Manter a tranquilidade é o ponto principal para as mulheres que passaram dos 50 anos e começaram a notar diferenças na vida sexual. Especialistas garantem ser normal perceber alterações no corpo e nas próprias reações, que podem ser mais intensas devido à menopausa.
Segundo a ginecologista, sexóloga e terapeuta de casais Michelli Osanai, também coordenadora do Núcleo de Estudos em Sexualidade do Centro de Estudos da Família e do Indivíduo (Cefi), as queixas mais frequentes são a dor ou desconforto durante a penetração e a diminuição do desejo sexual.
— É importante ter em mente que, nas relações longas e nesta fase da vida, é normal a mulher ter menos desejo espontâneo e mais desejo responsivo, que ocorre após ser estimulada nas carícias preliminares quando é receptiva ao parceiro. Só consideramos disfunção de desejo quando não há desejo espontâneo nem responsivo — explica.
A ginecologista e sexóloga Fernanda Grossi, membro do comitê científico da Associação Brasileira de Estudos em Medicina e Saúde Sexual (ABEMSS), ressalta que conversar com o médico a respeito das modificações que a menopausa traz para a vida sexual é importante e pode resolver essas dificuldades.
Para ajudar as mulheres, as especialistas esclarecem os mitos e verdades mais frequentes sobre sexo depois dos 50 anos. Confira.
1. A libido diminui?
Verdade – mas em termos. O desejo sexual sofre interferência de múltiplos fatores, e o ciclo de vida é um deles. Nesta idade, o declínio hormonal pode interferir na libido. Mas devemos lembrar também do uso de medicações, doenças concomitantes, aspectos dos relacionamentos afetivos e o momento de vida (filhos, carreira, família). É comum mulheres relatarem declínio da libido a partir do climatério ou após a menopausa. No entanto, os fatores que contribuem para isso são complexos e podem incluir os sintomas decorrentes da queda dos níveis hormonais, como a secura vaginal e dor nas relações, além de fadiga ou estresse, mas também envolvem fatores psicológicos e sociais.
A sexualidade é mais influenciada por variáveis socioculturais do que por questões físicas ou fisiológicas. Nossas crenças em relação ao tema influenciam a forma como vamos vivenciá-la nesta fase. Se conservarmos a crença de que a vida sexual desaparece com o tempo, esse declínio passa ser fruto das nossas expectativas. A qualidade da relação pode estar deixando a desejar, sem o investimento e cuidado que necessita. Assim, não podemos atribuir a perda do desejo totalmente às mudanças hormonais. A menopausa representa uma fase de mudanças e adaptação na vida da mulher e do casal, mas não significa o fim do prazer sexual.
2. A vagina pode ficar mais flácida? É isso que causa desconfortos na hora H?
Verdade. A flacidez se refere à musculatura que envolve a parede vaginal e o assoalho pélvico. Ocorre pela falta de exercícios, consciência corporal e diminuição do colágeno. Os tratamentos indicados envolvem fisioterapia pélvica e uso de procedimentos, como laser e radiofrequência. A mucosa vaginal, por sua vez, fica mais fina e menos elástica, o que pode ser minimizado com o uso de hormônios tópicos e tecnologias. A vulva (parte externa) também pode apresentar flacidez devido à perda de colágeno, problema que pode ser corrigido com procedimentos, bioestimuladores e técnicas de preenchimento. A falta de sensibilidade dependerá do quanto essas questões afligem a mulher.
3. Ocorre ressecamento vaginal?
Verdade. Há uma diminuição da espessura da mucosa, da elasticidade vaginal e da vascularização e, consequentemente, uma vagina menos lubrificada e menos elástica. A queda dos níveis hormonais pode levar ao quadro de atrofia vaginal. A mulher percebe uma falta de lubrificação nas relações sexuais, que causam desconforto e até dor durante a penetração. A associação do sexo com dor faz com que muitas passem a evitar as relações, podendo desenvolver uma disfunção de desejo secundária. Este quadro pode ser evitado ou revertido por meio de cremes contendo hormônios ou hidratantes vaginais, terapias hormonais sistêmicas ou laser, quando indicados.
4. Fica mais difícil ter orgasmo?
Mito. A capacidade de chegar ao orgasmo não é afetada pela idade. Algumas mulheres poderão necessitar de mais tempo para atingirem o pico de excitação e o orgasmo. Em algumas condições – como no diabetes, na depressão, com o uso de alguns medicamentos –, pode haver uma redução da sensibilidade e dificuldade de atingir o orgasmo. É importante lembrar que a maioria das mulheres necessita de estímulo direto sobre o clitóris para atingir o orgasmo. O segredo é investir nas carícias preliminares e no estímulo efetivo para chegar lá, por meio do autoconhecimento e de uma comunicação sexual adequada com o(a) parceiro(a). O orgasmo é um motivador importante para o sexo. Porém, não é um fim em si. Não é só orgasmo que proporciona o prazer.
5. Existe um pico sexual?
Mito. Jovens podem apresentar um “pico sexual” do ponto de vista hormonal e, no entanto, o exercício da sexualidade pode ser insatisfatório por inexperiência e medo, por exemplo. Já uma mulher de 60 anos pode entrar num novo relacionamento e experimentar uma vida sexual nunca vivida antes, mesmo que, do ponto de vista hormonal, ela esteja abaixo do que possa ser considerado ideal para a vida sexual. A chave é o autoconhecimento, é impedir que tabus e construções sociais determinem como e até quando a mulher pode viver sua sexualidade.
6. Sexo deixa de ser importante ?
Mito. O sexo não deixa de ser importante em nenhuma fase, ele se adapta. O maior preditor de uma vida sexual ativa após a menopausa é a forma como a mulher viveu sua sexualidade ao longo da vida. Para a mulher que se permitiu o autoconhecimento e o prazer sexual, que desfrutou de sua sexualidade regularmente, o sexo terá importância. Felizmente, sempre é tempo de aprender a gostar da prática sexual e enriquecer as diversas formas de vivenciar prazer. Nesta fase, a mulher pode se voltar mais a si mesma. É um momento de autocuidado e redescoberta.
7. Já não se tem a mesma energia para o sexo depois dos 50 anos?
Mito. Não é a idade que determina nossa energia sexual e sim as nossas vivências, os momentos de vida, o bem-estar e o entendimento de como a sexualidade será experimentada em cada momento. O sexo se assemelha à prática de exercícios: se mantivermos uma regularidade, podemos praticar por toda a vida. Mas, para isso, precisamos deixar a preguiça de lado. Os efeitos sistêmicos da queda hormonal nesta fase da vida podem causar suor noturno, insônia e alterações de humor, que também comprometem o bem-estar. Porém, é importante conferir como está a saúde como um todo e avaliar hábitos que possam prejudicar o sexo. Assim, uma alimentação equilibrada, não fumar ou beber em excesso, praticar atividade física, manter-se ativa, manter o convívio social e valorizar suas qualidades são receitas para manter-se cheia de energia para a vida e para o sexo. A má qualidade da vida é um dos fatores impeditivos de uma plena realização sexual em qualquer idade.