Os gostos e preferências nas relações sexuais são muito pessoais e, por isso, também variam bastante. Mas existe uma prática bem comum que agrada grande parcela da população: a de trocar com o parceiro ou parceira algumas frases picantes na hora "H".
Conforme explica a médica e sexóloga Jaqueline Brendler, falar durante o sexo pode excitar os envolvidos porque cada um armazena tanto experiências passadas como cenas de filmes e livros eróticos no próprio imaginário sexual.
— Assim, tanto as palavras como os sons podem ser eróticos — resume ela.
O que evitar falar para não acabar com o clima
Para não estragar a excitação do momento, Jaqueline indica que o ideal é não usar a linguagem "racional e lógica". Isso porque a interação sexual é puramente emocional, e é provável que, ao falar qualquer coisa que não seja erótica, o cérebro volte ao modo "razão".
Não é somente "ser um narrador de rádio" que quebra o clima, falar algo não erótico já atrapalha
JAQUELINE BRENDLER
sobre falar na hora do sexo
— Não é aconselhado desativar as áreas cerebrais ligadas à sexualidade para acionar regiões da linguagem não instintiva, polida. Então não é somente "ser um narrador de rádio” que quebra o clima, falar algo não erótico já atrapalha. O pior é fazer perguntas não eróticas, pois elas serão respondidas com algo lógico e racional, desativando áreas sexuais do cérebro — ressalta.
Isso significa que qualquer menção a assuntos que fogem da cena sexual pode estragar o clima, defende a sexóloga. Nesse sentido, desde comentários claramente descontextualizados (como "precisamos comprar tal coisa no mercado") até frases mais "formais" (no estilo "prefere que eu vá por cima?" ou "vamos para a beirada da cama?") também podem atrapalhar a excitação a dois.
— Já é uma quebra de linguagem. Não é erótico tudo que exige uma resposta lógica e não emocional. Sexo é para fluir, para se deixar levar. Perguntar "eu posso?" no meio do sexo, por exemplo, é coisa de novato e inexperiente. A linguagem erótica e os sons eróticos (gemidos) devem ser os únicos na cena sexual. Mas o pior de tudo ainda é quem não fala nada. Para a maioria das pessoas, não é excitante ter um parceiro ou parceira mudo (a) — opina Jaqueline.
Homens e mulheres têm preferências distintas
Em uma pesquisa realizada por Jaqueline, os gemidos da parceira foram a resposta mais comum (64%) entre os homens para o questionamento "o que os excita e ajuda a manter a ereção". Já entre as mulheres, 54% responderam "ouvir palavras eróticas".
A sexóloga explica que as mulheres, no geral, ficam mais excitadas quando os homens falam o que estão sentindo na hora "H" — se estão gostando, por exemplo — e quando as elogiam (o famoso "gostosa" é um clássico, cita, além de comentários no estilo "você me dá muito tesão"). Já os homens costumam preferir os gemidos.
— Homem gosta de ouvir gemido e mulher gosta de ouvir palavra. Claro, estou falando do maior nível de resposta, mas homem também se excita ouvindo palavras eróticas e mulher também se excita com gemidos. Mas há uma prevalência de favoritismo (entre os gêneros) — diz ela.
Sobre o "falar obsceno", Jaqueline cita uma pesquisa norte-americana que investigou com que frequência as pessoas fantasiam esse tipo de interação.
— Exemplo do que seria obsceno: ser chamada de vagabund*, put*, prostitut* ou outro termo depreciativo durante o sexo. A diferença de gênero foi substancialmente maior neste caso: 52% das mulheres disseram que já haviam fantasiado sobre o assunto antes, e 22% fantasiavam com frequência. Entre os homens, foram 35% que já haviam fantasiado e 10% fantasiavam com frequência — relata a especialista.
Espontaneidade é a chave
A relação sexual é um momento de ser espontâneo, se deixar levar, ser autêntico com seus desejos e fantasias, frisa a sexóloga.
— Pessoas mais confiantes, mais desinibidas e que se conhecem têm maiores chances de saber o que falar e como se expressar — pondera Jaqueline.
Portanto, a dica é curtir o momento e não ficar planejando com antecedência. Falar o que der vontade, sem pudores, é a indicação.
Liberdade também no sexo casual
E quando o sexo é casual — ou seja, não existe uma relação estabelecida entre as partes —, a lógica se mantém? É sempre um risco experimentar interações do tipo quando não se conhece tão bem o parceiro ou parceira, mas a sexóloga opina que talvez não seja uma boa ideia tentar uma combinação prévia sobre o assunto.
— Eu desaconselho fazer um questionário para saber as preferências sexuais do outro, antes do sexo, com um desconhecido. É o ônus do sexo casual. Aproveita mais o sexo casual quem tem mais experiência e autoconhecimento — justifica a sexóloga.
Agora, quando o "falatório" em questão não estiver agradando, a dica é não deixar de expressar suas vontades.
— Tem que falar. Sexo não é para agradar ao outro. Sexualidade boa é de mão dupla, é para dar prazer para as duas pessoas — lembra a especialista.