A divulgação de uma nota em que o presidente Jair Bolsonaro praticamente se retrata das declarações golpistas de 7 de Setembro fez a bolsa dar um pinote nesta quinta-feira (9).
No documento de 10 pontos assinado pelo presidente, o de número 7 afirma "reitero meu respeito pelas instituições da República, forças motoras que ajudam a governar o país". O Ibovespa, que trafegava em 112,5 mil pontos, decolou para 115,2 mil, chegou a alcançar 116,3 mil pontos para voltar a se acomodar no patamar de 115,2 mil.
A nota foi publicada depois de uma reunião de Bolsonaro com o ex-presidente Michel Temer, responsável pela indicação de Alexandre de Moraes ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Desde a quarta-feira (8), day after das manifestações golpistas de Bolsonaro no 7 de setembro, o mercado financeiro acumulava perdas. No setor empresarial, estavam acesos todos os sinais amarelos, diante da constatação de que, no clima criado por Bolsonaro, a agenda econômica iria "para o brejo".
No encerramento, a bolsa fechou com alta de 1,72%, em 115.360 pontos. O "efeito alívio" também contagiou positivamente o dólar, que recuou 1,85%, para R$ 5,227. A grande dúvida no mercado financeiro e no mundo empresarial, no final do dia, era se, desta vez, Bolsonaro vai realmente "se manter dentro das quatro linhas".
— Bolsonaro tem uma estratégia de confronto, mas é uma estratégia não linear. É como a gente viu hoje: ele estica a corda, recua. Usa para manter os 20% de apoiadores, que o trouxeram até aqui e podem levá-lo ao segundo turno. Não vemos qualquer risco de ruptura, nem de impeachment ou mudança de regime político. É só discurso, mas que vai trazer volatilidade — afirma Roberto Padovani, economista-chefe do Banco Safra.
— A situação estava tão azeda que só um recuo por parte do presidente poderia amenizar. E hoje aconteceu isso, amenizou um pouco. Não que tenha abandonado os planos dele, engana-se quem acredita. Mas o mercado pode ter uns dias de recuperação. A queda foi dura ontem (quarta-feira, 8) — disse Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating.
Nem entre os políticos há muita segurança sobre a solidez do recuo. Vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos definiu assim a situação em um tuíte:
— Tenho clareza que não será o presidente Bolsonaro capaz de dar respostas ao desemprego, à fome e à inflação, mas quando publica uma nota de recuo pelo menos para de atrapalhar.
O que ficou claro, com a reação de mercado, é o peso de Bolsonaro na atual crise da economia. O presidente não controla preços internacionais, como o do petróleo, mas tem muita influência no câmbio, ou seja, caso não contribua para a incerteza pode, sim, ajudar a baixar a inflação e reduzir os problemas reais da economia.
Leia a íntegra da nota
Declaração à Nação
No instante em que o país se encontra dividido entre instituições é meu dever, como Presidente da República, vir a público para dizer:
1. Nunca tive nenhuma intenção de agredir quaisquer dos Poderes. A harmonia entre eles não é vontade minha, mas determinação constitucional que todos, sem exceção, devem respeitar.
2. Sei que boa parte dessas divergências decorrem de conflitos de entendimento acerca das decisões adotadas pelo Ministro Alexandre de Moraes no âmbito do inquérito das fake news.
3. Mas na vida pública as pessoas que exercem o poder, não têm o direito de “esticar a corda”, a ponto de prejudicar a vida dos brasileiros e sua economia.
4. Por isso quero declarar que minhas palavras, por vezes contundentes, decorreram do calor do momento e dos embates que sempre visaram o bem comum.
5. Em que pesem suas qualidades como jurista e professor, existem naturais divergências em algumas decisões do Ministro Alexandre de Moraes.
6. Sendo assim, essas questões devem ser resolvidas por medidas judiciais que serão tomadas de forma a assegurar a observância dos direitos e garantias fundamentais previsto no Art 5º da Constituição Federal.
7. Reitero meu respeito pelas instituições da República, forças motoras que ajudam a governar o país.
8. Democracia é isso: Executivo, Legislativo e Judiciário trabalhando juntos em favor do povo e todos respeitando a Constituição.
9. Sempre estive disposto a manter diálogo permanente com os demais Poderes pela manutenção da harmonia e independência entre eles.
10. Finalmente, quero registrar e agradecer o extraordinário apoio do povo brasileiro, com quem alinho meus princípios e valores, e conduzo os destinos do nosso Brasil.