Inspirada pelos 40 anos de Blade Runner: O Caçador de Androides, filme de 1982 que sonhava como seria o mundo e a vida em 2019, a lista de 10 deste fim de semana traz séries que viajam ao futuro. Duas delas, Altered Carbon e Fundação, contam com o trabalho da gaúcha Liciani Vargas nos efeitos visuais. Todos os títulos estão disponíveis em plataformas de streaming.
Fora as restrições orçamentárias e alguma fidelidade nas adaptações de obras literárias, a imaginação não tem limites quando se trata de encenar o porvir.
Como no cinema, nos seriados o amanhã costuma ser um cenário pessimista. Trata-se não de uma profecia, mas de um pesadelo: as distopias permitem reflexões futuristas sobre inquietações contemporâneas.
Black Mirror (2011-)
Com uma sexta temporada já em desenvolvimento, a série do inglês Charlie Brooker é uma antologia de histórias autônomas e ambientadas em um futuro próximo em que as novas tecnologias potencializam anseios, crises, dilemas e vícios da sociedade contemporânea. Em Fifteen Million Merits, dois jovens passam os dias pedalando em bicicletas ergométricas, fechados em salas minúsculas em que as paredes são cobertas por telas, lutando para alcançar uma pontuação que lhes garanta programas de TV melhores, comida artificial e a chance de participar de um reality show. Em The Entire Story of You, as pessoas implantaram um chip atrás da orelha, que lhes permite gravar tudo o que veem e ouvem. Usando um controle remoto, podem reproduzir suas memórias diretamente nos olhos ou em um monitor de vídeo. Em Be Right Back, uma mulher, em luto após o namorado morrer em um acidente, passa a conviver com uma réplica dele, criada graças aos rastros digitais deixados em redes sociais e outros recursos audiovisuais. White Christmas mostra um dispositivo de realidade aumentada implantado no corpo que permite que pessoas sejam " bloqueadas" (ou canceladas, para usar o termo da moda). Em Nosedive, as pessoas avaliam e são avaliadas o tempo todo por suas postagens e atitudes. Hated in the Nation reflete sobre os julgamentos sumários do mundo virtual e os programas de vigilância dos governos. Em Hang the DJ, um aplicativo define o rumo e a duração de cada relacionamento amoroso de seus usuários. (5 temporadas, 22 episódios, mais o filme interativo Bandersnatch, Netflix)
The Expanse (2015-2022)
É a adaptação de uma série literária escrita por Daniel Abraham e Ty Franck (sob o pseudônimo conjunto James S. A. Core) e tem a participação de Mark Fergus. Apresenta a humanidade 200 anos no futuro, lidando com as implicações políticas da expansão da raça humana em colônias espalhadas pelo sistema solar. Três tramas se interligam: o detetive Josephus Miller (Thomas Jane) procura uma jovem desaparecida, Julie Andromeda Mao (Florence Faivre); James Holden (Steven Strait), o oficial do transportador de gelo Canterbury, é envolvido em um trágico acidente que ameaça a precária paz entre os planetas; Chrisjen Avasarala (Shohreh Aghdashloo), a executiva da ONU, trabalha para prevenir a guerra entre Terra e Marte. (6 temporadas, 62 episódios, Amazon Prime Video)
3% (2016-2020)
O Brasil — ainda que por mãos espanholas (as de Pedro Aguilera, formado pela ECA-USP) — também cria distopia. Após um evento apocalíptico, a sociedade brasileira acaba dividida em duas camadas: os que vivem no Maralto, com conforto e bem-estar, e aqueles condenados ao Continente, onde as cidades são destruídas e a miséria e a violência imperam. Para ascender socialmente, os jovens têm apenas uma chance: aos 20 anos, podem participar do Processo (uma analogia da meritocracia), uma seleção rigorosa da qual apenas 3% serão bem-sucedidos. Os principais personagens são interpretados por Bianca Comparato, Vaneza Oliveira, Rodolfo Valente e Zezé Motta. (4 temporadas, 33 episódios, Netflix)
Westworld (2016-)
Baseado no filme homônimo escrito e dirigido por Michael Chrichton em 1973, a série de Lisa Joy e Jonathan Nolan se desenrola em um parque de diversão somente para adultos. Os visitantes deparam com minuciosa ambientação que simula o Velho Oeste dos EUA e podem embarcar na fantasia de duelar com sanguinários pistoleiros e seduzir as mais belas mulheres. Esses personagens são androides, que seguem à risca seus roteiros de encenações. Até que alguns dos anfitriões começam a alcançar a autoconsciência. O elenco principal inclui Anthony Hopkins (Robert Ford, o chefe do parque temático), Ed Harris (o pistoleiro Homem de Preto), Evan Rachel Wood (Dolores Abernathy), Rodrigo Santoro (Hector Escaton), Thandiwe Newton (Maeve Millay) e Jeffrey Wright (Bernard Rose). A quarta temporada estreia no dia 26 de junho. (3 temporadas até agora, 28 episódios, HBO Max)
Altered Carbon (2018-2020)
Criada por Laeta Kalogridis a partir do romance homônimo de Richard K. Morgan, Altered Carbon se passa em 2384, em uma San Francisco conhecida como Bay City. Os avanços tecnológicos permitem digitalizar os padrões de consciência humanos em um dispositivo em forma de disco implantado na coluna vertebral, um "cartucho" que, se não estiver danificado, pode ser reimplantado em outros corpos, orgânicos ou clonados especificamente para esse fim. Com isso, a imortalidade se tornou possível — desde que você tenha dinheiro. Muito dinheiro. Joel Kinnaman interpreta Takeshi Kovacs, um ex-revolucionário que, no passado, tentou sabotar a implementação da tecnologia. No presente, ele é retirado da prisão por um bilionário (James Purefoy) que morreu com um tiro na cabeça, mas foi ressuscitado graças a um backup de sua consciência feito dois dias antes, e agora quer descobrir quem o matou. (2 temporadas, 18 episódios, Netflix)
Perdidos no Espaço (2018-2021)
Criado por Irwin Allen em 1965, o clássico seriado que levou para o futuro as aventuras da família Robinson — nascida em um romance suíço de 1812 — foi repaginado por Matt Sazama e Burk Sharpless. A premissa está mantida: 30 anos à frente do nosso tempo, o casal John (Toby Stephens) e Maureen (Molly Parker) e os filhos Judy, Penny e Will são selecionados para começar a colonização do planeta Alfa Centauro. Com eles na espaçonave Júpiter 2, seguem o piloto Don e o robô inteligente B9. Mas a missão é sabotada por um espião inimigo, o Dr. Smith, que fica preso a bordo, lançando todos numa jornada sem rumo pelos confins das galáxias e tendo rusgas engraçadas com o robô. Na nova versão, Perdidos no Espaço deixa de lado o humor galhofeiro e muda significativamente dois personagens. Smith agora é uma mulher misteriosa (Parker Posey) que se apropriou da identidade do verdadeiro doutor para garantir a fuga para Alfa Centauro, necessidade imposta pela iminente colisão de um asteroide com a Terra. O novo robô é uma supermáquina inteligente formada por um tipo de metal orgânico e polimorfo, ligado a aliens hostis, que se conecta ao esperto Will e dele se torna protetor. (3 temporadas, 30 episódios, Netflix)
O Mandaloriano (2019-)
A trama criada por Jon Favreau se passa entre dois filmes da saga Star Wars: O Retorno de Jedi (1983) e O Despertar da Força (2015). Mas após algum estranhamento provocado por nomes e termos como bezkar e Grande Purgo, The Mandalorian (título original) mostra-se acessível mesmo para neófitos ou desmemoriados.
Trata-se de uma homenagem a obras que inspiraram George Lucas a desenvolver a trilogia inicial: o cinema de caubói e de samurai realizado por John Ford, Sergio Leone, Sam Peckinpah e Akira Kurosawa. Há uma coleção de citações: de Rastros de Ódio (1954) a Meu Ódio Será sua Herança (1969), de Os Sete Samurais (1954) a Yojimbo (1961). Premiada com o Emmy, a trilha sonora alude às clássicas composições de Ennio Morricone para títulos de faroeste. Vivido por Pedro Pascal, o protagonista é um Clint Eastwood intergaláctico, mas em vez de ser um estranho sem nome, é um estranho sem rosto, já que o rígido código de conduta o impede de tirar o capacete. Seu ganha-pão é cruzar fronteiras estelares atrás do que lhe foi encomendado, sejam bandidos perigosos ou criaturas raras — como o bebê Yoda. (2 temporadas até agora, 16 episódios, Disney+)
Expresso do Amanhã (2020-)
Série estadunidense baseada no filme do sul-coreano Bong Joon-ho, que por sua vez adaptou a HQ francesa O Perfuraneve. Na trama de Josh Friedman e Graeme Manson, o que restou da civilização após uma tentativa frustrada de deter o aquecimento global está confinada em um trem condenado a trilhar permanentemente. Os vagões representam a divisão de classes: a elite dispõe de luxos como sauna, os mais pobres precisam fracionar a comida. Quando um assassinato atiça o conflito, Melanie Cavill (Jennifer Connelly), a chefe de "hospitalidade", recruta um rebelde: Andre Layton (Daveed Diggs), o único detetive de homicídios sobrevivente. (3 temporadas até agora, 30 episódios, Netflix)
Raised by Wolves (2020-)
Cineasta de Alien: O Oitavo Passageiro (1979) e de Blade Runner (1982), Ridley Scott é um dos produtores executivos e dirigiu dois episódios desta série criada por Aaron Guzikowski. Dois androides — Pai (interpretado por Abubakar Salim) e Mãe (Amanda Collin) — são encarregados de criar filhos humanos no planeta Kepler- 22b depois que a Terra foi destruída por uma grande guerra. Mas diferenças religiosas ameaçam dilacerar a colônia crescente. (2 temporadas até agora, 18 episódios, HBO Max)
Fundação (2021-)
Versão de Josh Friedman e David S. Goyer para livro de Isaac Asimov que é um pilar da ficção científica. Um grupo de cientistas liderados por Hari Seldon (Jared Harris) prevê por meio da psico-história — mescla de ciências exatas e humanas — o inevitável colapso de um império galáctico comandando por Brother Day (Lee Pace), um dos tantos clones de Cleon I. Seldon propõe um plano de contingência para reduzir o período de barbárie que se seguiria à derrocada, mas sua "profecia estatística" desagrada aos poderosos e ele acaba sendo acusado de traidor. (1 temporada até agora, 10 episódios, Apple TV+)
Bônus: Star Trek: Strange New Worlds (2022-)
Eu não poderia deixar o universo de Jornada nas Estrelas fora de uma lista sobre séries futuristas. Criada por Akiva Goldsman, Alex Kurtzman e Jenny Lumet, Star Trek: Strange New Worlds é o 12º título na franquia iniciada em 1966 por Gene Roddenberry. No século 23, uma década antes das aventuras do capitão Kirk, o também capitão Christopher Pike (interpretado por Anson Mount) e a tripulação da nave estelar USS Enterprise — incluindo Spock (Ethan Peck) e Uhura (Celia Rose Gooding) — exploram novos mundos. A série retoma a narrativa episódica do original, ou seja, traz uma trama diferente a cada semana. (1 temporada até agora, 10 episódios — o sexto foi ao ar no dia 9 de junho —, Paramount+)