Foi depois de ouvir do presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Luís Roberto Barroso, dizer que lhe faltava compostura que o presidente Jair Bolsonaro, enfim, fez o primeiro movimento para tentar reduzir o impacto da crise que ajudou a fomentar com seus discursos no 7 de setembro. A declaração à nação divulgada às 16h25min desta quinta-feira (9) não tem o peso de uma fala ao microfone, mas o remendo surtiu efeito no mercado financeiro. Minutos após a divulgação, a Bolsa, que na véspera caíra quase 4%, deu um salto e às 17h05min, subia 1,77%. O efeito só será duradouro se Bolsonaro levar a nota a sério e mudar o comportamento.
O estilo do texto em nada lembra o Bolsonaro da Avenida Paulista ou do carro de som na Praça dos Três Poderes, quando chamou o ministro Alexandre de Moraes de canalha, ameaçou descumprir decisões judiciais e admoestou o Supremo Tribunal Federal. É uma nota polida, quase asséptica, mas que representa um passo atrás e justifica as manchetes dos principais sites de notícias: Bolsonaro recuou.
O texto, soube-se pelo próprio autor, em entrevista à CNN, foi redigido pelo ex-presidente Michel Temer, que vestiu virtualmente o macacão de bombeiro sobre o terno bem cortado. Foi depois de uma conversa entre os dois que o Palácio do Planalto divulgou a nota na qual Bolsonaro diz que nunca teve intenção de agredir quaisquer dos Poderes. Dos 10 pontos, o 4 é o que mais claramente caracteriza o recuo: “Por isso quero declarar que minhas palavras, por vezes contundentes, decorreram do calor do momento e dos embates que sempre visaram o bem comum”.
No item anterior, a nota afirma: “Mas na vida pública as pessoas que exercem o poder, não têm o direito de 'esticar a corda', a ponto de prejudicar a vida dos brasileiros e sua economia”.
Foi isso o que se viu na terça-feira e que pontuou os comentários da maioria absoluta dos analistas: com seus arroubos, Bolsonaro estava agradando os radicais que adoram bravatas e afugentando investidores. A alta do dólar e a queda da Bolsa no 8 de setembro falam por si.
Confira a íntegra da nota:
“Nota Oficial - Presidente Jair Bolsonaro - 09/09/2021
Declaração à Nação
No instante em que o país se encontra dividido entre instituições é meu dever, como Presidente da República, vir a público para dizer:
1. Nunca tive nenhuma intenção de agredir quaisquer dos Poderes. A harmonia entre eles não é vontade minha, mas determinação constitucional que todos, sem exceção, devem respeitar.
2. Sei que boa parte dessas divergências decorrem de conflitos de entendimento acerca das decisões adotadas pelo Ministro Alexandre de Moraes no âmbito do inquérito das fake news.
3. Mas na vida pública as pessoas que exercem o poder, não têm o direito de “esticar a corda”, a ponto de prejudicar a vida dos brasileiros e sua economia.
4. Por isso quero declarar que minhas palavras, por vezes contundentes, decorreram do calor do momento e dos embates que sempre visaram o bem comum.
5. Em que pesem suas qualidades como jurista e professor, existem naturais divergências em algumas decisões do Ministro Alexandre de Moraes.
6. Sendo assim, essas questões devem ser resolvidas por medidas judiciais que serão tomadas de forma a assegurar a observância dos direitos e garantias fundamentais previsto no Art 5º da Constituição Federal.
7. Reitero meu respeito pelas instituições da República, forças motoras que ajudam a governar o país.
8. Democracia é isso: Executivo, Legislativo e Judiciário trabalhando juntos em favor do povo e todos respeitando a Constituição.
9. Sempre estive disposto a manter diálogo permanente com os demais Poderes pela manutenção da harmonia e independência entre eles.
10. Finalmente, quero registrar e agradecer o extraordinário apoio do povo brasileiro, com quem alinho meus princípios e valores, e conduzo os destinos do nosso Brasil.
DEUS, PÁTRIA, FAMÍLIA
Jair Bolsonaro
Presidente da República federativa do Brasil”