A despeito do tom duro do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), no início da tarde de quarta-feira (8), que se comprometeu a dar um "basta a essa a escalada em um infinito looping negativo", em relação à manifestação golpista de Jair Bolsonaro na véspera, no empresariado a percepção é de que "a pauta econômica foi para o brejo".
Um interlocutor de várias entidades empresariais nacionais descreveu à coluna que a manhã desta quarta-feira (8) foi de "muita conversa". Outro disse que o mantra era "ouvir tudo, não falar nada". Mas a percepção dominante é de que a pauta econômica "foi para o brejo" depois do mais recente degrau escalado na retórica antidemocrática de Bolsonaro .
O comportamento do mercado financeiro era previsível. No início da tarde, a bolsa caía 2,4%, para 115.041 pontos, e o dólar subia 2,29%, encostando em R$ 5,30. Parte é a aversão ao risco herdada da terça-feira (7) nos Estados Unidos e na Europa em decorrência da preocupação com a variante delta do coronavírus.
Mas a maior parte, especialmente no dólar, é reflexo direto da camada reforçada extra de incerteza que o presidente abriu com seu anúncio de cometimento de crime de responsabilidade, ao avisar que não acatará decisões judiciais.
A coluna quis saber o que compreende a pauta econômica que "foi para o brejo", e a resposta foi uma lista extensa: reforma administrativa, precatórios, mudança no Bolsa Família, reforma do Imposto de Renda, novos marcos regulatórios e até o orçamento de 2022. Embora tenha caracterizado o discurso de Bolsonaro como "eterno palanque" que, agravado por outras manifestações, "deixaram de ser um elemento virtual e passaram a impactar o dia a dia do Brasil de verdade", o presidente da Câmara passou a ser chamado, até nos meios empresariais, de "Arthur Lero".
Embora o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, tenha sido mais incisivo e afirmado que "se o desprezo às decisões judiciais ocorre por iniciativa do chefe de qualquer dos poderes, essa atitude, além de representar atentado à democracia, configura crime de responsabilidade, a ser analisado pelo Congresso Nacional", a caneta está na mão de Lero, quer dizer, Lira. Além disso, ainda há, entre os empresários, um grande contingente de bolsonaristas.
Parte do empresariado gostaria de um avanço na linha do "parlamentarismo branco", com Câmara e Senado atuando na aprovação de medidas mesmo sob o ruído das declarações presidenciais. No entanto, os mais familiarizados com a liturgia do poder — e que já estiveram muito próximos de Bolsonaro — ponderam que um parlamentarismo branco demandaria tempo e "exigiria negociação com quem não quer negociar". Conforme essa linha de raciocínio, sem todos os poderes estarem "na mesma página", nada vai acontecer.
Com variações, a perspectiva na área econômica é de estagnação nas decisões que podem amenizar problemas concretos deste momento, para além da família Bolsonaro. Além de "foi para o brejo", outra expressão que a coluna ouviu foi "banho-maria", que é uma descrição mais amena do mesmo atolamento. Em uma manifestação de exasperação, a coluna ouviu:
— Nada existe que não possa ser piorado.