Que tal passar uns dias na Roma Antiga? Ou dar uma banda com os vikings? Quem sabe experimentar um legítimo chá inglês nas décadas de 1910 e 1920 ou sentir a efervescência de Berlim às portas da ascensão do nazismo?
As 10 séries da lista abaixo nos convidam a viajar no tempo, rumo ao passado, graças a um grande trabalho de reconstituição de época, desde o investimento em cenários até os detalhes nos figurinos.
Todas estão disponíveis em plataformas de streaming. Clique nos links se quiser saber mais.
Anos Rebeldes (1992)
Escrita por Gilberto Braga, a minissérie em 20 capítulos se passa no Rio de Janeiro entre 1964 e 1979. A trama retrata a luta contra a ditadura militar a partir do romance entre João Alfredo (Cássio Gabus Mendes) e Maria Lúcia (Malu Mader). Ambos são estudantes do Colégio Pedro II e têm lá suas diferenças: João é engajado com as questões sociais e atua no movimento estudantil, enquanto ela só pensa em ter uma vida sossegada e bem estabelecida. O pai de Maria Lúcia, Orlando Damasceno (Geraldo Del Rey), é um jornalista e membro militante do Partido Comunista.
Na época em que foi ao ar pela primeira vez, em 1992, Anos Rebeldes serviu de inspiração para os jovens caras-pintadas que pediam o impeachment do então presidente Fernando Collor: protestos eram embalados por canções como Alegria, Alegria, de Caetano Veloso, tema de abertura da minissérie. (Globoplay)
Band of Brothers (2001)
A minissérie em 10 episódios se baseia no livro homônimo de Stephen E. Ambrose e tem entre os produtores Steven Spielberg e Tom Hanks (que inclusive dirigiu o quinto capítulo). É uma dramatização da história da Companhia Easy, desde o seu treinamento nos Estados Unidos para a invasão da Normandia até a capitulação da Alemanha na Segunda Guerra Mundial.
Vencedora de seis Emmys, Band of Brothers encontra o equilíbrio entre a grande História e as pequenas vidas de um grupo de soldados. O herói é o tenente Winters (personagem de Damian Lewis), que enfrenta o horror e faz o que é preciso fazer sem perder a sua noção do que seja humano ou correto. (HBO Max)
Roma (2005-2007)
Coproduzida pela HBO, dos EUA, e pela BBC, do Reino Unido, filmada na Itália e com cada temporada (a primeira com 12 episódios, e a segunda, com 10) orçada em US$ 100 milhões, mostra a história da formação do Império Romano pelos olhos de dois soldados, entre os anos 52 antes de Cristo e 30 a.C. O certinho e casado Lucius Vorenus (vivido por Kevin McKidd) e o brigão e mulherengo Titus Pullo (Ray Stevenson) são nossos guias nos conturbados últimos anos do governo de Júlio César (Ciarán Hinds). Os dois acabam conquistando a simpatia de César e se envolvem nas suas reuniões com Cleópatra (Lyndsey Marshal), Marco Antônio (James Purefoy), Brutus (o ótimo Tobias Menzies), Otaviano e outras figuras notórias daquele período.
Roma foi criada por Bruno Heller, John Milius e William J. MacDonald. Embora mantenha a mania hollywoodiana de imprimir sotaque britânico a papéis de época, evita uma série de lugares-comuns. Por exemplo: as ruas não são limpas e organizadas como se via no cinema de antigamente, mas fétidas e tumultuadas. E, ao contrário do que poderia imaginar o espectador de filmes como Calígula (1979) e Gladiador (2000), há bem menos violência e sexo — a força do seriado são suas intrigas políticas. Ao todo, ganhou sete prêmios Emmy — os principais foram os de direção de arte (nas duas temporadas) e fotografia (na segunda). (HBO Max)
Mad Men (2007-2015)
Quatro vezes ganhadora do Emmy de melhor série dramática ao longo de suas sete temporadas (92 episódios), a obra criada por Matthew Weiner tem início na Nova York de 1960, em meio à Era de Ouro da propaganda. O protagonista, o sedutor Don Draper (Jon Hamm), é um publicitário de sucesso na Madison Avenue, endereço das principais agências, que têm entre os clientes marcas famosas como Kodak, Hershey's, Jaguar e Hilton. Sua aparente boa vida esconde algum segredo do passado. O dia a dia no trabalho e na família de Draper — casado com a ex-modelo Betty (January Jones), mãe de seus três filhos — reflete os acontecimentos e as transformações sociais da época: a morte da atriz Marilyn Monroe, os assassinatos do presidente dos EUA John F. Kennedy e do ativista Martin Luther King Jr., a chegada do homem à Lua...
No cenário machista de Mad Men, destacam-se personagens femininas, como Peggy Olson (Elisabeth Moss), que quer ser a primeira redatora da empresa, e a gerente Joan Holloway (Christina Hendricks), que tem um caso com um dos donos da agência, Roger Sterling (John Slattery), desde que era sua secretária. (Globoplay e HBO Max)
Boardwalk Empire (2010-2014)
Criada por Terence Winter, um dos roteiristas de Família Soprano, e produzida pelo cineasta Martin Scorsese, que dirigiu o primeiro episódio, a série é ambientada nos anos 1920, tendo como principal cenário Atlantic City, cidade litorânea no Estado de New Jersey. Seu protagonista, Enoch "Nucky" Thompson, inspirado em uma figura real e magistralmente interpretado por Steve Buscemi, é um dublê de político e gângster. Está envolvido tanto na venda ilegal de uísque — eram os tempos da Lei Seca nos EUA — quanto na especulação imobiliária. Transita entre cadáveres, melindrosas, marginais, corruptos e personagens históricos como Al Capone (Stephen Graham), Arnold Rothstein (Michael Stuhlbarg) e Lucky Luciano (Vincent Piazza).
Com cinco temporadas, 56 episódios e 20 Emmys conquistados, Boardwalk Empire: O Império do Contrabando deixou como legado uma coleção de personagens e atuações memoráveis: o ex-soldado James Darmody (Michael Pitt), a jovem viúva Margaret (Kelly Macdonald), o agente do FBI Nelson Van Alden (Michael Shannon), a dançarina Gillian (Gretchen Mol), o pistoleiro desfigurado Harrow (Jack Huston), o criminoso líder da comunidade negra Chalky White (Michael Kenneth Williams) e o violento mafioso Gyp Rosetti (Bobby Cannavale, prêmio de melhor ator coadjuvante). (HBO Max)
Downton Abbey (2010-2015)
Com seis temporadas e um total de 52 episódios, o drama criado por Julian Fellowes gira em torno da fictícia família Crawley e seus empregados na grande mansão homônima. A história começa no dia seguinte ao naufrágio do Titanic, em abril de 1912, e vai até 1925 (o filme de 2019 se passa em 1927, e um segundo longa-metragem vai estrear em 2022). A recriação de época é sublime, mas não obscurece problemas como estratificação social, preconceitos sexuais e os efeitos da Primeira Guerra Mundial.
No elenco que brinda o espectador com diálogos cifrados, frases de efeito e a fina ironia britânica, destacam-se a veterana Maggie Smith, três vezes premiada com o Emmy de atriz coadjuvante no papel de Violet, uma condessa viúva, e Jim Carter, com quatro indicações ao prêmio de ator coadjuvante na pele do mordomo Charles Carson. (Amazon Prime Video)
Vikings (2013-2020)
A série criada por Michael Hirst é inspirada nas histórias de invasões, comércio e exploração dos nórdicos da Escandinávia medieval, que prosperaram entre o final do século 8 e o começo do século 11 . O personagem principal é o lendário viking Ragnar Lothbrok (encarnado por Travis Fimmel), apresentado como um agricultor que se considera descendente de Odin, idealiza incursões pioneiras à Inglaterra e se torna rei da Dinamarca. Lagertha (Katheryn Winnick) é sua esposa e escudeira, e Rollo (Clive Standen), seu irmão complicado. Ragnar enfrenta a oposição do ex-guerreiro Haraldson (Gabriel Byrne).
Foram seis temporadas, com 79 episódios que fizeram sucesso junto ao público mas provocaram críticas de historiadores por causa de imprecisões — Hirst se defendeu: "Tive de tomar liberdades com os vikings porque ninguém sabe ao certo o que aconteceu na Idade das Trevas. Queremos que as pessoas o assistam. Um relato histórico dos vikings atingiria centenas, talvez milhares, de pessoas. Nós temos que atingir milhões". (Netflix)
Babylon Berlin (2017-)
Considerada a mais cara e ambiciosa série produzida na Alemanha (mais até do que Dark), já teve três temporadas — com 28 episódios no total —, Babylon Berlin é baseada nos romances de Volker Kutscher e dirigida por Tom Tykwer, cineasta de Corra, Lola, Corra (1998) e Perfume (2006). Retrata a efervescência cultural e comportamental em Berlim, coração da então República de Weimar, na primavera de 1929, antes da ascensão do nazismo.
A história policial se mistura com a história de amor de Gereon Rath (Volker Bruch), um inspetor que vai para a capital numa missão secreta, e Charlotte Ritter (Liv Lisa Fries), uma jovem taquígrafa de origem humilde que complementa a renda familiar como garota de programa. (Globoplay)
Kingdom (2019-)
A série elaborada por Eun-hee Kim leva os espectadores para a era da Dinastia Joseon (1392-1897) da Coreia do Sul, com reinos, palácios, clãs, alianças, trajes deslumbrantes e... zumbis! Quando o rei é assolado por uma estranha doença, seu filho, o príncipe Lee Chang (Joo Ji-Hoon), sofre ameaça de traição pela madrasta — a rainha — e seus súditos. Como é típico em produções da Coreia do Sul, Kingdom mostra o abismo social: as cidades pobres passam fome e vivem à beira da miséria, enquanto há prazeres e desperdício em parte do reino.
Atualmente, duas temporadas, somando 13 episódios, estão disponíveis, bem como o filme Kingdom: Ashin of the North (2021), que é um prólogo. (Netflix)
The Underground Railroad: Os Caminhos para a Liberdade (2021)
Concebida por Barry Jenkins, diretor e roteirista de Moonlight, vencedor do Oscar de melhor filme em 2017, a minissérie em 10 episódios é a adaptação do romance homônimo escrito por Colson Whitehead e ganhador, também em 2017, do prêmio Pulitzer. A trama se passa na metade do século 19, antes da Guerra Civil nos EUA (1861-1865), que tinha como principal causa a escravização da população negra — a maioria dos Estados do Sul queria manter, o Norte era contra. Sua protagonista é Cora (interpretada pela sul-africana Thuso Mbedu), uma jovem escrava que, após relutar, tenta fugir de uma fazenda na Geórgia na companhia do íntegro Caesar (Aaron Pierre). No encalço dos dois, partirá o caçador Arnold Ridgeway (Joel Edgerton), tendo ao lado um surpreendente ajudante: Homer (Chase W. Dillon), um menino negro.
A Underground Railroad do título era o nome dado a uma rede secreta de rotas e esconderijos utilizada por negros que buscavam escapar da escravidão. Não tinha trens nem era subterrânea, mas é assim que se apresenta no livro e na minissérie. O quinhão de realismo mágico permite anacronismos como um arranha-céu no Estado da Carolina do Sul. É como se a ferrovia nos lembrasse de que há toda uma história correndo por baixo dos documentos oficiais, há toda uma população que teve sua voz calada pela mão bruta do racismo. Calada ou deturpada: no segundo episódio, um homem branco conduz crianças brancas por um Museu das Maravilhas Naturais, na Carolina do Sul. Ali, a principal atração é a "jornada de transformação" dos africanos trazidos à força de seu continente: de "selvagens que usavam crânios como copos" passaram a "civilizados que bebem xícaras de chá". Por conta disso, os oprimidos estariam gratos. (Amazon Prime Video)