Não é de hoje que mulheres estão mandando ver no cinema, mas finalmente agora estão começando a ganhar o reconhecimento que merecem.
No Globo de Ouro, por exemplo, havia três diretoras entre os cinco concorrentes da categoria: a chinesa Chloé Zhao, que venceu por Nomadland (também escolhido como melhor filme: drama), a norte-americana Regina King (Uma Noite em Miami) e a inglesa Emerald Fennell (Bela Vingança). Segundo o site Metacritic, que compila críticas dos Estados Unidos, do Canadá e do Reino Unido, três dos quatro títulos mais bem avaliados de 2020 tinham assinatura feminina: Nomadland (o primeiro colocado), First Cow (segundo lugar), de Kelly Reichardt, e Nunca, Raramente, Às Vezes, Sempre (quarto), de Eliza Hittman.
Para marcar o Dia Internacional da Mulher, nesta segunda-feira (8), vou indicar filmes de oito diretoras, todos recentes, premiados e disponíveis em plataformas de streaming. Pode-se fazer uma pequena volta ao mundo, passando por Estados Unidos, França, Áustria. China e Senegal antes de chegar ao Brasil. Clique nos links para saber mais sobre cada título.
Nunca, Raramente, Às Vezes, Sempre (2020)
A diretora e roteirista norte-americana Eliza Hittman ganhou o Urso de Prata no Festival de Berlim por Nunca, Raramente, Às Vezes, Sempre (Apple TV, Now, Google Play e YouTube). É um filme delicado mas também contundente sobre uma adolescente de uma cidadezinha que, após descobrir que está grávida, tenta fazer um aborto. Mas não é "só" um filme sobre aborto: é também sobre a violência cotidiana que garotas como a protagonista e sua prima sofrem.
Adoráveis Mulheres (2019)
Uma das únicas cinco mulheres na história indicadas ao Oscar de melhor direção (por Lady Bird, de 2017), a norte-americana Greta Gerwig realçou o subtexto feminista na sétima adaptação cinematográfica do romance Mulherzinhas (1868), de Louisa May Alcott.
Em um filme com atuações (Saoirse Ronan, Florence Pugh, Laura Dern, Meryl Streep...), música e vestuário arrebatadores, um dos grandes acertos foi a mudança na estrutura cronológica do livro. A narrativa se dá em dois tempos intercalados, o do presente e o de sete anos atrás. Os flashbacks comparam e opõem situações e emoções da narrativa corrente. Adoráveis Mulheres (HBO Go, Apple TV, Google Play e YouTube) concorreu a seis Oscar (levou o de figurino) e foi eleito um dos 10 filmes do ano pelo American Film Institute.
Retrato de uma Jovem em Chamas (2019)
Em cartaz no Telecine, Apple TV, Now, Google Play e YouTube, Retrato de uma Jovem em Chamas valeu à cineasta francesa Céline Sciamma o troféu de melhor roteiro no Festival de Cannes. No filme, uma pintora, em 1770, é contratada para fazer o retrato de uma jovem que vai se casar com um cavalheiro que ela nem conhece. Mas a artista e a musa acabam se apaixonando. Convém avisar que o ritmo do filme é contemplativo, o que, para algumas pessoas, pode significar lento. E também é uma obra bastante silenciosa. Mas nas únicas duas cenas com música, nossa, o efeito é hipnotizante!
O Chão Sob meus Pés (2019)
Em O Chão Sob meus Pés (disponível no Now), a diretora austríaca Maria Kreutzer aborda a pressão que as mulheres sofrem no ambiente de trabalho, fazendo um drama com ares de suspense de Alfred Hitchcock. A personagem principal é uma executiva que esconde um segredo duplo: o namoro com uma superior e a existência de uma irmã mais velha, que é esquizofrênica. No papel da protagonista, Valerie Pachner ganhou o prêmio de melhor atriz no Festival de Guadalajara, no México.
One Child Nation (2019)
Nascidas na China e formadas em cinema nos Estados Unidos, Nanfu Wang e Jialing Zhang ganharam o Grande Prêmio do Júri no Festival de Sundance com este documentário. O filme é sobre a política do filho único implementada em seu país natal de 1979 a 2015. As diretoras recuperam a origem dessa medida (iniciada quando a população chegou à marca de 1 bilhão e a fome tornou-se um fantasma coletivo), as propagandas ameaçadoras do governo e o trágico destino de muitas mulheres e crianças — a própria Nanfu é uma espécie de sobrevivente. One Child Nation pode ser visto no Amazon Prime Video.
Atlantique (2019)
A diretora Mati Diop é francesa de nascença, mas tem origens senegalesas e, em Atlantique, conta uma história que se passa no Senegal. Atlantique (na Netflix) recebeu o Prêmio do Júri no Festival de Cannes e faz uma mistura de romance, crítica social e pitadas generosas do horror e do cinema fantástico. É um casamento feliz entre realismo mágico e tom de documentário a trama de uma garota que está prometida a um homem rico, mas se apaixona por um rapaz pobre que vai tentar migrar clandestinamente para a Europa.
Babenco (2020)
Disponível em Apple TV, Now, Google Play e YouTube, Babenco — Alguém Tem que Ouvir o Coração e Dizer: Parou venceu o prêmio de melhor documentário no Festival de Veneza. É o primeiro filme dirigido pela atriz gaúcha Bárbara Paz, que fez uma linda declaração de amor tanto ao marido, o cineasta Héctor Babenco, morto em 2016, quanto ao próprio ofício de fazer cinema.
Aos Olhos de Ernesto (2019)
Premiada pela crítica na Mostra Internacional de São Paulo e pelo público no Festival de Punta del Este, a comédia dramática Aos Olhos de Ernesto (Now, Google Play e YouTube) retoma temas marcantes na carreira da cineasta gaúcha Ana Luiza Azevedo: os desafios e as delícias da velhice, o apagamento ou o apego às memórias, os sonhos adormecidos ou pulsantes e o conflito de gerações. O olhar afetuoso é estendido ao cenário, uma Porto Alegre que não é a dos cartões-postais e que nunca esteve tão próxima de Buenos Aires e Montevidéu.