Por Lara Ely, especial
Até pouco tempo atrás, muitas mulheres nem cogitavam colocar o DIU. O dispositivo intrauterino é o método contraceptivo de apenas 2% da população em idade fértil, segundo o Ministério da Saúde. Mas esse percentual tende a crescer. E os motivos vão desde a busca por métodos contraceptivos sem hormônios e seus efeitos (leia-se pílulas, adesivos e anéis anticoncepcionais) à disponibilização do DIU pelos planos de saúde e ao fim de alguns mitos, como o de que seria contraindicado para mulheres jovens e sem filhos.
A ginecologista e obstetra Rosana Perin aponta ainda outro fator: uma mudança de postura dos médicos. A recomendação da Organização Mundial da Saúde veio ao encontro de um desejo de muitas pacientes: um método que dispensasse a lembrança diária da pílula e oferecesse.
E aí? Se interessou? Então, vamos ver como funciona na prática.
O DIU é um aparelho pequeno e flexível, em formato de T, que é colocado dentro do útero em procedimento no consultório médico. Atua em diferentes etapas do processo reprodutivo: desde tornar difícil a passagem do espermatozoide até prevenir a implantação do óvulo na parede uterina. Logo após a colocação, pode haver uma sensação de desconforto, seguida de cólicas e sangramentos. Mas geralmente é passageira.
Conversamos com Rosane Perin e a ginecologista e obstetra Clarissa de Andrade Amaral para tirar todas as dúvidas sobre o DIU. Confira:
Indicação
É recomendado para mulheres de qualquer idade, a menos que estejam grávidas, tenham malformações uterinas ou distúrbios como miomas, infecções pélvicas, suspeita de câncer genital ou sangramento anormal. Bom para quem não pode fazer uso de método hormonal. Diferentemente do que costumava-se pensar, não é exclusivo para quem já teve filho e não há restrição para mulheres após o parto.
Convênio ou SUS
A colocação do DIU está prevista na maioria dos planos de saúde, o SUS oferece a inserção gratuita (de cobre). Mas, com a alta demanda, pode estar em falta. Em alguns casos, é a própria paciente que busca o dispositivo e leva até o médico. O custo vai de RS 200 (de cobre) a R$ 700 (hormonal).
Anestesia
O médico precisa pinçar uma parte do útero para que o objeto fique bem colocado, e isso pode ser bem dolorido. Para evitar efeitos colaterais, alguns médicos optam por fazer a colocação com anestesia (por sedação, intravenosa).
Adaptação
No começo, o desconforto pela colocação é seguido de cólicas e sangramentos. Embora o período total de adaptação seja de 180 dias, é normal que o organismo se regularize após cinco ou 15 dias.
Sangramentos e cólicas
Podem durar até o sexto mês, sendo tratados com analgésicos e anti-inflamatórios não esteroides, que inibem o hormônio responsável pela cólica. Se passado esse período persistir a queixa de acne ou oleosidade na pele, vale avaliar a retirada.
Manutenção periódica
Um dos riscos do DIU é que, logo após colocado, ele pode ocasionalmente se deslocar ou ser rejeitado pelo corpo (o que ocorre como exceção, se não estiver na posição certa). Por isso, é preciso fazer exames de manutenção nos três primeiros meses. Ao fazer o exame especular para coleta de exame citopatológico, seu ginecologista pode verificar a presença dos fios.
Com ou sem hormônio
Existem dois tipos, o de cobre e o hormonal. O mais comum é o de cobre, que torna difícil a passagem do espermatozoide e previne a implantação do óvulo na parede uterina. O DIU hormonal libera gradualmente doses baixas de hormônio, também impedindo que o espermatozoide encontre o óvulo. Por ser hormonal, há diminuição de fluxo e duração das menstruações.
Se mudar de ideia
A validade da eficácia do DIU de cobre pode chegar a 10 anos, enquanto o hormonal dura cinco. Mas, se você quiser retirar antes, não há problemas. O ideal é esperar seis meses, pelo menos – tempo em que os efeitos ainda estão se adaptando ao seu corpo. Depois disso, pode ser retirado no consultório, tracionando o dispositivo pelos fios deixados visíveis. Caso eles não sejam alcançados, pode ser necessária a sedação ou retirada em bloco cirúrgico.
Efeitos colaterais
Aumento do fluxo menstrual, sangramento irregular e cólica, principalmente no período menstrual, são mais comuns com DIU de cobre. Já o DIU hormonal pode deixar a paciente sem menstruar (amenorreia), com sangramento em pequena quantidade, e propiciar aparecimento de acne e aumento da oleosidade da pele.
Decisão compartilhada
Se a ideia é diminuir a responsabilidade em relação ao uso da pílula, converse com o seu parceiro sobre o assunto. Ele pode colaborar nesta tomada de decisão, além de ajudar com os custos do processo e dar o suporte na hora da colocação. Fique alerta, entretanto, para o fato de que o DIU não protege contra doenças sexualmente transmissíveis, como a aids.
Preparação
A paciente deve ir ao ginecologista e estar em dia com o exame preventivo do câncer de colo de útero. Para solicitar autorização do convênio ou posto de saúde, é preciso ter ecografia transvaginal e exame de gravidez.
Procedimento
Costuma ser rápido e pode ser feito no consultório ou em hospital, com anestesia ou sem. Recomenda-se o uso de analgésicos antes da colocação. Reserve um turno para o procedimento e outro para o repouso. Alguns médicos recomendam fazer durante o período menstrual (já que o canal cervical se encontra mais amolecido).
Vantagens
Em relação à pílula, o DIU tende a provocar menos efeitos colaterais como dores nas mamas, edemas, falta de libido e dores de cabeça e não necessita de manutenção mensal. Além disso, a taxa de gravidez é baixa: varia entre 0,2 para o hormonal e 0,8 para o de cobre e 0,2 – a pílula tem 0,3%, e a camisinha, 2%, segundo a OMS.