A reação de bolsa, dólar e juros futuros à PEC da Transição e a declarações do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, tem sido atribuída a um suposto bolsonarismo do mercado financeiro, que não teria reagido da mesma forma em relação ao atual presidente.
Embora existam muitos simpatizantes do atual presidente entre agentes do mercado, a ideologia dominante é uma só: ganhar dinheiro. Quando iniciativas do atual governo ameaçaram elevar o endividamento, bolsa, dólar e juros futuros reagiram mal. Também existe a percepção equivocada de que esses momentos não foram devidamente registrados, como são agora, mas todos tiveram o devido destaque na imprensa.
Uma das reações mais intensas também teve relação com programas sociais: ocorreu em 19 de outubro de 2021, quando Bolsonaro anunciou que queria levar o Auxílio Brasil para R$ 400, sem previsão orçamentária e com furo no teto. E foi uma reação mais intensa do que qualquer que tenha havido a Lula: a bolsa caiu mais de 3% e o dólar chegou a R$ 5,61. Para comparar, agora, a máxima cotação no câmbio foi de R$ 5,53.
A concretização do anúncio gerou outro período de forte reação do mercado, como a coluna registrou no início de julho. Em 14 de julho, dia seguinte à aprovação da PEC Kamikaze , que liberou R$ 41,2 bilhões do teto de gastos para aumentar o Auxílio Brasil de R$ 400 para R$ 600, além de ajuda a caminhoneiros autônomos, taxistas, consumidores de gás de baixa renda, transporte público e agricultura familiar, a bolsa atingiu o menor patamar em pontos (96 mil) do ano. Inclusive, até agora.
Para comparar, a bolsa fechou, na última sexta-feira (18) em 108.870 pontos, mesmo após perdas de 3% ao longo da semana. Ou seja, ao menos se for considerado o nível de pontuação da bolsa, havia maior reprovação às iniciativa de Bolsonaro do que à PEC da Transição de Lula. Para facilitar o entendimento, o Ibovespa, principal índice, é medido em pontos. É a perda ou ganho desses pontos que define se a bolsa cai ou sobe.
E o mercado não reagiu mal só quando o atual presidente - anda ocupa o cargo, apesar da aparente inação - fez movimentos de natureza eleitoreira. Na semana que antecedeu o 7 de Setembro de 2021, quando havia claros sinais de que Bolsonaro elevaria o tom das ameaças antidemocráticas, a bolsa perdeu 3,1% em relação à anterior, como registrou a coluna.
No dia seguinte, quando Bolsonaro foi pressionado a recuar, investidores e especuladores também reagiram, desta vez positivamente. Em pesquisa recente no mercado financeiro, como também a coluna mostrou, foi apontado o maior risco associado ao incumbente: o institucional.
Nesta segunda-feira (21), apesar do clima negativo no Exterior, com bolsas europeias e a de Nova York operando no vermelho, os negócios com ações abriram com alta e o dólar recua no Brasil. O foco está na PEC da Transição, depois do discurso de responsabilidade fiscal de Lula em Portugal e com ao menos duas alternativas em debate: a formulada por três economistas, que já está com os presidentes da Câmara e do Senado, e a do senador Alessandro Vieira (Cidadania-PSDB), que propõe deixar fora do teto apenas o complemento para garantir um benefício mínimo de R$ 600 no Bolsa Família e o pagamento de R$ 150 adicionais para cada criança abaixo de seis anos.