a mulher ainda tem receio de praticar, quais dicas você dá para perder o medo?
Sim, a masturbação é fundamental para a mulher entender o seu corpo em relação ao prazer. Mas não somente isso. Ela precisa se tocar por inteiro. Se ela não souber do que gosta, como vai exigir que o parceiro saiba? E outra coisa: a mulher não pode ficar refém de qualquer outra pessoa para sentir prazer. Quando ela não se toca, não se conhece, está colocando a responsabilidade do orgasmo no outro. Nós temos que ser responsáveis pelo nosso próprio orgasmo, não podemos delegar algo assim tão íntimo a alguém. Até pouco tempo atrás, a questão da masturbação feminina era mais polêmica, ninguém sequer discutia o assunto. Hoje já melhorou, mas é difícil mudar algumas crenças, então tem mulher não se toca porque acha que é errado, sujo, enfim. Para perder esse medo, ela pode começar aos poucos. Um dia acaricia só a região do pescoço e do colo, no outro já desce para os seios e abdômen. Depois, ela pode acariciar as coxas por dentro, pertinho da virilha, o bumbum. Até quando estiver se sentindo confiante para se dar o prazer que merece.
Há mulheres que relatam dificuldade de chegar ao orgasmo apenas com a penetração. Quais dicas você daria para elas? O sexo oral como seu maior aliado?
Treine pompoarismo. Os treinos fortalecem a musculatura e estreitam o canal vaginal, o que significa mais atrito com o pênis durante a penetração. Quanto mais atrito, mais estímulo. Diversas alunas minhas tiveram o primeiro orgasmo vaginal depois de se tornarem pompoaristas. E, quanto ao sexo oral, ele é um aliado maravilhoso, mas a mulher não pode depender só disso. Nós temos que explorar todo o potencial que nosso corpo tem a oferecer.
Quais áreas erógenas menos conhecidas do corpo você destacaria como locais importantes para acariciar e entrar no clima? Tanto em homens quanto em mulheres?
Não é tão desconhecida assim, mas tanto no homem quanto na mulher, o períneo é uma zona erógena extremamente poderosa. É aquela região entre o ânus e a entrada da vagina nas mulheres e entre o ânus e o saco escrotal no homem. É uma região muito sensível por ser bem vascularizada, então, dá pra massagear, acariciar, brincar bastante.
Quais as três principais informações sobre o prazer feminino que fazem toda a diferença na hora H e muitas mulheres não sabem?
Imaginação, lubrificação e paciência.