Já passou pela experiência de, ao falar sobre o beijo de alguém, ouvir um relato bem diferente daquele que você vivenciou? Pois então. Nem tudo o que funciona para um vai funcionar da mesma forma para outro. É partindo dessa premissa que, para comemorar o Dia do Beijo, nesta quinta-feira (13), questionamos sexólogas sobre se, afinal, existem "beijos ruins" ou se é tudo meramente uma questão de química.
Para a ginecologista e sexóloga Florence Zanchetta Coelho Marques, a questão pode envolver diferentes fatores, como ansiedade, expectativa alta e até mau hálito.
— A falta de química pode influenciar, mas um beijo bom pode contribuir para que a química ocorra ou não. Vários fatores podem estar associados, desde ansiedade e nervosismo aumentados até expectativa grande demais. Assim como um beijo com falta de vontade, rápido demais, com falta de sincronia no ritmo, saliva em excesso, mau hálito... Até mesmo um cheiro de pele que nos seja desagradável pode comprometer — avalia.
A psicóloga e terapeuta sexual Laura Meyer concorda que existem beijos ruins, até porque tem quem esteja ainda aprendendo sobre a prática.
— Beijar é também se envolver, se entregar para os sentidos. Não se preocupar com o que o outro está pensando. Quando rola uma química maravilhosa é muito gostoso, mas a gente também aprende a beijar. Com o tempo, praticando e tendo cada vez mais experiências.
A ginecologista e pós-graduanda em sexologia Nadiessa Dorneles Almeida avalia que, ainda que seja possível que os fatores citados acima façam com que um beijo seja ruim para a maioria das pessoas, pode acontecer de, às vezes, "simplesmente não encaixar".
— Quando os movimentos e as práticas daquela pessoa não são atraentes para o outro — exemplifica ela, que também é professora de Medicina da PUCRS.
Vale a pena dar uma segunda chance?
Todas as profissionais concordam que sempre vale a pena dar uma segunda chance ao beijo que não foi tão bom, até porque o encaixe pode ser uma questão de adaptação ao outro. Isso, é claro, quando é o desejo de ambas as partes envolvidas.
A prática do beijo que não encaixa tão bem pode ser ajustada com afabilidade e comunicação, pontua Nadiessa.
— Há formas de comunicar as coisas quando falamos de sexualidade. No beijo, por exemplo, é possível verbalizar o que gosta, mas também é possível comunicar seus desejos sendo protagonista dos movimentos e reações durante o ato. Se você gosta de um beijo mais lento, desacelere e faça a pessoa perceber. Se gosta mais acelerado, faça o contrário, e por aí vai.
Outro ponto que deve ser levado em consideração é que a experiência do beijo também pode melhorar na medida em que o casal se envolve emocionalmente, diz a profissional.
— Não é incomum casais que não tinham tanta química no início irem aumentando o vínculo emocional e, posteriormente, relatarem que o beijo melhorou — conta.
— Mas, se não encaixar de novo, talvez nunca encaixe — frisa a ginecologista e sexóloga Florence.
O encaixe perfeito
Sintonia, afeto, ritmo, intensidade, contato da pele, odores e sabores. São esses os ingredientes que compõem um bom beijo, de acordo ainda com Florence. Mas, acima de tudo, a conexão.
— Não só dos corpos, mas das almas — acrescenta.
Já Laura pontua que o beijo é uma expressão do carinho e do desejo que se nutre pelo outro.
— As pessoas vão se conectando uma com a outra, e isso é o que encaixa. É a entrega, principalmente na hora da relação sexual — afirma a terapeuta.
A tal da química
Nossas experiências anteriores ocupam um papel importante na química, afirma Florence. De modo inconsciente, evocamos tanto memórias positivas como negativas na hora do beijo. Além disso, liberamos neurotransmissores cerebrais. Um bom beijo pode liberar:
- dopamina (sentimento de prazer e bem-estar)
- serotonina (sentimento de excitação e otimismo a sentimentos de raiva e aversão)
- epinefrina (que aumenta a frequência cardíaca, o tônus muscular e o suor, causando calor e taquicardia)
- oxitocina (sentimento de afeto, confiança, vínculo)
- óxido nítrico (que relaxa os vasos sanguíneos, provocando sua dilatação e um aumento no fluxo sanguíneo, especialmente nas áreas genitais — lubrificação vaginal e ereção)
- feniletilamina (sentimento de prazer)
- bem como alguns hormônios, como cortisol e testosterona
— O conjunto dessas substâncias contribui para que se estabeleça a química — explica a médica.
E é a partir dessa química toda que surge a paixão, aponta ainda a psicóloga.
— Essa química começa antes do beijo. O beijo vai atiçar mais hormônios, que vão provocar mais desejo, mais prazer.
Nadiessa acrescenta que há teorias citando que genética, hormônios e outras substâncias liberadas durante o beijo podem interferir no encaixe do casal.
— Porém, a sexualidade humana é muito mais complexa. O encaixe pode depender de fatores culturais, experiências pessoais, do vínculo das pessoas no momento do beijo, além de fatores orgânicos e relacionais. Química é algo que pode inclusive oscilar no mesmo casal em diferentes fases de vida, o que demonstra a complexidade do tema — frisa.
O prazer do beijo
Além de toda a questão química que explica as sensações de felicidade e bem-estar, o beijo também é prazeroso porque ativa todos os nossos sentidos, especialmente o olfato, o paladar e o tato.
— Além dos neurotransmissores e hormônios envolvidos, o beijo é importante em um relacionamento. É um ato de intimidade entre um casal, desperta o desejo e a paixão pela conexão estabelecida — reforça a ginecologista e sexóloga Florence.
— Os lábios e língua têm muitas terminações nervosas, o que pode tornar o ato algo bem prazeroso. Alguns estudos sugerem que há ativação das mesmas zonas cerebrais relacionadas a recompensa e vício, o que explica o fato de não desejarmos parar quando estamos vivenciando um beijo bom — acrescenta Nadiessa.