O clima rolou, o tesão está lá em cima, tudo fluiu bem até que, no momento da penetração, você sente aquele desconforto: não está lubrificada o suficiente na hora H. Essa sensação de ressecamento, irritação e dor atrapalha (e muito!) algumas mulheres durante as relações sexuais. E os motivos para não ficar "molhada" mesmo estando excitada podem ter diferentes causas – e tratamentos.
Para entender tudo sobre a lubrificação feminina, conversamos com as ginecologistas Simone Regina Vaccaro e Florence Zanchetta Coelho Marques, que também é especialista em sexologia clínica.
Mitos e verdades sobre lubrificação feminina
Por que a lubrificação é tão importante para o sexo?
Estar bem lubrificada é essencial para se ter uma relação sexual prazerosa, sem dor e conseguir chegar mais facilmente ao orgasmo.
— O atrito do pênis na vagina será desagradável e vai provocar incômodo sem a lubrificação. Com o tempo, vai desestimular a mulher a ter relações sexuais — avalia a ginecologista e sexóloga Florence.
E você sabe como funciona a lubrificação? A médica Simone explica que o epitélio da mucosa vaginal é composto por três camadas: a profunda, a média e a superficial. É ali que estão as células que produzem glicogênio e, após um processo bioquímico, há a liberação do ácido lático, responsável por manter o pH da vagina estável, mais ácido.
Uma mulher em fase reprodutiva, com produção de estrogênio normal, tem esse processo vaginal ocorrendo sem percalços, e isso contribui para uma lubrificação adequada. Outro ponto importante são as glândulas de Bartholin, localizadas na entrada da vagina. Elas produzem um muco liberado no período excitatório, promovendo a lubrificação vaginal.
— Em resumo: quando estamos num período de relação sexual ativo, numa fase que não é a da menopausa, temos uma vagina com uma produção boa de secreção, com uma glândula de Bartholin que funciona bem, com vitalidade, e isso tudo facilita com lubrificação adequada — diz Simone.
Tenho tesão, mas minha vagina fica ressecada na hora H. Por que isso acontece?
Os motivos são muitos e podem ter fundo hormonal, psicológico ou uma combinação de ambos. Simone conta que, além do funcionamento correto do órgão feminino, há os "impulsos hormonais". Numa relação sexual, existem a fase da atração, a excitação, a relação sexual e o orgasmo. Quando esse caminho é bloqueado em alguma medida, a lubrificação pode ser impactada:
— Existem medicamentos para modulação do humor, como antidepressivos, que produzem substâncias químicas neurológicas para deixar a pessoa bem do humor, só que fazem isso bloqueando alguns hormônios sexuais. Outra causa podem ser os distúrbios hormonais.
Simone ainda lembra da bartolinite, mais um fator que pode atrapalhar a hora H. Caso a glândula inflame, ficando entupida, não vai funcionar como deveria e isso diminui o potencial de lubrificação.
Uso de anticoncepcionais pode causar ressecamento da vagina?
Sim! O anticoncepcional funciona como um bloqueador da ovulação e isso pode impactar em todo o processo sexual da mulher, como libido, orgasmo e também a lubrificação.
— Quando estamos sem tomar nada de hormônio, temos uma fisiologia que nos prepara para engravidar. Temos uma ovulação e, para isso, os picos hormonais. Eles nos deixam com mais excitação durante a fase fértil. Nesse período, as mulheres costumam ter mais libido por causa do hormônio que está ali presente. Ou seja, se usarmos um medicamento que faz o bloqueio da ovulação, como o anticoncepcional, temos uma perda dessa função — ressalta a ginecologista Simone.
Tenho pouca lubrificação. O que posso fazer de imediato para resolver o problema?
Para um diagnóstico correto, é imprescindível buscar o auxílio de uma especialista. Mas há algumas dicas que podem ser aplicadas no dia a dia e trazer resultados.
Entre as principais sugestões da médica Florence, estão ingerir bastante água, incrementar a troca de carinhos entre o casal, investir nas preliminares e apostar no sexo oral. E as carícias antes da penetração são ainda mais essenciais para a mulher que está com dificuldade para lubrificar, diz a ginecologista e sexóloga:
— As mulheres precisam de alguns minutos de estímulo para ficar adequadamente lubrificadas. Em relações estáveis, é comum que o sexo passe a focar na penetração e, quando o foco é o coito, deixamos de perceber e receber inúmeros estímulos em áreas erógenas que são altamente prazerosos.
Os lubrificantes são a melhor saída? Preciso comprar ou posso usar algum item caseiro?
Esses são os melhores produtos para ajudar quem sente dificuldade na lubrificação e podem ser usados diariamente. As especialistas indicam os produtos à base de água, vendidos em farmácias e mercados.
— Não irritam a pele, não mancham a roupa, não apresentam limite de vezes e quantidade e não impõem riscos de romper o preservativo — avalia Florence.
Há itens caseiros, como o óleo de coco, que até podem ser utilizados como lubrificantes, embora sua consistência não torne o uso muito prático, ressalta a ginecologista Simone:
— O óleo de coco tem uma característica bactericida e fungicida. Mas o gel lubrificante à base de água ainda é o mais indicado.
É verdade que se masturbar pode ajudar na lubrificação?
Não é mágica, é autoconhecimento. Ao se masturbar, a mulher aprende que tipo de toque gosta, com qual intensidade e em qual local sente mais prazer. Esse é um processo que pode ajudar algumas mulheres a saberem a melhor forma de entrar (e se manter) no clima durante a relação sexual, promovendo maior lubrificação.
Essa falta de lubrificação pode estar ligada a questões psicológicas?
Sim! Estresse, ansiedade, problemas no trabalho, inseguranças com o corpo, brigas do casal, filhos... A lista de possíveis dificuldades é longa. Cabe avaliar caso a caso, embora a ginecologista e sexóloga Florence faça o alerta:
— No quesito lubrificação, causas hormonais antes da menopausa ocorrem na minoria dos casos.
Ou seja: se você é mais nova, é grande a chance do problema ser algo de fundo psicológico mesmo. A dica é procurar ajuda médica.
Na menopausa, o ressecamento vaginal pode ser mais comum? Por quê?
É verdade. Se você está chegando na menopausa ou já adentrou o período, fique atenta ao ressecamento vaginal causado pelas alterações hormonais.
— Quando chegamos na menopausa, perdemos o estrogênio, e as três camadas do epitélio da mucosa vaginal se fundem, formando o que chamamos de atrofia. Há um ressecamento natural da região e perdemos essa qualidade na relação sexual — afirma a médica Simone.
A ginecologista e sexóloga Florence indica o uso de lubrificantes e hidratantes para auxiliar no desconforto durante a relação, mas destaca que esses itens não tratam a atrofia, pois não reestabelecem a anatomia genital que se modifica após a menopausa.
— O tratamento pode ser realizado com reposição de hormônios por via oral, em gel ou adesivos transdérmicos e por via vaginal. Nas mulheres com restrição ou que não desejam suplementar hormônios, o laser genital e a radiofrequência são boas alternativas — conta a especialista.
A amamentação pode causar ressecamento vaginal?
Sim! A médica Simone explica que, durante a amamentação, ocorre um bloqueio hormonal importante feito pela prolactina, que é o hormônio produtor do leite. Por conta disso, além de fazer com que haja essa atrofia genital, pode impactar também a libido.
— É um momento transitório que precisa ser explicado para o casal, a mulher vai ficar um tempo bloqueada hormonalmente — diz Simone.
É verdade que o pompoarismo ajuda na lubrificação? Como praticar?
É verdade. O pompoarismo, explica a ginecologista Simone, é uma técnica para trabalhar o reforço da musculatura pélvica e das contraturas da vagina. Esses movimentos estimulam os tecidos da região e ajudam na produção das células do glicogênio, o que pode impactar a lubrificação positivamente.
— Contrair e soltar três vezes ao dia, com 15 repetições, faz com que a mulher tenha um tônus melhor. É indicado também para quem tem flacidez pélvica, incontinência urinária. Digo que é trancar e soltar o xixi — destaca Simone.
A ginecologista e sexóloga Florence ainda ressalta outros benefícios da prática:
— Ela melhora o fluxo sanguíneo pélvico, a mobilidade pélvica e auxilia na sensibilidade clitoridiana.