Em meio a crescentes preocupações do mercado com a situação das contas públicas do Brasil, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva voltou a afirmar que defende a responsabilidade fiscal, mas apoiou gastos que façam o Brasil voltar a crescer.
— Nós sabemos que temos que ter responsabilidade fiscal. Sabemos que não podemos gastar tudo o que a gente ganha. Mas sabemos também que nós podemos gastar para fazer alguma coisa que tenha rentabilidade para fazer o país crescer, melhorar do ponto de vista logístico — disse neste sábado (19) em Lisboa.
Lula defendeu um governo mais diverso, com mais gente da sociedade e de outros partidos.
— O governo não pode ser só do Partido dos Trabalhadores — afirmou. — Nós vamos recuperar este país — disse ao encerrar seu discurso em um auditório do Instituto Universitário de Lisboa (Iscte).
Na sexta-feira (18), em seu primeiro dia de visita a Portugal, Lula também falou do tema fiscal, em uma semana marcada por estresse no mercado financeiro por causa da preocupação com o aumento de gastos em seu futuro governo. O petista disse não haver nenhuma razão para medo.
— Ninguém tem autoridade para falar de política fiscal comigo — disse o petista.
Lula destacou que em todos os seus anos de governo o País fez superávit primário. O presidente eleito reiterou que o país voltará a ser responsável do ponto de vista fiscal "sem precisar atender tudo que o sistema financeiro quer".
"Bolsonarismo está vivo"
No discurso de cerca de 30 minutos diante de membros da comunidade brasileira em Lisboa, Lula defendeu a democracia, a responsabilidade fiscal e investimentos em educação.
— A gente derrotou o Bolsonaro nas eleições, mas o radicalismo, a ignorância e o bolsonarismo ainda estão vivos e precisamos derrotá-los — disse à plateia reunida no auditório do Iscte.
— Sei que vou pegar um País com dificuldade — afirmou o presidente eleito, defendendo o combate à fome. — A fome é assustadora.
O presidente eleito também falou em diversos momentos sobre a necessidade de investir em educação.
— Não existe nada para garantir mais igualdade do que educação — disse ele. — Estudar é o investimento mais extraordinário.
O petista falou ainda sobre as redes sociais em seu discurso, destacando que é um lugar que se transformou em uma "fábrica de mentiras", que tem "muito mau caratismo, muita gente do mal", e prometeu que vai derrotar o bolsonarismo "sem usar os métodos que eles usaram contra nós".
— Não queremos perseguição, violência, queremos um país em paz — disse, pedindo que seus eleitores não briguem com fanáticos que os xinguem na rua.
— A democracia não é um pacto de silêncio, ela é um movimento — afirmou Lula. — Eu perdi três eleições e cada eleição que eu perdi eu voltava para casa e me preparava para a outra — disse o petista, destacando que os bolsonaristas não souberam perder. — A democracia é tão grande que temos até um grupo de bolsonaristas gritando.
— Queremos muito pouco, apenas o que é essencial, o que está na Bíblia, na nossa Constituição, na declaração universal dos direitos humanos — afirmou Lula, em meio a aplausos. O discurso foi transmitido ao vivo pelas redes sociais do petista.
Lula disse que o Brasil, com sua vitória, voltou a ganhar importância na comunidade internacional, o que foi "sentido na COP27".
— O Brasil se dá com todo mundo e todo mundo gosta do Brasil, e de repente esse país ficou isolado — completou.
Lula disse que Jair Bolsonaro não recebeu nenhum presidente em Brasília e não foi convidado para lugar nenhum no Exterior.
— Ele foi uma vez na Rússia. Ficou implorando que alguém fosse ao Brasil.