Na manhã desta quinta-feira (24), um trio de mulheres se reuniu para um bate-papo promovido pela Bayer para celebrar o Dia da Contracepção, que ocorre no sábado, dia 26.
O mote foram os 60 anos da chegada ao mercado da primeira pílula anticoncepcional, e contou com a presença da médica ginecologista Iza Monteiro, membro da diretoria da Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), a co-fundadora do podcast Mamilos, Juliana Wallauer, e a cantora Gaby Amarantos.
Com mais de 25 anos de experiência na área de contracepção, Iza Monteiro abriu a rodada de ideias:
– O maior impacto que pode acontecer em uma sociedade é pensar sobre a fertilidade, que acabou virando uma demanda, uma cobrança e um poder feminino. O que chamamos de planejamento familiar é escolher se quero ou não e quando quero ter filho. Se tenho na época certa, consigo melhorar a igualdade de gênero, as mulheres podem ir para o mercado de trabalho de uma forma mais competitiva e frequentar espaços educacionais.
A ginecologista também apresentou dados importantes, como o fato de 55% das gestações no Brasil não serem planejadas. Também apontou como países com políticas de incentivo a métodos de longa duração, como DIU, conseguiram aumentam as possibilidades de planejamento familiar – diferentemente de métodos que dependem "da lembrança".
– Sabemos que muitas mulheres têm medo de sentir dor na hora do implante, mas a tecnologia hoje já oferece modelos mais finos, que são bem adaptáveis, principalmente em mulheres que não tiveram filhos. Um grupo muito importante é o das adolescentes, que tem a chance de seguir na escola diminuída e um impacto socioeconômico forte.
Na sequência, Juliana Wallauer abriu sua fala com um recado:
– Tudo o que vou falar é pré-pandemia. Acho que teremos números piores ano que vem e temos estatísticas que apontam que retrocedemos 30 anos na conquista de direitos das mulheres com a crise sanitária.
Juliana levou dados de mercado de trabalho: na América Latina, por exemplo, 50% das mulheres estão no mundo profissional, enquanto entre os homens o número é de 80%. O que isso tem a ver com filhos?
– Oitenta por cento dos empregos de meio-período são de mulheres. Por que queremos trabalhar menos? Não! Porque precisamos ficar em casa cuidando das crianças. Agora na pandemia, com as escolas fechadas, muitas pediram demissão, porque não têm como trabalhar.
Além do impacto direto na questão de renda e dependência, Juliana ainda abordou a violência sexual:
– No Mamilos temos uma série de violência doméstica em que fala que a maternidade é um gatilho muito forte. O abusador usa os filhos para deixar a mulher confinada.
E finalizou:
– Tenho dois filhos, é o maior projeto da minha vida, mas, pra mim, é fundamental que a gente tenha conquistado esse direito.
A cantora Gaby Amarantos também falou da liberdade sexual como reflexo dos métodos contraceptivos:
– Orgasmo tinha que estar na Constituição, temos esse direito. Muitas mulheres fingem e isso é uma parada muito séria, está contribuindo para que os homens não entendam que é uma via de mão dupla, e nossos corpos não estão ali apenas para servir.
E seguiu:
– Sou de uma geração que está colhendo os frutos da primeira onda do feminismo. Sou de uma família em que minhas avós casaram com 12 e 13 anos. E ainda é muito cultural no Norte, uma região com casos extremos de violência contra a mulher, uma população ribeirinha, no coração da Amazônia, em que a informação não chega.
Mãe de um filho, a cantora destacou a importância do planejamento familiar como forma de viver uma maternidade plena e saudável.
– É cruel ver uma pessoa que tem potencial para escolher qualquer profissão ser interrompida por falta de acesso, informação e condição financeira.